quarta-feira, 7 de maio de 2025

A (minha) Introdução à Gestão - Parte V

 

PARTE 5 – O CONTROLO

5.1. Introdução

O controlo é uma das funções essenciais da gestão, desempenhando um papel determinante no acompanhamento, avaliação e correção do desempenho organizacional. Conforme defendido por Baranger et al. (1985), o controlo visa assegurar que os resultados obtidos estão alinhados com os objetivos previamente definidos no planeamento. Trata-se, assim, de uma função que fecha o ciclo da gestão e garante a retroalimentação contínua para a tomada de decisão.

5.2. Conceito de Controlo

O controlo pode ser definido como o processo sistemático de medir o desempenho atual, compará-lo com os padrões estabelecidos e, quando necessário, implementar ações corretivas (Lisboa et al., 2004). De acordo com Teixeira (2005), esta função não se limita à verificação de resultados, mas também à identificação de causas de desvios e ao reforço da aprendizagem organizacional.

5.3. Objetivos do Controlo

Os principais objetivos do controlo organizacional são:

  • Avaliar a eficácia e a eficiência dos processos internos;
  • Identificar desvios em relação aos objetivos estabelecidos;
  • Fornecer informação para a tomada de decisões informadas;
  • Apoiar a melhoria contínua dos sistemas e processos;
  • Promover a responsabilidade e o alinhamento estratégico (Bueno & Morcillo, 1993).

5.4. Etapas do Processo de Controlo

Conforme descrito por Marques (1996), o processo de controlo segue normalmente quatro etapas fundamentais:

  1. Definição de padrões ou critérios de desempenho: Determinam-se os indicadores-chave (KPIs) que permitem aferir o grau de cumprimento dos objetivos.
  2. Medição do desempenho real: Recolhem-se dados através de sistemas de informação, relatórios financeiros, auditorias, entre outros meios.
  3. Comparação entre desempenho real e padrões estabelecidos: Identificam-se desvios e avalia-se a sua significância.
  4. Adoção de ações corretivas, se necessário: Implementam-se medidas de ajustamento para garantir o alinhamento com os objetivos.

5.5. Tipos de Controlo

5.5.1. Controlo Preventivo

É realizado antes que ocorram as atividades, com o objetivo de evitar problemas futuros. Inclui planeamento cuidadoso, recrutamento criterioso e formação de colaboradores.

5.5.2. Controlo Concomitante

Realiza-se durante a execução das atividades, permitindo a monitorização em tempo real e a intervenção imediata. Exemplo: supervisão de linha de produção.

5.5.3. Controlo Posterior

Acontece após a realização das atividades. Permite avaliar os resultados e extrair lições para o futuro. É comum em relatórios financeiros ou avaliações de desempenho.

5.6. Métodos de Controlo

Os métodos de controlo variam consoante a natureza da organização e os objetivos definidos. Entre os mais relevantes, destacam-se:

5.6.1. Controlo Financeiro

Baseia-se na análise de relatórios contabilísticos, orçamentos e rácios financeiros. É essencial para assegurar a sustentabilidade económica da organização (Teixeira, 2005).

5.6.2. Controlo Estatístico

Usado principalmente na indústria, recorre a dados amostrais e técnicas estatísticas para controlar a variabilidade dos processos produtivos.

5.6.3. Auditorias Internas

Permitem avaliar conformidades com normas e políticas internas, promovendo a transparência e a responsabilidade.

5.6.4. Balanced Scorecard (BSC)

Desenvolvido por Kaplan e Norton (1996), este método traduz a estratégia em objetivos concretos distribuídos por quatro perspetivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento.

5.6.5. Benchmarking

Consiste na comparação de indicadores e processos com organizações de referência no setor, permitindo identificar e adotar boas práticas (Lisboa et al., 2004).

5.6.6. Controlo por Exceção

Foca-se exclusivamente nos desvios significativos, poupando recursos e centrando a atenção dos gestores em aspetos críticos (Mintzberg, 2009).

5.6.7. Controlo Participativo

Envolve os colaboradores na monitorização do seu próprio desempenho, promovendo autonomia, motivação e compromisso com os resultados.

5.7. Ações Corretivas

A função de controlo só é plenamente eficaz quando culmina em ações corretivas. Estas são medidas concretas adotadas para eliminar desvios, prevenir a sua repetição e otimizar o desempenho futuro (Baranger et al., 1985). Podem incluir:

  • Revisão de processos e procedimentos;
  • Reorganização de equipas ou fluxos de trabalho;
  • Formação adicional ou requalificação de pessoal;
  • Ajustes nos objetivos ou indicadores de desempenho;
  • Medidas disciplinares em casos de má conduta.

Segundo Teixeira (2005), a eficácia das ações corretivas depende da sua tempestividade, proporcionalidade e clareza na comunicação.

5.8. Integração com a Estratégia Organizacional

O controlo moderno é mais do que um instrumento operacional; é um elemento estratégico. Como defende Mintzberg (2009), os sistemas de controlo devem estar alinhados com a visão, missão e objetivos de longo prazo da organização, promovendo coerência e aprendizagem contínua.

5.9. Desafios do Controlo Organizacional

Apesar da sua importância, a função de controlo enfrenta diversos desafios, entre os quais se destacam:

  • Resistência dos colaboradores à monitorização;
  • Dificuldade em medir variáveis qualitativas (como satisfação do cliente);
  • Excesso de burocracia ou centralização no controlo;
  • Informação desatualizada ou pouco fiável;
  • Falta de articulação com a cultura e valores organizacionais (Lisboa et al., 2004).

A superação destes desafios requer uma abordagem integrada, que combine racionalidade técnica com sensibilidade humana.

5.10. Conclusão

O controlo é uma função central na gestão das organizações, essencial para garantir o alinhamento entre o planeado e o executado, assegurar a eficiência dos processos e sustentar a melhoria contínua. Quando corretamente estruturado e aplicado, transforma-se num instrumento estratégico de liderança, capaz de reforçar a confiança, a transparência e a sustentabilidade da organização.


Bibliografia

Baranger, P., Helfer, P., Bruslerie, H., Orsoni, J., & Peretti, J. M. (1985). Gestão: As funções da empresa. Lisboa: Edições Sílabo.

Bueno, E., & Morcillo, P. (1993). La Dirección Eficiente (2.ª ed.). Madrid: Ediciones Pirámide.

Kaplan, R. S., & Norton, D. P. (1996). The Balanced Scorecard: Translating Strategy into Action. Boston: Harvard Business Press.

Lisboa, J., Coelho, A., Coelho, F., & Almeida, F. (2004). Introdução à Gestão das Organizações. Porto: Vida Económica.

Marques, M. P. (1996). O Jogo Estratégico na Gestão. Lisboa: Editora Difel.

Mintzberg, H. (2009). Managing. San Francisco: Berrett-Koehler Publishers, Inc.

Teixeira, S. (2005). Gestão das Organizações (2.ª ed.). Lisboa: McGraw-Hill.

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