quarta-feira, 7 de maio de 2025

A (minha) Introdução à Gestâo I

 

PARTE 1: INTRODUÇÃO

1. A Função de Gestão: Entre a Técnica, a Ética e o Desempenho Organizacional

A gestão constitui uma função vital nas organizações modernas, desempenhando um papel central na coordenação de recursos, definição de estratégias e promoção de resultados sustentáveis. Contudo, a eficácia da gestão não pode ser avaliada apenas em termos de objetivos alcançados ou de produtividade. Como defendem Chiavenato (2000) e Teixeira (2011), a verdadeira excelência na gestão reside no equilíbrio entre eficácia, eficiência e responsabilidade ética.


1.1. Conceitos Fundamentais: Eficiência, Eficácia e Ética na Gestão

Um dos principais dilemas da prática de gestão reside na tensão entre eficiência e eficácia, dois conceitos fundamentais para compreender a racionalidade das organizações:

  • Eficiência diz respeito à relação entre os meios utilizados e os resultados obtidos. Um gestor eficiente é aquele que faz as coisas da forma certa, maximizando os recursos disponíveis com o mínimo de desperdício.
  • Eficácia, por sua vez, refere-se à capacidade de atingir os objetivos propostos. Um gestor eficaz faz as coisas certas, ou seja, persegue os fins adequados.

Como sublinha Drucker (1999), “não há nada mais inútil do que fazer com grande eficiência algo que nem sequer devia ser feito”. Por isso, o desafio da gestão contemporânea é conciliar eficiência operacional com eficácia estratégica e coerência ética.

Teixeira (2014) acrescenta que esta tríade — eficácia, eficiência e ética — deve ser vista como dimensão integrada da racionalidade prática do gestor, que atua não apenas como técnico, mas como decisor moral e político dentro da organização.


1.2. A Evolução da Função de Gestão: Da Técnica à Práxis Ética

A função de gestão evoluiu de forma significativa ao longo do século XX, passando de uma abordagem centrada na produtividade para uma visão mais sistémica e orientada por valores. A Tabela 1 apresenta um resumo das principais correntes da teoria da gestão.

Tabela 1 – Evolução das Correntes de Gestão

Corrente

Foco Principal

Enfoque na Eficiência / Eficácia

Autores Relevantes

Clássica

Divisão do trabalho, produtividade

Ênfase na eficiência

Taylor, Fayol

Relações Humanas

Motivação e clima organizacional

Ênfase na eficácia relacional

Mayo, Maslow

Sistémica

Organização como sistema aberto

Eficiência e eficácia como equilíbrio

Katz & Kahn

Contingencial

Adaptação ao ambiente externo

Eficácia contextual

Lawrence & Lorsch

Ética e Sustentabilidade

Decisão justa e bem comum

Eficiência subordinada à justiça

Sebastião Teixeira, Peter Drucker


1.3. O Gestor Contemporâneo: Competências Técnicas e Éticas

O perfil do gestor moderno é multifacetado. Para além da capacidade técnica, exige-se um conjunto de competências que lhe permita navegar em contextos de elevada complexidade:

  • Planeamento estratégico e visão sistémica
  • Gestão eficiente de recursos
  • Tomada de decisão orientada por valores
  • Liderança ética e comunicação eficaz

Teixeira (2011) defende que o gestor deve agir como um “agente ético e pedagógico”, promovendo não só resultados, mas também culturas organizacionais que respeitem a dignidade humana e o bem comum.


1.4. Eficiência, Eficácia e Ética: Um Triângulo de Sustentação

A articulação entre eficiência, eficácia e ética pode ser representada como um triângulo de sustentação para a boa gestão:

  • Eficiência sem eficácia resulta em organizações produtivas, mas desalinhadas com os fins.
  • Eficácia sem ética pode gerar sucesso instrumental à custa de injustiça.
  • Ética sem eficácia nem eficiência torna-se idealismo inoperante.

Figura 1 – Triângulo da Boa Gestão

       [ÉTICA]
        /   \
       /     \
[Eficácia]---[Eficiência]

Este modelo traduz a ideia de que a excelência na gestão resulta do equilíbrio entre fazer bem, fazer o que é certo e fazer de modo justo.


1.5. Conclusão: Para uma Gestão Humanizada e Sustentável

A gestão do século XXI não pode limitar-se a modelos mecanicistas de comando e controlo. Exige-se uma prática baseada no conhecimento, na responsabilidade e na ética. Como conclui Sebastião Teixeira (2014), o gestor não é apenas alguém que toma decisões, mas alguém que atribui sentido às decisões que toma.

Eficiência e eficácia continuam a ser critérios indispensáveis, mas a ética é o elemento que legitima a ação do gestor numa sociedade democrática e plural. Só assim é possível construir organizações sustentáveis, justas e verdadeiramente humanas.


Referências Bibliográficas

  • Chiavenato, I. (2000). Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Campus.
  • Drucker, P. F. (1999). The Essential Drucker. HarperBusiness.
  • Mintzberg, H. (1973). The Nature of Managerial Work. Harper & Row.
  • Teixeira, S. (2011). Ética, Liderança e Gestão Pública. Coimbra: Almedina.
  • Teixeira, S. (2014). Ética Organizacional: Entre a Regulação e a Autonomia. Lisboa: Principia.

 

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