quarta-feira, 11 de março de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo 19. A Abordagem dos Novos Clássicos



19. A Abordagem dos Novos Clássicos


19.1. Introdução


É a abordagem dos Novos Clássicos ou das expetativas racionais

Verifica-se a existência do fenómeno de estagflação que até à data não tinha sido estudado.

Paralelamente a esse fenómeno surgiram as crises petrolíferas, também designadas por choques da Oferta, problemas esses que não tinham sido previstos por Keynes, pois Keynes preocupava-se essencialmente com os problemas do lado da Procura.

Nos anos de 1970 estavam reunidas as condições para se desenvolver a renovação do pensamento económico liberal.

Nesta altura também se constatou um interesse crescente pelo Monetarismo, deixando o pensamento Keynesiano de ser o ponto de referência para os economistas dos anos de 1970, ou seja, o peso Keynesiano perdeu importância nesta mesma década.

Esta situação económica atrás referida sugeriu a inovação em termos económicos, sendo neste contexto que um conjunto de autores – Novos Clássicos - tentou reencontrar os resultados Pré-Keynesianos com base numa análise rigorosa na formação das expetativas e do comportamento dos indivíduos e foi com base neste objetivo que surge a Escola Nova Clássica.

A designação de Escola Nova Clássica constitui uma referência clara à chamada Teoria Clássica, teoria essa que sido objeto de críticas por parte de Keynes.

O adjetivo Nova é que não se trata de pura e simplesmente de voltar atrás, porque foram conservados certos elementos do Keynesianismo. Por outro lado, os Novos Clássicos não se consideram em rutura com o Monetarismo, pelo contrário, Lucas, por exemplo, ambicionava dar fundamentos teóricos mais sólidos às propostas e políticas avançadas pelos Monetaristas, ele pretendia também racionalizar a teoria da taxa natural de desemprego. Estes resultados deveriam ser alcançados dando à macroeconomia os fundamentos microeconómicos que ela carecia.



19.2. Fundamentos dos Novos Clássicos


A abordagem dos Novos Clássicos assenta em dois pilares fundamentais:

1)    A chamada Hipótese das expetativas racionais
2)    O Equilíbrio contínuo do mercado


1)    Os Novos Clássicos acrescentam às Hipóteses Neoclássicas tradicionais o tratamento ótimo por parte dos agentes das informações de que eles dispõem, informações essas que são imperfeitas e cuja aquisição é onerosa ou seja, tem custos (repare-se que no modelo de Equilíbrio de Walras uma das hipóteses é que a informação é perfeita).
Os Novos Clássicos apropriam-se da Hipótese das Expetativas Racionais* para construir os seus modelos.
*Isto porque não foi descoberta pelos Novos Clássicos, esta hipótese foi descoberta por John Muth em 1961, só que nessa altura passou despercebida. Só passados 10 anos é que ela foi incorporada nos modelos dos Novos Clássicos, sendo, por isso, que os Novos Clássicos também se chamam os defensores das Expetativas Racionais.
Esta Hipótese das Expetativas Racionais defende que as pessoas fazem previsões não enviesadas e usam toda a informação disponível, ou seja, as pessoas compreendem com funciona a economia e o que é que o governo está a fazer. Assim, o pressuposto central dos Novos Clássicos é que, devido às expetativas racionais, o governo não pode enganar a população com políticas económicas sistemáticas (todos os anos a fazer a mesma política), portanto essas políticas são ineficazes.
A Hipótese das Expetativas Racionais contrasta com a Hipótese das Expetativas Adaptativas. As Expetativas Adaptativas foram utilizadas, inicialmente, pelos Monetaristas para explicarem as expetativas da inflação e a Curva de Phillips.
Nessa Hipótese das Expetativas Adaptativas, os agentes económicos baseiam as suas expetativas nos valores futuros das variáveis e nos valores passados da variável considerada, ou seja, a formação das expetativas está repetidamente errada. Contrariamente, as Expetativas Racionais usam a informação disponível pelo que as expetativas não são enviesadas.
Surgiram, contudo, algumas críticas a esta abordagem das Expetativas Racionais:
 A primeira diz que os custos são elevados (são custos em tempo, esforço, dinheiro). Custos para adquirirem e processarem toda a informação disponível com vista a conseguir prever o valor futuro de uma variável.
A segunda crítica prende-se com a dificuldade que os agentes económicos têm em identificar o modelo mais correto da economia, uma vez que até os economistas discordam sobre qual o modelo mais correto da economia.
Assim, devido a estas duas críticas, os críticos defendem que é possível que os agentes económicos formem expetativas sistematicamente erradas. 


2)    De acordo com os Novos Clássicos, os mercados na economia estão sistematicamente em equilíbrio e isto vai de encontro ao que dizia a Teoria Walrasiana do Equilíbrio Geral, e diziam eles que a economia está sempre em equilíbrio porque há flexibilidade dos preços (P) e dos salários (W), ou seja, P e W ajustam-se rapidamente de forma a equilibrar a Procura e a Oferta.
Esta hipótese está em desacordo com a Abordagem Keynesiana e com a Abordagem Monetarista. Porquê?
Porque os Keynesianos e Monetaristas discordam acerca do tempo que demora até os mercados se equilibrem.
Os Keynesianos dizem que os mercados podem não se equilibrar devido ao ajustamento lento dos preços, pelo que a economia pode ser vista como estando num possível estado de desequilíbrio contínuo. Pelo contrário, os Monetaristas defendem que os preços se ajustam rapidamente para equilibrar o mercado. Eles aceitam que a economia pode estar em desequilíbrio no curto prazo, mas no longo prazo voltará para o equilíbrio à taxa natural de desemprego, além disso os Novos Clássicos defendem que qualquer pessoa que deseje trabalhar pode encontrar emprego ao W de equilíbrio de mercado, ou seja, trata o desemprego como sendo inteiramente voluntário.

 
 

19.3. Ineficácia das Políticas Económicas


A consequência essencial dos Clássicos é chamada de Neutralidade da Política Económica.

Este resultado apoia-se na Hipótese das Expetativas Racionais porque os agentes económicos sabem perfeitamente apreciar os efeitos reais e nominais de uma política económica e estão perfeitamente informados sobre essa política. Isto quer dizer que a implicação mais importante é a ineficácia das políticas orçamentais e monetárias sistemáticas no combate ao desemprego.
Esta questão designa-se por Teorema da Neutralidade ou Teorema da Ineficácia das Políticas, ou seja, com as expetativas racionais e flexibilidade dos Preços e dos Salários a política do governo, sendo prevista, não pode influenciar o produto real e desemprego, ou seja, a Curva de Phillips, do curto prazo ou de longo prazo, é sempre vertical.

A Literatura dos Novos Clássicos aborda este problema da Neutralidade da Política Económica dentro de dois conceitos: No primeiro interroga-se sobre a possibilidade de fundar as políticas em extrapolação econométrica tradicionais. É aquilo a que vamos chamar de Crítica de Lucas. No segundo contexto demonstra-se a impossibilidade de fazer uma política de estabilização através do chamado Princípio da Invariância.

19.3.1 Crítica de Lucas

Esta análise leva os Novos Clássicos a serem muito críticos relativamente à econometria tradicional porque estes modelos pressupõem que os comportamentos dos agentes económicos são invariáveis em relação às modificações das políticas económicas. Desta forma, Lucas vem pôr em causa a econometria tradicional o que se designou por Crítica de Lucas. Esta crítica dizia que observar o comportamento passado da variável para a qual se pretende formular uma expetativa para o futuro não é um instrumento apropriado para a análise de políticas alternativas, as previsões para os acontecimentos que decorrem no presente englobam muitas variáveis não observadas.

Segundo Lucas, uma simulação econométrica baseada no comportamento passado da economia não pode, em caso algum, servir de base para estudar as consequências de uma política económica. É importante conhecer, no momento da previsão, o que serão as novas relações explicativas do modelo antes que a política entre em prática. Esta abordagem defende a instabilidade dos parâmetros do modelo a que muitas vezes é constatado por testes econométricos.


19.3.2 O Princípio da Invariância

Demonstra que uma política económica, desde que seja anunciada, não pode conduzir a economia para além do seu equilíbrio natural. Uma política não anunciada pode ter efeitos transitórios embora leve à perca de credibilidade das autoridades económicas.


Podemos agora redefinir o postulado ou Teorema da ineficácia das políticas: os Novos Clássicos acreditam que o Output real e o emprego não são afetados por variações previsíveis e sistemáticas da Procura Agregada. Tanto no modelo Keynesiano como no Monetário as variações nas políticas da Procura Agregada afetam o Output e o emprego pois os trabalhadores não se apercebem corretamente dos efeitos no nível de preços resultantes de tais variações de política.

Já os Novos Clássicos assumem expetativas racionais e por isso os trabalhadores não cairão nesses erros sistemáticos. Mas apesar destes assumirem as expetativas como racionais, não assumem que os agentes económicos têm informação perfeita e, portanto, variações não antecipadas na Procura Agregada afetam o Output real e o emprego.

19.4. Conclusões

  • A Nova Economia Clássica construiu um modelo (modificando o modelo Clássico) que acreditavam incluir o comportamento individual optimizador, através da incorporação das expetativas racionais em vez do pressuposto da informação perfeita dos Clássicos. 
  • Em termos de políticas, acreditavam que o “Output” e o emprego são independentes de variações antecipadas da Procura Agregada.
  • Esta corrente de pensamento defende o não intervencionismo e argumenta que a neutralidade da moeda prevalece tanto no curto prazo como no longo prazo. Os Novos Clássicos são, por isso, mais radicais que os Monetaristas já que para estes últimos a moeda pode ter um papel ativo no curto prazo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
·         Ferraz, A. (1997) “Análise económica – Teoria e Prática” [págs. 349-356]
·         Beaud, M. e Dostaler, G., [págs. 143-149]
·         Rima, I.H., [Capítulo 21]
 











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