quarta-feira, 7 de maio de 2025

A (minha) Introdução à Gestão - Parte IV

 

PARTE 4 – A DIREÇÃO

4.1. Liderança e Motivação

A função de direção assume um papel determinante no contexto organizacional, uma vez que consiste na arte de inspirar, coordenar e orientar os esforços humanos rumo aos objetivos da organização (Baranger et al., 1985; Lisboa et al., 2004). Neste âmbito, a liderança e a motivação surgem como pilares fundamentais da eficácia diretiva.

Estilos de Liderança

Segundo Baranger et al. (1985), os estilos de liderança refletem as atitudes e comportamentos dos líderes no exercício da autoridade. Podemos destacar três estilos principais:

  • Liderança autocrática: O líder centraliza as decisões e espera obediência. Este estilo pode ser eficaz em situações de crise, mas tende a gerar resistência e desmotivação a longo prazo.
  • Liderança democrática: O líder partilha a tomada de decisão com os colaboradores, promovendo a participação e o compromisso. É geralmente associada a níveis mais elevados de motivação e desempenho (Bueno & Morcillo, 1993).
  • Laissez-faire: O líder adota uma postura de não-interferência, delegando amplamente. Pode ser eficaz com equipas altamente autónomas, mas arrisca o descontrolo em contextos menos maduros (Lisboa et al., 2004).

 

 

Teorias da Motivação

A motivação é entendida como o conjunto de forças internas e externas que impulsionam o comportamento humano. Na ótica da gestão, compreender o que motiva os indivíduos permite alinhar os objetivos pessoais com os da organização (Teixeira, 2005).

Teoria das Necessidades de Maslow

A pirâmide de Maslow (1943) propõe cinco níveis hierárquicos de necessidades humanas: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autorrealização. As necessidades mais básicas devem ser satisfeitas antes das superiores. As empresas devem criar ambientes que atendam a estas diferentes dimensões para potenciar a motivação e o desempenho.

Teoria dos Dois Fatores de Herzberg

Herzberg et al. (1959) identificaram dois conjuntos de fatores: os higiénicos, cuja ausência causa insatisfação (salário, condições de trabalho), e os motivacionais, cuja presença gera satisfação (reconhecimento, responsabilidade). Assim, a motivação sustentável decorre de fatores intrínsecos ligados à natureza do trabalho.

Teoria X e Y de McGregor

McGregor (1960) opôs duas visões do ser humano no trabalho:

  • Teoria X: os trabalhadores são avessos ao esforço e precisam de supervisão rigorosa.
  • Teoria Y: os indivíduos valorizam o trabalho e são capazes de se autodirigir.
    A direção eficaz, segundo esta última visão, valoriza a autonomia, o desenvolvimento pessoal e o envolvimento nas decisões (Mintzberg, 2009).

4.2. Comunicação e Tomada de Decisão

Comunicação eficaz como instrumento de direção

A comunicação é a base da função de direção. É através dela que se transmitem instruções, se coordenam equipas e se reforçam os laços organizacionais. Segundo Marques (1996), uma comunicação eficaz é aquela que assegura a compreensão mútua, reduz ambiguidades e promove a confiança entre líderes e liderados.

A comunicação deve ser bidirecional, envolvendo não apenas a emissão, mas também a escuta ativa. Mintzberg (2009) refere que os gestores passam grande parte do tempo a comunicar de forma informal, sendo esses momentos decisivos para o alinhamento organizacional.

Tomada de Decisão: estratégica, tática e operacional

A tomada de decisão representa o momento central da função de direção. Segundo Lisboa et al. (2004), esta pode ser categorizada de acordo com o nível organizacional em que ocorre:

  • Decisão estratégica: afeta o rumo da organização no longo prazo. É geralmente da responsabilidade da alta direção.
  • Decisão tática: define planos intermédios para concretizar a estratégia. É tomada por gestores de nível médio.
  • Decisão operacional: diz respeito à execução diária das tarefas. Cabe aos supervisores e operadores.

Teixeira (2005) salienta que decisões eficazes requerem análise rigorosa, mas também intuição e experiência, sobretudo em contextos de incerteza.


4.3. Gestão de Conflitos

Os conflitos são inerentes às organizações, derivando da diversidade de interesses, objetivos ou estilos de trabalho. Uma direção eficaz não os evita, mas sabe geri-los de forma construtiva (Bueno & Morcillo, 1993).

Mediação e Negociação

A mediação consiste numa intervenção neutra que visa facilitar a resolução de um conflito entre duas partes. Já a negociação pressupõe o confronto de posições com vista à obtenção de um acordo mutuamente aceitável (Marques, 1996).

Construção de consensos

Mais do que resolver conflitos pontuais, a direção deve promover um ambiente de consenso alargado, onde a cultura da cooperação e da escuta ativa permita antecipar e minimizar tensões (Teixeira, 2005). Isto exige competências relacionais, empatia e inteligência emocional por parte dos líderes.


4.4. Conclusão

Dirigir é muito mais do que mandar ou planear. Dirigir é inspirar, coordenar e orientar os esforços humanos com justiça, clareza e visão estratégica. Implica conhecer os colaboradores, comunicar com eficácia, motivar pelo exemplo e tomar decisões responsáveis. Como refere Mintzberg (2009), o gestor é antes de tudo um líder de relações humanas, capaz de criar sentido e dar rumo à ação coletiva.


Bibliografia

  • Baranger, P., Helfer, P., Bruslerie, H., Orsoni, J., & Peretti, J. M. (1985). Gestão: As funções da empresa. Edições Sílabo.
  • Bueno, E., & Morcillo, P. (1993). La Dirección Eficiente (2.ª ed.). Pirámide.
  • Herzberg, F., Mausner, B., & Snyderman, B. B. (1959). The Motivation to Work. New York: John Wiley & Sons.
  • Lisboa, J., Coelho, A., Coelho, F., & Almeida, F. (2004). Introdução à Gestão das Organizações. Vida Económica.
  • Marques, M. P. (1996). O Jogo Estratégico na Gestão. Lisboa: Difel.
  • Maslow, A. H. (1943). A Theory of Human Motivation. Psychological Review, 50(4), 370–396.
  • McGregor, D. (1960). The Human Side of Enterprise. New York: McGraw-Hill.
  • Mintzberg, H. (2009). Managing. San Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers.
  • Teixeira, S. (2005). Gestão das Organizações (2.ª ed.). McGraw-Hill.

 

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