sexta-feira, 6 de março de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo12. Marshall e a Síntese Neoclássica

12. Marshall e a Síntese Neoclássica







Nasce num subúrbio de Londres (Clapham) em 1842.
Faz os seus estudos preparatórios na Merchant Taylor’s School, onde revela uma grande aptidão para a matemática e o xadrez – atividades que seu pai não tolerava.
Rejeita a carreira clerical que o pai lhe tinha destinado e com a ajuda financeira de um tio abastado acabar por estudar Matemática em Cambridge (1861).
Descobre a economia lendo a obra de Mill e começa a ensinar Matemática e Economia Política em Cambridge (1868).
Casa com uma antiga sua aluna, Mary Paley, e ambos começam a lecionar Economia Politica na University College em Bristol (1877).
Em 1884, regressa a Cambridge como professor de Economia Politica após ter passado por Oxford.
Em 1903, cria, em Cambridge, o primeiro curso com um curriculum independente de Economia.
Aposenta-se em 1908 e é substituído por A.C. Pigou, o seu melhor aluno.
Falece em Cambridge aos 81 anos.



12.1. Obras relevantes

  •           On Mr. Mill’s Theory of Value, (1876).
  •          The Economics of Industry, com Mary Paley, (1879).
  •          On the graphic method of Statistics, (1885).
  •          Principles of Economics, (1890).
  •          On Rent, (1893).
  •          Industry and Trade, (1919).
  •          Money, Credit and Commerce, (1923)




  •          Livro I: Revisão Preliminar.
  •          Livro II: Algumas Noções Fundamentais.
  •          Livro III: Sobre as Necessidades e a sua Satisfação.
  •          Livro IV: Os Agentes de Produção, Terra, Trabalho, Capital e Organização.
  •          Livro V: Relações Gerais de Procura, Oferta e Valor.
  •          Livro VI: A Distribuição do Rendimento Nacional.





12.2. Influências Intelectuais


·         Economia Clássica

Ø  Obras de Mill (Principles), A. Smith e Ricardo.
·         Precursores do Marginalismo

Ø  Cournot e J.H. Von Thϋnen – aplicação da matemática às questões económicas.
·         Ética Utilitarista

Ø  Jeremy Bentham
·         Progresso Evolutivo Darwinista
Ø  Charles Darwin
·       Historicismo Alemão
·         Humanismo Cristão





12.3. Âmbito da Economia


“A Economia Política ou Economia é o estudo da humanidade na atividade comum da vida; ela examina a parte da ação individual e social que está mais intimamente ligada aos resultados e ao uso dos requisitos materiais do bem-estar” (in, Livro I, Capítulo I, Principles of Economics).

Marshall era um teórico, humanista, matemático e historiador, que sintetiza o melhor da Análise Clássica com os novos instrumentos dos marginalistas para explicar as forças que determinam os preços e a afetação dos recursos.

Defendia que a doutrina económica não é um corpo de verdade absoluta, mas sim um motor para a descoberta da verdade concreta e enfatiza, sobretudo, que o Estudo da Economia deve proporcionar os meios para combater a pobreza e melhorar o bem-estar de toda a sociedade.


12.4. O Método


Marshall utilizava o dedutivismo orientado pela observação, em que combinava as abordagens teórica, histórica e matemática, mas remetia a matemática para as notas de rodapé e apêndices, como forma de tornara economia acessível aos leitores que não tivessem grande formação matemática.

O autor enfatiza a Hipótese Coeteris Paribus, como alternativa à técnica laboratorial das ciências físicas; os prazos temporais; estuda o equilíbrio parcial, como sendo a primeira e mais importante aplicação da Hipótese Coetiris Paribus; e faz a sua análise com base na concorrência perfeita (atomicidade dos agentes).

Marshall analisou a Teoria da Procura, Teoria da Produção; Teoria dos Custos de Produção e Oferta, Teoria da Determinação dos Preços e Teoria da Distribuição



12.5. A Teoria da Procura


  •          Os indivíduos adquirem os bens devido à utilidade que obtêm através do seu               consumo.
  •          Função de utilidade aditiva – A utilidade total é a soma das utilidades obtidas           pelo consumo de cada bem (as eventuais relações de substituição e                             complementaridade são ignoradas).
  •          Lei da Utilidade Marginal Decrescente – A análise da procura assenta nesta lei.       Faz uma aproximação da Lei aos preços, ou seja, a força da procura sobre os             preços.

         Quanto maior for a quantidade do bem possuída por uma pessoa, menor será o preço         a pagar para possuir mais desse bem, isto quando tudo o resto se mantém constante           (Hipótese Coeteris Paribus).

Com uma utilidade marginal constante de moeda, eliminando os efeitos que advêm da variação dos preços, a curva da utilidade marginal de um bem transforma-se numa escala e depois na curva de procura. Esta curva tem uma inclinação negativa e quando variam os preços, mantendo-se o resto constante, há um deslocamento apenas ao longo da curva. A posição desta só se altera quando se alteram os fatores que estavam constantes.

  •         A utilidade medida através do sistema de preços Se um individuo paga 2€ por uma unidade de um bem A e 1€ por uma unidade do bem B, então o bem A proporciona ao individuo duas vezes a utilidade do bem B.


Lei da Procura – A quantidade procurada aumenta com uma queda dos preços e diminui com uma subida dos preços (Hipótese Coeteris Paribus).



  •          Pode-se medir pela inclinação da curva de procura, ou seja, relaciona de forma        negativa as variáveis Preço e Quantidade de um bem.
  •                A elasticidade como a medida adequada:




  •          Procura elástica – Quando o preço é baixo e os gastos são superiores.
  •          Procura inelástica – Quando o preço é baixo e os gastos forem menores.






  •          O Conceito de Excedente do Consumidor, apesar de ter sido descoberto por Dupuit, deve a sua designação a Marshall, que o aplicou a vários problemas práticos.


The price witch a person pays for a thing can never exceed, and seldom comes up to that which he would be willing to pay rather than go without it: so that the satisfaction which he gets from the purchase generally exceeds that which he gives up in paying away its price; and he thus derives from the purchase a surplus of satisfaction. The excess of the price which he would be willing to pay rather than go without the thing, over that which he actually does pay, is the economic measure of this surplus satisfaction. It may be called consumer’s surplus” (in, Principles).



Resumindo, é o valor monetário que um consumidor obtém quando paga um bem a um preço inferior ao que estaria disposto a pagar por não passar sem ele.

Mas este conceito era limitativo, já que:

  •  Supõe uma Umg de moeda constante.
  •  Tratava as Umg individuais como aditivas.
  •  Não havia variações nos preços.
  •  Não havia efeitos-substituição nem efeitos-rendimento entre bens.
Isto só seria válido se o bem estivesse pouca importância nos orçamentos.


Economia do bem-estar – Aplicação do conceito anterior para se analisar os efeitos de políticas fiscais em relação aos rendimentos de escala das empresas.


Preço do Chá (shillings/libra)
Quantidade (libras)
 20
1
14
2
10
3
6
4
4
5
3
6
2
7




























12.6. Teoria da Produção


Serve para analisar os custos e a oferta de bens e para explicar a determinação dos preços dos fatores, bem como a sua utilização alternativa na economia.

Para Marshall, os fatores de produção são a terra, o trabalho, o capital e a organização, e existem quatro prazos de produção: o prazo imediato (market period), onde a oferta é fixa, ou seja, perfeitamente inelástica; o curto prazo, em que os fatores de produção podem ser fixos e variáveis; o longo prazo, em que todos os fatores de produção são variáveis; e o muito curto prazo (secular period), em que se verificam alterações tecnológicas e demográficas.

As leis do rendimento são significantes nos curto e longo prazos, mas não no prazo imediato, uma vez que a oferta física neste período não pode ser aumentada e só pode ser diminuída por venda ou destruição.

Já no curto prazo, pode-se variar a oferta de um produto alterando-se alguns inputs do fator necessário à produção


O longo prazo é um período durante o qual se pode variar a oferta de um produto, alterando-se todos os inputs de fatores.




Rendimentos no curto prazo:
  •          Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes

        A produção média começa a declinar depois de uma certa quantidade do fator variável        (trabalho e capital) ser empregue em conjunto com uma dada quantidade do fator fixo           (terra).
       Um fator de produção variável proporciona rendimentos marginais decrescentes se for         combinado em produção com uma dada quantidade fixa do outro fator.

  •          Princípio da Substituição

      Quando o empresário deseja maximizar os seus lucros, tem de substituir os fatores              mais caros pelos mais baratos. Assim, a empresa altera a combinação/proporção dos          seus fatores (inputs) para conseguir o menor custo.

       Ou seja, combina os fatores variáveis de modo a que o produto e receita marginal dos           fatores sejam iguais ao preço.




Rendimentos no longo prazo:

Alfred Marshall defende que quando uma indústria se expande no longo prazo, pode apresentar três tipos de comportamento:

  •   Rendimentos Constantes, que se verificam quando a produção cresce    proporcionalmente com o número de fatores produtivos.
  •            Rendimentos Crescentes, onde o aumento da produção é proporcionalmente maior do que o aumento dos fatores produtivos.
  •       Rendimentos Decrescentes, que se verificam quando o aumento na produção será menor do que o aumento dos fatores produtivos.



É no contexto dos rendimentos de longo prazo que Marshall propõe os conceitos de economias/deseconomias internas/externas.

Estes são conceitos relacionados com as economias de escala, que se dividem em internas (que dependem do tamanho da empresa) e externas (que dependem da magnitude da indústria ou do grupo do ramo industrial).

Economias internas, correspondem às reduções dos custos unitários, em termos técnicos e monetários, que acompanham o aumento da escala de produção das empresas.

Economias externas, correspondem aos ganhos obtidos pelas empresas no
 mercado, independentemente da sua atividade. São situações em que a empresa gera resultados positivos a outros, sem que estes tenham de pagar por tal motivo.

Deseconomias internas, tal como as economias internas, surgem como resultado da expansão de firmas individuais. Por exemplo, aumento dos custos administrativos por unidade de produção, o que por sua vez é o resultado do acréscimo dos problemas de coordenação de atividades de maior escala.

Deseconomias externas, verificam-se quando ocorrem situações em que a produção impõe custos a outras entidades, que não são compensados. Estas podem ser provocadas pela escassez de mão-de-obra especializada, de modo a que as empresas de determinado ramo acabam por fazer subir os salários na tentativa de atrair mais mão-de-obra (ou manter a existente).

Também o aumento da procura pode fazer subir os preços e provocar o aumento dos custos da indústria.




12.7. Teoria dos Custos de Produção e Oferta


·       
·         Custos de Produção

Ø  Encargos com a aquisição dos fatores produtivos (incluindo o lucro) necessários à produção dos bens e serviços.
Ø  Princípio da substituição - As empresas procuram minimizar o custo dos fatores produtivos.
Ø  Os Custos de Produção podem ser curto prazo, variáveis (prime costs) e fixos (supplementary costs), e de longo prazo (custos variáveis).




Curva de Oferta da Empresa no Curto e Longo Prazos
  •          Marshall compreendia que uma empresa maximizadora do lucro deverá produzir onde a Rmg = Cmg.Isto implica que, na presença de rendimentos marginais decrescentes, a empresa produza na porção crescente da sua curva de Cmg.
  •          A Curva da Procura da empresa no curto-prazo é, assim, a sua curva Cmg sobre e acima do mínimo da Curva de CVMe (prime costs).


Graficamente:



























  •          A Curva da Oferta da empresa no longo prazo é a sua Curva CmgLP  sobre e acima do mínimo da Curva de CMeLP.


     Graficamente:


























Oferta de Mercado no Curto Prazo
  •      As empresas confrontam-se com níveis diferentes de Custo. Para um dado Preço algumas podem não cobrir os CVT, outras apenas os CVT e provavelmente uma parte dos CFT, e outras ainda estar a realizar lucros anormais.
  •       A subida do preço faz com que as empresas existentes produzam mais e as que tinham encerrado possam voltar ao mercado.
  •       A Curva da Oferta do mercado é a soma horizontal (quantidades) das Curvas de   Oferta individuais (Cmg).
  •               A curva de oferta de mercado tem inclinação positiva.



Oferta de Mercado no Longo Prazo (desenvolvida através do conceito de Empresa Representativa)


Empresa Representativa – é uma empresa hipotética que tem acesso médio a recursos, informações e mercados e é, neste sentido, típica da experiência da indústria. Não é uma empresa real, é sim um instrumento analítico que Marshall concebeu com a finalidade de identificar os custos de produção e, portanto, a escala de oferta de um bem de longo prazo.


A Curva de Oferta de longo prazo é deduzida com base nos custos de “empresa representativa”, custos esses que dependem da Lei dos Rendimentos de Longo Prazo, que já foi referida anteriormente.



Pode apresentar três situações:
  •          Rendimentos Constantes
  •          Rendimentos Decrescentes
  •          Rendimentos Crescentes









Quando a “empresa representativa” apresenta rendimentos constantes, ela tem uma estrutura de Custos Constantes e a Curva de Oferta Agregada, isto é, a Oferta de Mercado de Longo Prazo, é horizontal.

Graficamente:


Em que Scp = ∑ Cmgi


Neste caso, tendo a empresa Custos Constantes, implica que as economias de produção internas e externas sejam anuladas por deseconomias internas e externas.

Portanto, a longo prazo podem ser fornecidas quantidades crescentes de produto a um Custo médio constante.



Rendimentos Decrescentes (Custos crescentes)

No caso da “empresa representativa” apresentar rendimentos decrescentes na sua produção, ela vai apresentar uma estrutura de Custos Crescentes, o que faz com que a Oferta Agregada de Longo Prazo seja negativamente inclinada.


Graficamente:



Verificamos, assim, que podem-se fazer ofertas de quantidades crescentes do produto apenas se os Custos Médios forem decrescentes no Longo Prazo.


Rendimentos Crescentes (Custos decrescentes)

Por fim, se a “empresa representativa” apresentar Rendimentos Crescentes, tem uma estrutura de custos decrescentes e a sua Curva de Oferta de Longo Prazo tem uma inclinação positiva.

Graficamente:




12.8. Teoria da Determinação dos Preços


“Thus we may conclude that, as a general rule, the shorter the period which we are considering, the greater must be the share of our attention which is given to the influence of demand on value; and the longer the period, the more important will be the influence of cost of production on value” (in, Book V, cap. III, Principles of Economics).

Para Marshall o que determina o valor são os Custos de Produção e a Utilidade Marginal. O preço não é regido somente pelo Custo de Produção nem somente pela Utilidade Marginal, mas pela interação dessas forças quando elas se expressam na procura e na oferta de um bem.

  •          Situações em que a procura desempenha uma influência importante na determinação do preço:

Ø  Período de mercado.
Ø  Bens de produção conjunta
Ø  Monopólios.




Período de Mercado – Quando a Oferta de um bem já foi feita, o seu valor já não se pode alterar. Neste caso o preço reflete a força da procura, então o preço não se aproxima do Custo de Produção.

Bens de Produção Conjunta – Aqui o preço também é regido pela intensidade da procura porque a produção é feita mediante proporções fixas dos bens, então os preços destes bens não dependem dos seus custos.

Neste caso existe um Custo Marginal de uma unidade combinada de produção, já que não se consegue separar o custo dos produtos.
Sempre que se varia a procura de um bem, a oferta conjunta também varia e os seus preços variam inversamente entre si.

Situação de monopólio – O monopolista a Procura e Oferta, não só para cobrir os seus custos, mas também para maximizar o lucro, logo o preço é diferente da necessidade de cobrir os custos de produção e a receita máxima é atingida quando Rmg = Cmg.


Com estes três casos, o preço reflete o estado da Procura e não o seu custo de produção já que, para Marshall, o que determina o valor não é apenas o custo e a utilidade.

No curto prazo, deve-se ter atenção à procura. No longo prazo, há uma influência dos custos de produção no valor do bem (Preço).


As empresas tendem a deslocar-se para o preço de longo prazo, que se baseia nos custos de produção.




  •          A combinação da curva de procura baseada na Umg com as teorias da oferta de longo prazo permitiu a Marshall analisar o impacto no bem-estar social resultante da interferência do Estado nos mercados concorrenciais.
  •          Marshall considerou os efeitos do bem-estar social, que advinham da imposição de impostos e da atribuição de subsídios às indústrias caracterizadas, por:

Ø  Custos Constantes.
Ø  Custos Crescentes.

Ø  Custos Decrescentes.







i)Subsídio: s’ para S’
   Custo: [cTAC] > Benefício [caAC]
ii)Imposto: S’ para s’
   Custo: [caAC] > Benefício [caEC]
Conclusão: Não tributar nem subsidiar



























            
i)Subsídio: s’ para S’
              Custo: [RTAC] > Benefício [caAC]
            ii)Imposto: S’ para s’
               Custo: [caAC] < Benefício [caEF]
            Conclusão: Tributar mas não subsidiar





























            i)Subsídio: s’ para S’
               Custo: [RTAC] < Benefício [caAC]
            ii)Imposto: S’ para s’
               Custo: [caAC] > Benefício [caER]
            Conclusão: Subsidiar mas não tributar 



12.9. Teoria da Distribuição

  •          A distribuição do rendimento numa economia competitiva é determinada pelo preço dos fatores de produção.
  •          O preço dos fatores é determinado no mercado pela interação das forças da oferta e da procura.
  •     A procura de um fator de produção depende do seu preço (Trabalho/Salário; Capital/Taxa de juro).
  •         A procura de um fator de produção é uma procura derivada e depende do valor da produtividade marginal do fator (e.g., L = PQ.PmgL).





12.10. Aspetos Conclusivos


  •          Teórico, humanista, matemático e historiador, Marshall sintetiza o melhor da análise  clássica com os novos instrumentos dos marginalistas para explicar as forças que  determinam os preços e a afetação dos recursos.
  •              A doutrina económica não é um corpo de verdade absoluta, mas sim um motor para a descoberta da verdade concreta.
  •       O estudo da economia deve proporcionar os meios para combater a pobreza e melhorar o bem-estar.






  •          Ekelund, R.B. e R.F. Hérbert [Cap. 14]
  •          Rima, I.H. [Cap. 14]



































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