quarta-feira, 7 de maio de 2025

A (minha) Introdução à Gestão - Parte VI

 

PARTE 6 – A ESTRATÉGIA

6.1. Introdução

A estratégia é o elemento orientador de toda a atividade organizacional, determinando o posicionamento e a forma como a organização interage com o seu ambiente. A sua relevância tem vindo a acentuar-se num mundo caracterizado por mudanças rápidas, globalização, avanços tecnológicos e intensificação da concorrência. A formulação estratégica tornou-se, por isso, um imperativo de gestão racional e adaptativa.

Segundo Marques (1996), a estratégia representa um “jogo” racional de escolhas e decisões, que exige capacidade analítica, visão prospetiva e habilidade política. A sua função não é apenas planear o futuro, mas dar-lhe forma, articulando a visão, os objetivos e os meios de forma coerente e sustentada.

6.2. Definição e Evolução do Conceito de Estratégia

A palavra "estratégia" tem origem militar, mas a sua apropriação pelo mundo empresarial trouxe-lhe novos significados. A partir da década de 1960, autores como Chandler (1962) definiram-na como a “determinação dos objetivos de longo prazo de uma empresa, bem como a adoção dos cursos de ação e a alocação dos recursos necessários para alcançar esses objetivos”.

Mintzberg (2009), por seu lado, critica a visão excessivamente racional e planeada da estratégia, propondo uma tipologia que a define segundo cinco perspetivas: estratégia como plano, padrão, posição, perspetiva e pretexto (os “5 Ps” da estratégia). Esta abordagem valoriza também a dimensão emergente da estratégia, que resulta de aprendizagens progressivas e adaptações contínuas.

6.3. Importância da Estratégia na Gestão

A estratégia proporciona direção e consistência às decisões organizacionais, orientando os recursos e capacidades disponíveis na prossecução de uma missão comum. Entre os seus principais contributos destacam-se:

  • A definição de uma identidade organizacional clara (missão, visão, valores);
  • A antecipação de ameaças e aproveitamento de oportunidades;
  • A construção de vantagens competitivas sustentáveis;
  • A integração das diversas áreas funcionais num plano coerente;
  • A promoção da inovação e diferenciação no mercado.

Teixeira (2005) reforça que a estratégia é o meio pelo qual a organização responde, de forma sistemática e consciente, aos desafios do ambiente externo, transformando incerteza em decisão.

6.4. Fases do Processo Estratégico

O processo estratégico é composto por quatro grandes fases:

6.4.1. Análise Estratégica

Implica o diagnóstico interno (recursos, competências, estrutura, cultura) e externo (mercado, concorrência, ambiente económico, político, tecnológico, etc.). Entre os instrumentos mais utilizados estão:

  • SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) – que permite identificar sinergias e vulnerabilidades;
  • PESTEL – útil para analisar as forças macroambientais;
  • Cinco Forças de Porter – para avaliar a atratividade de um setor;
  • Matriz BCG – que permite classificar produtos/unidades de negócio segundo crescimento e quota de mercado.

Baranger et al. (1985) sublinham a importância de articular as análises quantitativas (dados financeiros, quota de mercado, produtividade) com análises qualitativas (reputação, competências-chave, liderança, cultura).

6.4.2. Formulação Estratégica

Com base na análise, formulam-se os objetivos estratégicos e os caminhos para os alcançar. A formulação pode seguir diferentes abordagens:

  • Top-down, centrada nos órgãos de direção;
  • Bottom-up, incorporando contributos das unidades operacionais;
  • Iterativa, como propõe Mintzberg, num processo contínuo de ajuste e aprendizagem.

Decisões críticas nesta fase incluem: penetração em novos mercados, inovação, alianças estratégicas, integração vertical ou horizontal, digitalização, entre outras.

6.4.3. Implementação Estratégica

A melhor estratégia pode falhar se não for bem implementada. A execução requer:

  • Envolvimento da liderança e comunicação eficaz;
  • Adequação da estrutura organizacional à estratégia;
  • Acompanhamento contínuo por indicadores de desempenho;
  • Desenvolvimento de competências estratégicas nos recursos humanos.

Segundo Lisboa et al. (2004), a cultura organizacional pode ser um facilitador ou um obstáculo à mudança estratégica. É fundamental que os valores, práticas e comportamentos estejam alinhados com os novos rumos definidos.

6.4.4. Avaliação e Controlo Estratégico

A avaliação estratégica não se limita ao cumprimento de objetivos financeiros. Inclui dimensões como inovação, satisfação dos clientes, aprendizagem organizacional e responsabilidade social.

Instrumentos como o Balanced Scorecard (Kaplan & Norton, 1996) permitem uma avaliação multidimensional, integrando indicadores financeiros e não financeiros.

6.5. Escolhas Estratégicas e Tipos de Estratégia

As organizações podem adotar diferentes tipos de estratégia consoante os seus recursos, o setor em que operam e o seu posicionamento:

  • Crescimento: expansão para novos mercados ou produtos;
  • Estabilização: manutenção da posição atual;
  • Redução: desinvestimento ou retração;
  • Diferenciação: foco na qualidade, marca ou inovação;
  • Liderança de custos: foco na eficiência e preços baixos;
  • Enfoque (nichos de mercado): especialização num segmento específico.

Porter (1980) sustenta que a coerência estratégica entre objetivos, estrutura e operações é essencial para evitar a “estratégia presa a meio caminho”, que conduz à ineficiência.

6.6. Estratégia como Vantagem Competitiva Sustentável

A construção de uma vantagem competitiva implica:

  • Exploração de recursos valiosos, raros, inimitáveis e insubstituíveis (teoria VRIO);
  • Capacidades dinâmicas que permitam adaptar e renovar competências (Teece, Pisano & Shuen, 1997);
  • Inovação organizacional, tecnológica e comercial;
  • Diferenciação percebida pelo cliente.

Bueno & Morcillo (1993) referem que a sustentabilidade da vantagem competitiva depende da capacidade da organização para gerar valor de forma contínua e adaptativa, mantendo-se à frente da concorrência.

6.7. Estratégia em Contextos Turbulentos

Num mundo marcado por incertezas e mudanças rápidas, a estratégia deve assumir um caráter dinâmico, aberto à experimentação e aprendizagem constante. Mintzberg (2009) afirma que as melhores estratégias não resultam apenas de análise, mas de intuição, experiência e interpretação contextual.

Neste sentido, o pensamento estratégico contemporâneo valoriza:

  • Flexibilidade organizacional;
  • Estratégias emergentes e adaptativas;
  • Gestão de conhecimento e inovação;
  • Inteligência competitiva e vigilância estratégica.

6.8. Conclusão

A estratégia é o eixo integrador de toda a gestão organizacional. Através dela, as organizações definem os seus objetivos de longo prazo, estabelecem o seu posicionamento e mobilizam os seus recursos para alcançar sucesso sustentável. Mais do que um plano, a estratégia é um processo vivo, que exige capacidade de análise, criatividade, liderança e adaptação.

Num cenário empresarial volátil, a vantagem está do lado das organizações que não apenas planeiam bem, mas que aprendem, inovam e se reinventam estrategicamente.


Bibliografia

Baranger, P., Helfer, P., Bruslerie, H., Orsoni, J., & Peretti, J. M. (1985). Gestão: As funções da empresa. Lisboa: Edições Sílabo.
Bueno, E., & Morcillo, P. (1993). La Dirección Eficiente (2.ª ed.). Madrid: Ediciones Pirámide.
Chandler, A. D. (1962). Strategy and Structure: Chapters in the History of the American Industrial Enterprise. MIT Press.
Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (1996). The Balanced Scorecard: Translating Strategy into Action.
Boston: Harvard Business Press.
Lisboa, J., Coelho, A., Coelho, F., & Almeida, F. (2004). Introdução à Gestão das Organizações. Porto: Vida Económica.
Marques, M. P. (1996). O Jogo Estratégico na Gestão. Lisboa: Editora Difel.
Mintzberg, H. (2009). Managing. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers, Inc.
Porter, M. E. (1980). Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors.
Free Press.
Teixeira, S. (2005). Gestão das Organizações (2.ª ed.). Lisboa: McGraw-Hill.
Teece, D. J., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic Capabilities and Strategic Management. Strategic Management Journal, 18(7), 509–533.

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