PARTE 1: INTRODUÇÃO
1. A Função de Gestão: Entre
a Técnica, a Ética e o Desempenho Organizacional
A
gestão constitui uma função vital nas organizações modernas, desempenhando um
papel central na coordenação de recursos, definição de estratégias e promoção
de resultados sustentáveis. Contudo, a eficácia da gestão não pode ser avaliada
apenas em termos de objetivos alcançados ou de produtividade. Como defendem
Chiavenato (2000) e Teixeira (2011), a verdadeira excelência na gestão reside
no equilíbrio entre eficácia, eficiência e
responsabilidade ética.
1.1. Conceitos Fundamentais: Eficiência, Eficácia e Ética na Gestão
Um
dos principais dilemas da prática de gestão reside na tensão entre eficiência e eficácia, dois conceitos
fundamentais para compreender a racionalidade das organizações:
- Eficiência diz respeito à
relação entre os meios utilizados e os resultados obtidos. Um gestor
eficiente é aquele que faz
as coisas da forma certa, maximizando os recursos
disponíveis com o mínimo de desperdício.
- Eficácia, por sua vez,
refere-se à capacidade
de atingir os objetivos propostos. Um gestor eficaz faz as coisas certas, ou
seja, persegue os fins adequados.
Como
sublinha Drucker (1999), “não há nada mais inútil do que fazer com grande
eficiência algo que nem sequer devia ser feito”. Por isso, o desafio da gestão
contemporânea é conciliar eficiência operacional com eficácia estratégica e
coerência ética.
Teixeira
(2014) acrescenta que esta tríade — eficácia, eficiência e ética — deve ser
vista como dimensão integrada da racionalidade prática
do gestor, que atua não apenas como técnico, mas como decisor moral e político
dentro da organização.
1.2. A Evolução da Função de Gestão: Da Técnica à Práxis Ética
A
função de gestão evoluiu de forma significativa ao longo do século XX, passando
de uma abordagem centrada na produtividade para uma visão mais sistémica e
orientada por valores. A Tabela 1 apresenta um resumo das principais correntes
da teoria da gestão.
Tabela 1 – Evolução das Correntes de Gestão
Corrente |
Foco Principal |
Enfoque na
Eficiência / Eficácia |
Autores
Relevantes |
Clássica |
Divisão do trabalho, produtividade |
Ênfase na eficiência |
Taylor, Fayol |
Relações Humanas |
Motivação e clima organizacional |
Ênfase na eficácia relacional |
Mayo, Maslow |
Sistémica |
Organização como sistema aberto |
Eficiência e eficácia como equilíbrio |
Katz & Kahn |
Contingencial |
Adaptação ao ambiente externo |
Eficácia contextual |
Lawrence & Lorsch |
Ética e Sustentabilidade |
Decisão justa e bem comum |
Eficiência subordinada à justiça |
Sebastião Teixeira, Peter Drucker |
1.3. O Gestor Contemporâneo: Competências Técnicas e Éticas
O
perfil do gestor moderno é multifacetado. Para além da capacidade técnica,
exige-se um conjunto de competências que lhe permita navegar em contextos de
elevada complexidade:
- Planeamento estratégico e visão sistémica
- Gestão eficiente de recursos
- Tomada de decisão orientada por valores
- Liderança ética e comunicação eficaz
Teixeira
(2011) defende que o gestor deve agir como um “agente
ético e pedagógico”, promovendo não só resultados, mas também
culturas organizacionais que respeitem a dignidade humana e o bem comum.
1.4. Eficiência, Eficácia e Ética: Um Triângulo de Sustentação
A
articulação entre eficiência, eficácia e ética
pode ser representada como um triângulo de sustentação para a boa gestão:
- Eficiência sem eficácia
resulta em organizações produtivas, mas desalinhadas com os fins.
- Eficácia sem ética pode
gerar sucesso instrumental à custa de injustiça.
- Ética sem eficácia nem eficiência
torna-se idealismo inoperante.
Figura 1 – Triângulo da Boa Gestão
[ÉTICA]
/ \
/ \
[Eficácia]---
[Eficiência]
Este
modelo traduz a ideia de que a excelência na gestão resulta do equilíbrio entre fazer bem, fazer o que é certo
e fazer de modo justo.
1.5. Conclusão: Para uma Gestão Humanizada e Sustentável
A
gestão do século XXI não pode limitar-se a modelos mecanicistas de comando e
controlo. Exige-se uma prática baseada no conhecimento, na responsabilidade e
na ética. Como conclui Sebastião Teixeira (2014), o gestor não é apenas alguém
que toma decisões, mas alguém que atribui sentido às decisões
que toma.
Eficiência
e eficácia continuam a ser critérios indispensáveis, mas a ética é o elemento
que legitima a ação do gestor numa sociedade democrática e plural. Só assim é
possível construir organizações sustentáveis, justas e verdadeiramente humanas.
Referências Bibliográficas
- Chiavenato,
I. (2000). Introdução à Teoria Geral da Administração.
Rio de Janeiro: Campus.
- Drucker, P. F. (1999). The Essential Drucker. HarperBusiness.
- Mintzberg, H. (1973). The Nature of Managerial Work.
Harper & Row.
- Teixeira,
S. (2011). Ética, Liderança e Gestão Pública.
Coimbra: Almedina.
- Teixeira,
S. (2014). Ética Organizacional: Entre a Regulação e
a Autonomia. Lisboa: Principia.
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