12. Marshall e a
Síntese Neoclássica
Nasce num subúrbio de Londres
(Clapham) em 1842.
Faz os seus estudos
preparatórios na Merchant Taylor’s School, onde revela uma grande aptidão para
a matemática e o xadrez – atividades que seu pai não tolerava.
Rejeita a carreira clerical
que o pai lhe tinha destinado e com a ajuda financeira de um tio abastado
acabar por estudar Matemática em Cambridge (1861).
Descobre a economia lendo a
obra de Mill e começa a ensinar Matemática e Economia Política em Cambridge
(1868).
Casa com uma antiga sua aluna,
Mary Paley, e ambos começam a lecionar Economia Politica na University College
em Bristol (1877).
Em 1884, regressa a Cambridge
como professor de Economia Politica após ter passado por Oxford.
Em 1903, cria, em Cambridge, o
primeiro curso com um curriculum
independente de Economia.
Aposenta-se em 1908 e é
substituído por A.C. Pigou, o seu melhor aluno.
Falece em Cambridge aos 81
anos.
12.1. Obras relevantes
- The Economics of Industry, com Mary Paley, (1879).
- On the graphic method of Statistics, (1885).
- Principles of Economics, (1890).
- On Rent, (1893).
- Industry and Trade, (1919).
- Money, Credit and Commerce, (1923)
- Livro I: Revisão Preliminar.
- Livro II: Algumas Noções Fundamentais.
- Livro III: Sobre as Necessidades e a sua Satisfação.
- Livro IV: Os Agentes de Produção, Terra, Trabalho, Capital e Organização.
- Livro V: Relações Gerais de Procura, Oferta e Valor.
- Livro VI: A Distribuição do Rendimento Nacional.
12.2. Influências
Intelectuais
Ø Obras
de Mill (Principles), A. Smith e Ricardo.
Ø Cournot
e J.H. Von Thϋnen –
aplicação da matemática às questões económicas.
Ø Jeremy
Bentham
·
Progresso Evolutivo Darwinista
Ø Charles
Darwin
· Humanismo Cristão
12.3. Âmbito da
Economia
“A Economia
Política ou Economia é o estudo da humanidade na atividade comum da vida; ela
examina a parte da ação individual e social que está mais intimamente ligada
aos resultados e ao uso dos requisitos materiais do bem-estar” (in, Livro I,
Capítulo I, Principles of Economics).
Marshall era um teórico,
humanista, matemático e historiador, que sintetiza o melhor da Análise Clássica
com os novos instrumentos dos marginalistas para explicar as forças que
determinam os preços e a afetação dos recursos.
Defendia que a doutrina
económica não é um corpo de verdade absoluta, mas sim um motor para a
descoberta da verdade concreta e enfatiza, sobretudo, que o Estudo da Economia
deve proporcionar os meios para combater a pobreza e melhorar o bem-estar de
toda a sociedade.
12.4. O Método
Marshall utilizava o dedutivismo
orientado pela observação, em que combinava as abordagens teórica, histórica e
matemática, mas remetia a matemática para as notas de rodapé e apêndices, como
forma de tornara economia acessível aos leitores que não tivessem grande
formação matemática.
O autor enfatiza a Hipótese
Coeteris Paribus, como
alternativa à técnica laboratorial das ciências físicas; os prazos temporais;
estuda o equilíbrio parcial, como sendo a primeira e mais importante aplicação
da Hipótese Coetiris Paribus; e faz a
sua análise com base na concorrência perfeita (atomicidade dos agentes).
Marshall analisou a Teoria da Procura, Teoria da Produção;
Teoria dos Custos de Produção e Oferta, Teoria da Determinação dos Preços e
Teoria da Distribuição.
12.5. A Teoria da
Procura
- Os indivíduos adquirem os bens devido à utilidade que obtêm através do seu consumo.
- Função de utilidade aditiva – A utilidade total é a soma das utilidades obtidas pelo consumo de cada bem (as eventuais relações de substituição e complementaridade são ignoradas).
- Lei da Utilidade Marginal Decrescente – A análise da procura assenta nesta lei. Faz uma aproximação da Lei aos preços, ou seja, a força da procura sobre os preços.
Quanto
maior for a quantidade do bem possuída por uma pessoa, menor será o preço a
pagar para possuir mais desse bem, isto quando tudo o resto se mantém constante (Hipótese Coeteris Paribus).
Com uma
utilidade marginal constante de moeda, eliminando os efeitos que advêm da
variação dos preços, a curva da utilidade marginal de um bem transforma-se numa
escala e depois na curva de procura. Esta curva tem uma inclinação negativa e
quando variam os preços, mantendo-se o resto constante, há um deslocamento
apenas ao longo da curva. A posição desta só se altera quando se alteram os
fatores que estavam constantes.
- A utilidade medida através do sistema de preços – Se um individuo paga 2€ por uma unidade de um bem A e 1€ por uma unidade do bem B, então o bem A proporciona ao individuo duas vezes a utilidade do bem B.
Lei da Procura – A
quantidade procurada aumenta com uma queda dos preços e diminui com uma subida
dos preços (Hipótese Coeteris Paribus).
- Pode-se medir pela inclinação da curva de procura, ou seja, relaciona de forma negativa as variáveis Preço e Quantidade de um bem.
- A elasticidade como a medida adequada:
- Procura elástica – Quando o preço é baixo e os gastos são superiores.
- Procura inelástica – Quando o preço é baixo e os gastos forem menores.
- O Conceito de Excedente do Consumidor, apesar de ter sido descoberto por Dupuit, deve a sua designação a Marshall, que o aplicou a vários problemas práticos.
“The price witch a person pays for a thing can never exceed, and seldom
comes up to that which he would be willing to pay rather than go without it: so
that the satisfaction which he gets from the purchase generally exceeds that which
he gives up in paying away its price; and he thus derives from the purchase a
surplus of satisfaction. The excess of the price which he would be willing to
pay rather than go without the thing, over that which he actually does pay, is
the economic measure of this surplus satisfaction. It may be called consumer’s surplus” (in, Principles).
Resumindo, é o valor monetário
que um consumidor obtém quando paga um bem a um preço inferior ao que estaria
disposto a pagar por não passar sem ele.
Mas este conceito era
limitativo, já que:
- Supõe uma Umg de moeda constante.
- Tratava as Umg individuais como aditivas.
- Não havia variações nos preços.
- Não havia efeitos-substituição nem efeitos-rendimento entre bens.
Isto só seria válido se o bem
estivesse pouca importância nos orçamentos.
Economia do bem-estar – Aplicação do conceito anterior para se analisar
os efeitos de políticas fiscais em relação aos rendimentos de escala das
empresas.
Preço do Chá (shillings/libra)
|
Quantidade (libras)
|
20
|
1
|
14
|
2
|
10
|
3
|
6
|
4
|
4
|
5
|
3
|
6
|
2
|
7
|
12.6. Teoria da
Produção
Serve para analisar os custos
e a oferta de bens e para explicar a determinação dos preços dos fatores, bem
como a sua utilização alternativa na economia.
Para Marshall, os fatores
de produção são a terra, o trabalho, o capital e a organização, e existem quatro
prazos de produção: o prazo imediato (market period), onde a oferta é fixa, ou
seja, perfeitamente inelástica; o curto prazo, em que os fatores de produção
podem ser fixos e variáveis; o longo prazo,
em que todos os fatores de produção são variáveis; e o muito
curto prazo (secular period), em que se verificam alterações tecnológicas e
demográficas.
As leis do rendimento são
significantes nos curto e longo prazos, mas não no prazo imediato, uma vez que
a oferta física neste período não pode ser aumentada e só pode ser diminuída
por venda ou destruição.
Já no curto prazo, pode-se
variar a oferta de um produto alterando-se alguns inputs do fator necessário à
produção
O longo prazo é um período
durante o qual se pode variar a oferta de um produto, alterando-se todos os
inputs de fatores.
→ Rendimentos no curto prazo:
- Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes
A
produção média começa a declinar depois de uma certa quantidade do fator
variável (trabalho e capital) ser empregue em conjunto com uma dada quantidade
do fator fixo (terra).
Um
fator de produção variável proporciona rendimentos marginais decrescentes se
for combinado em produção com uma dada quantidade fixa do outro fator.
- Princípio da Substituição
Quando
o empresário deseja maximizar os seus lucros, tem de substituir os fatores mais
caros pelos mais baratos. Assim, a empresa altera a combinação/proporção dos seus fatores (inputs) para conseguir o menor custo.
Ou
seja, combina os fatores variáveis de modo a que o produto e receita marginal
dos fatores sejam iguais ao preço.
→ Rendimentos no longo prazo:
Alfred Marshall defende que quando uma indústria se expande no
longo prazo, pode apresentar três tipos de comportamento:
- Rendimentos Constantes, que se verificam quando a produção cresce proporcionalmente com o número de fatores produtivos.
- Rendimentos Crescentes, onde o aumento da produção é proporcionalmente maior do que o aumento dos fatores produtivos.
- Rendimentos Decrescentes, que se verificam quando o aumento na produção será menor do que o aumento dos fatores produtivos.
É no contexto dos rendimentos
de longo prazo que Marshall propõe os conceitos de economias/deseconomias
internas/externas.
Estes são conceitos
relacionados com as economias de escala, que se dividem em internas (que
dependem do tamanho da empresa) e externas (que dependem da magnitude da
indústria ou do grupo do ramo industrial).
Economias internas, correspondem às reduções dos
custos unitários, em termos técnicos e monetários, que acompanham o aumento da
escala de produção das empresas.
Economias externas, correspondem aos ganhos
obtidos pelas empresas no
mercado, independentemente da sua atividade. São
situações em que a empresa gera resultados positivos a outros, sem que estes
tenham de pagar por tal motivo.
Deseconomias internas, tal como as economias
internas, surgem como resultado da expansão de firmas individuais. Por exemplo,
aumento dos custos administrativos por unidade de produção, o que por sua vez é
o resultado do acréscimo dos problemas de coordenação de atividades de maior
escala.
Deseconomias externas, verificam-se quando ocorrem
situações em que a produção impõe custos a outras entidades, que não são
compensados. Estas podem ser provocadas pela escassez de mão-de-obra
especializada, de modo a que as empresas de determinado ramo acabam por fazer
subir os salários na tentativa de atrair mais mão-de-obra (ou manter a
existente).
Também o aumento da procura
pode fazer subir os preços e provocar o aumento dos custos da indústria.
12.7. Teoria dos Custos
de Produção e Oferta
·
·
Custos
de Produção
Ø Encargos
com a aquisição dos fatores produtivos (incluindo o lucro) necessários à
produção dos bens e serviços.
Ø Princípio
da substituição - As empresas procuram minimizar o custo dos fatores produtivos.
Ø Os
Custos de Produção podem ser curto prazo, variáveis (prime costs) e fixos
(supplementary costs), e de longo prazo (custos variáveis).
→ Curva de Oferta da Empresa no Curto e Longo Prazos
- Marshall compreendia que uma empresa maximizadora do lucro deverá produzir onde a Rmg = Cmg.Isto implica que, na presença de rendimentos marginais decrescentes, a empresa produza na porção crescente da sua curva de Cmg.
- A Curva da Procura da empresa no curto-prazo é, assim, a sua curva Cmg sobre e acima do mínimo da Curva de CVMe (prime costs).
Graficamente:
- A Curva da Oferta da empresa no longo prazo é a sua Curva CmgLP sobre e acima do mínimo da Curva de CMeLP.
Graficamente:
→ Oferta de Mercado no Curto Prazo
- As empresas confrontam-se com níveis diferentes de Custo. Para um dado Preço algumas podem não cobrir os CVT, outras apenas os CVT e provavelmente uma parte dos CFT, e outras ainda estar a realizar lucros anormais.
- A subida do preço faz com que as empresas existentes produzam mais e as que tinham encerrado possam voltar ao mercado.
- A Curva da Oferta do mercado é a soma horizontal (quantidades) das Curvas de Oferta individuais (Cmg).
- A curva de oferta de mercado tem inclinação positiva.
→ Oferta de Mercado no Longo Prazo (desenvolvida através do conceito
de Empresa Representativa)
Empresa Representativa – é uma empresa hipotética que tem acesso médio a
recursos, informações e mercados e é, neste sentido, típica da experiência da
indústria. Não é uma empresa real, é sim um instrumento analítico que Marshall
concebeu com a finalidade de identificar os custos de produção e, portanto, a
escala de oferta de um bem de longo prazo.
A Curva de Oferta de longo
prazo é deduzida com base nos custos de “empresa representativa”, custos esses
que dependem da Lei dos Rendimentos de Longo Prazo, que já foi referida
anteriormente.
Pode apresentar três
situações:
- Rendimentos Constantes
- Rendimentos Decrescentes
- Rendimentos Crescentes
Quando a “empresa
representativa” apresenta rendimentos constantes, ela tem uma estrutura de
Custos Constantes e a Curva de Oferta Agregada, isto é, a Oferta de Mercado de Longo
Prazo, é horizontal.
Graficamente:
Em que Scp = ∑ Cmgi
Neste caso, tendo a empresa
Custos Constantes, implica que as economias de produção internas e externas
sejam anuladas por deseconomias internas e externas.
Portanto, a longo prazo podem
ser fornecidas quantidades crescentes de produto a um Custo médio constante.
Rendimentos Decrescentes (Custos crescentes)
Graficamente:
Verificamos, assim, que podem-se
fazer ofertas de quantidades crescentes do produto apenas se os Custos Médios
forem decrescentes no Longo Prazo.
Rendimentos Crescentes (Custos decrescentes)
Por fim, se a “empresa
representativa” apresentar Rendimentos Crescentes, tem uma estrutura de custos
decrescentes e a sua Curva de Oferta de Longo Prazo tem uma inclinação
positiva.
Graficamente:
12.8. Teoria da
Determinação dos Preços
“Thus we may conclude
that, as a general rule, the shorter
the period which we are considering, the greater must be the share of our
attention which is given to the influence of demand on value; and the longer
the period, the more important will be the influence of cost of production on
value” (in, Book V, cap. III, Principles of Economics).
Para Marshall o que determina
o valor são os Custos de Produção e a Utilidade Marginal. O preço não é regido
somente pelo Custo de Produção nem somente pela Utilidade Marginal, mas pela
interação dessas forças quando elas se expressam na procura e na oferta de um
bem.
- Situações em que a procura desempenha uma influência importante na determinação do preço:
Ø Período
de mercado.
Ø Bens
de produção conjunta
Ø Monopólios.
Período de
Mercado – Quando a Oferta de um bem já foi feita, o seu valor já
não se pode alterar. Neste caso o preço reflete a força da procura, então o
preço não se aproxima do Custo de Produção.
Bens de Produção
Conjunta – Aqui o preço também é regido
pela intensidade da procura porque a produção é feita mediante proporções fixas
dos bens, então os preços destes bens não dependem dos seus custos.
Neste caso existe um Custo
Marginal de uma unidade combinada de produção, já que não se consegue separar o
custo dos produtos.
Sempre que se varia a procura
de um bem, a oferta conjunta também varia e os seus preços variam inversamente
entre si.
Situação de
monopólio – O monopolista a Procura e
Oferta, não só para cobrir os seus custos, mas também para maximizar o lucro,
logo o preço é diferente da necessidade de cobrir os custos de produção e a
receita máxima é atingida quando Rmg = Cmg.
Com estes três casos, o preço
reflete o estado da Procura e não o seu custo de produção já que, para Marshall,
o que determina o valor não é apenas o custo e a utilidade.
No curto prazo, deve-se ter
atenção à procura. No longo prazo, há uma influência dos custos de produção no
valor do bem (Preço).
As empresas tendem a
deslocar-se para o preço de longo prazo, que se baseia nos custos de produção.
- A combinação da curva de procura baseada na Umg com as teorias da oferta de longo prazo permitiu a Marshall analisar o impacto no bem-estar social resultante da interferência do Estado nos mercados concorrenciais.
- Marshall considerou os efeitos do bem-estar social, que advinham da imposição de impostos e da atribuição de subsídios às indústrias caracterizadas, por:
Ø Custos
Constantes.
Ø Custos
Crescentes.
Ø Custos
Decrescentes.
i)Subsídio: s’ para S’
Custo: [cTAC] > Benefício [caAC]
ii)Imposto: S’ para s’
Custo: [caAC] > Benefício [caEC]
Conclusão: Não tributar nem subsidiar
i)Subsídio: s’ para S’
Custo: [RTAC] >
Benefício [caAC]
ii)Imposto: S’ para s’
Custo: [caAC] <
Benefício [caEF]
Conclusão: Tributar mas não
subsidiar
i)Subsídio: s’ para S’
Custo: [RTAC] <
Benefício [caAC]
ii)Imposto: S’ para s’
Custo: [caAC] >
Benefício [caER]
Conclusão:
Subsidiar mas não tributar
12.9. Teoria da
Distribuição
- O preço dos fatores é determinado no mercado pela interação das forças da oferta e da procura.
- A procura de um fator de produção depende do seu preço (Trabalho/Salário; Capital/Taxa de juro).
- A procura de um fator de produção é uma procura derivada e depende do valor da produtividade marginal do fator (e.g., L = PQ.PmgL).
12.10. Aspetos
Conclusivos
- Teórico, humanista, matemático e historiador, Marshall sintetiza o melhor da análise clássica com os novos instrumentos dos marginalistas para explicar as forças que determinam os preços e a afetação dos recursos.
- A doutrina económica não é um corpo de verdade absoluta, mas sim um motor para a descoberta da verdade concreta.
- O estudo da economia deve proporcionar os meios para combater a pobreza e melhorar o bem-estar.
- Ekelund, R.B. e R.F. Hérbert [Cap. 14]
- Rima, I.H. [Cap. 14]
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