18. A abordagem
Monetarista
18.1. Introdução
A abordagem Monetarista surgiu
em meados dos anos 50/60 e pretendia envolver uma tentativa de reformular a
chamada Teoria Quantitativa da Moeda.
- Qual era o objetivo dos
Monetaristas?
Relançar a importância da Moeda
e da Política Monetária.
- Porquê?
Porque, segundo a T.Q.M., alterações
no stock de moeda eram vistos como fator principal para explicar as variações
do rendimento nominal (isto, segundo os Monetaristas).
A análise Keynesiana tinha uma
função diferente, é que ela se centrava nos chamados distúrbios reais, ou seja,
nas flutuações do Investimento e do Consumo autónomo. Estas flutuações eram as
principais causas das flutuações do rendimento nominal.
Contrariamente à T.Q.M., a
Teoria Geral de Keynes foi interpretada como implicando que, em condições de
subemprego, a velocidade de circulação da moeda era muito instável e, portanto,
adaptava-se a quaisquer alterações, independentemente da Oferta de moeda ou do
rendimento nominal. Como consequência, a moeda era vista como sendo
relativamente pouco importante.
A T.Q.M. foi formulada
inicialmente por David Hume (séc. XVIII) e foi retomada mais tarde pelos
Clássicos, que depois a inovaram e modificaram (Fisher e Marshall).
Velocidade
de Circulação da Moeda (Marshall e Fisher)
V =
PIB/M
Para compreendermos melhor os
Monetaristas, necessitamos de introduzir o conceito de (V). Este
conceito deveu-se a Marshall e Fisher e mede a velocidade a que a moeda circula
através da economia ou muda de mãos, ou seja, é o rácio entre o PIB nominal e a
quantidade de moeda: V = PIB/M.
À mais ou menos 30 anos atrás,
a Abordagem Monetarista dividiu-se um duas:
- Uma seguiu a velha tradição monetarista.
- A outra transformou-se na chamada Nova Escola Clássica.
Hipóteses básicas do
Monetarismo:
- Os Monetaristas defendem que a (V) é relativamente estável. O que isso significa? Significa que se V é fixa, as variações de M causam variações proporcionais do PIB nominal.
- Eles dizem que o mercado de trabalho está permanentemente em equilíbrio, isto porque os salários nominais são flexíveis e, portanto, garante esse equilíbrio. Esta hipótese é igual à do Modelo Clássico.
- Os Monetaristas abandonam a hipótese da informação perfeita (diferente dos Clássicos) o que os leva a dizer que alguns comportamentos dos agentes económicos são baseados e expetativas. Expetativas que eles chamam de Expetativas adaptativas. Isto significa que a formação dessas expetativas depende dos valores passados da variável em causa. Devido ao facto de assumir que a informação não é perfeita, podem ocorrer erros na formulação das expetativas, tendo como consequência os desvios (ainda que temporários) do nível de rendimento de pleno emprego, portanto desemprego.
- Os Monetaristas consideram que as negociações salariais são feitas com base nos salários nominais. Assim, os agentes económicos terão em conta as expetativas quanto à evolução dos preços. Durante esse período os agentes levam em conta a taxa de inflação esperada (πe).
18.2. A Essência do Monetarismo
Pontos Centrais
do Pensamento Monetarista:
- O crescimento da Oferta de Moeda é o primeiro e sistemático determinante do PIB nominal.
- Os preços e os salários são relativamente flexíveis, enquanto em Keynes os preços e os salários eram relativamente rígidos.
Se a
curva DA dos monetaristas é muito inclinada no curto prazo, então significa que quando aumenta o stock de moeda, a curva DA desloca-se
e os
efeitos desse deslocamento verificam-se mais em termos de variação dos preços
do que sobre o rendimento real.
- Os Monetaristas pensam que a economia privada é relativamente estável.
A
economia entregue a si própria não é propensa à instabilidade e que as
alterações do PIB nominal devem-se a alterações no stock de moeda.
18.3. Funcionamento do
Mercado de Trabalho:
Desemprego natural e desemprego
voluntário
Segundo a hipótese do modelo
Clássico, a informação é perfeita, enquanto na hipótese dos monetaristas a
informação não é perfeita.
Será que
o facto de a informação não ser perfeita tem consequências no Mercado de
Trabalho?
Existe uma quantidade de
informação disponível que é igual quer para as empresas quer para os
trabalhadores. No entanto, só as empresas com essa informação conseguem
determinar a quantidade de trabalhadores que querem contratar. Os
trabalhadores, embora tenham acesso à mesma informação, têm uma dificuldade
acrescida, pois não sabem quais os preços que vão vigorar no próximo período e,
portanto, decidem a quantidade de trabalho que oferecem com base no Preço
Esperado (Pe).
Se os preços baixam, os
salários reais que vigoram na economia aumentam e as empresas apercebem-se
desse aumento imediatamente, logo contraem a Curva de Procura de Trabalho.
Os trabalhadores não se
apercebem logo de que houve esta diminuição dos preços porque eles tomam as
suas decisões com base no salário real esperado e não com base no salário real
efetivo.
Perante isto, há que
distinguir duas situações:
- A situação de curto prazo, ou seja, a passagem de 0 →1. Quando os trabalhadores não se apercebem da alteração dos preços e a Curva de Oferta de Trabalho fica fixa, o salário nominal diminui e o nível de emprego também, logo surge uma situação de desemprego. Este desemprego é voluntário porque em (1) há equilíbrio entre a Curva da Oferta e a Curva de Procura. As pessoas que estão dispostas a trabalhar àquele salário estão empregadas e aquelas que querem ganhar mais estão desempregadas.
- A situação de longo prazo, ou seja, a passagem de 1 → 2. Os trabalhadores começam-se a aperceber que os preços já não são P0 e, portanto, vão começar a ajustar as suas expetativas e a Curva de Oferta de Trabalho vai deslocar-se sucessivamente até atingir o ponto (2) em que o volume de emprego se mantém igual ao inicial, ou seja, se mantenha na sua taxa natural de desemprego.
Desemprego Natural
De acordo com Friedman, existe
para qualquer economia um nível de equilíbrio do produto ao qual corresponde
uma taxa natural de desemprego. Esta é a combinação emprego/salário real para a
qual a Oferta de Trabalho iguala a Procura e onde não existem erros na
formulação das expetativas (P = Pe).
Este
estado natural também acontecia no modelo Clássico. Então qual a diferença?
A diferença está no facto de
os Monetaristas aceitarem que no curto prazo a economia se pode afastar da
situação de pleno emprego.
18.4. Comparação das
abordagens Monetarista e Keynesiana
Podem-se observar nos gráficos
da SA e da DA. As diferenças são de dois tipos: Umas centram-se no comportamento
da DA e outras no comportamento da SA.
As duas Escolas estão em
desacordo quanto aos fatores que influenciam a Curva da Oferta Agregada (SA).
1)
Os Monetaristas pensam que a DA é apenas
afetada por M e também pensam que a Política Orçamental não tem efeitos.
Os
Keynesianos dizem que a realidade é mais complexa. Embora eles achem que M
(Moeda) afeta a DA e, consequentemente, o Produto e os Preços, eles dizem que
existem outros fatores também importantes (G, -T, X) que podem deslocar a DA,
ou seja, influenciar o Y e P.
2)
A segunda diferença está na forma como
eles veem a curva da Oferta Agregada (SA).
Os
Keynesianos dizem que há rigidez dos preços e dos salários.
Os
Monetaristas dizem que há flexibilidade dos preços e dos salários.
Os
Monetaristas acham que os Keynesianos são muito exagerados quanto à rigidez dos
preços e dos salários. Segundo eles, a Curva SA é muito mais inclinada do que a
considerada pelos Keynesianos. Obviamente que isto tem implicações em termos da
análise económica.
No
caso dos Monetaristas, deslocações da SA têm maiores efeitos sobre os preços e
pouco efeitos sobre o rendimento, uma vez que a SA é muito vertical.
No
caso dos Keynesianos, deslocamentos da SA têm maiores efeitos sobre o Y do que
sobre P.
18.5. A Instabilidade
da Curva de Phillips
Os Monetaristas também se
preocuparam com a Curva de Philips.
Na década de 1950 surgiram uma
série de debates em que o principal assunto era a Inflação. Porquê? Porque esta
inflação constituía o principal problema com que se confrontavam os políticos.
Este debate foi dominado pelo chamado conceito da Curva de Phillips (isto não
quer dizer que antes não se tivesse falado da inflação).
A Curva de Phillips original
dizia que existia um trade-off entre a taxa de inflação (π) e a taxa de desemprego
(μ) e que este trade-off era uma relação estável e que, de certa forma, era uma
relação estável para a economia. Se aumentava π diminuía μ e vice-versa.
A partir de meados da década
de 1960, verificou-se que havia uma tendência para o crescimento da π. O
problema era que o aumento da π não fazia diminuir μ.
Isto veio introduzir alguma
instabilidade da Curva de Phillips. Porquê? Porque parecia que ela já não
explicava tão bem a realidade económica.
Esta situação veio a
agravar-se por volta dos anos de 1970 devido ao chamado Choque Petrolífero.
Aumentava a π e aumentava μ,
então a Curva de Phillips original estava posta de parte. É nesta altura que se
chega à conclusão que afinal não existe apenas uma Curva de Phillips mas sim um
conjunto de Curvas de Phillips no curto prazo.
Este facto foi abordado
teoricamente por Friedman e Phelps. Estes autores criticavam a visão
Keynesiana, defendendo a importância de incorporar as expetativas de inflação
no processo de negociações salariais.
(1) –
Curva de Phillips original
(2) – O
Efeito de um Choque Petrolífero
Este ajustamento conduzia à
chamada Curva de Phillips aumentada das expetativas.
Com isto passamos a ter duas
situações:
- Um conjunto de Curvas de Phillips negativamente inclinadas no curto prazo.
- No longo prazo, uma Curva de Phillips vertical ao nível da taxa natural de desemprego.
O que
significa a Curva de Phillips vertical no longo prazo?
Significa que, em termos de
política económica, a manutenção de um nível de desemprego abaixo da taxa
natural só era possível no curto prazo, ou no longo prazo, mas apenas com uma
situação de inflação crescente ou acelerada.
18.6. Política Monetária na perspetiva
Monetarista
Os monetaristas não defendiam
a utilização de políticas monetárias discricionárias, ou seja, uma política
monetária única. O que eles diziam era que a implementação de uma política
monetária expansiva com o objetivo de diminuir a taxa de inflação vai, no longo
prazo, gerar apenas mais inflação.
Assim, a política monetária só
terá efeitos sobre as variáveis reais da economia, ou seja, enquanto a taxa de
inflação esperada for diferente da taxa de inflação observada (válido apenas no
curto prazo).
Mas no longo prazo a π = πe
e as variáveis reais, nomeadamente o desemprego, estão no seu nível natural de
desemprego e estão determinadas nos fatores reais da economia.
Assim, os
Monetaristas aconselham as autoridades monetárias a adotarem regras na condução
da política económica. É aquilo que elas chamam de Regra Monetária Fixa,
ou seja, a adotarem uma taxa de crescimento de stock de moeda que seja
constante ao longo do tempo, o que evita, segundo eles, as fontes de
instabilidade económica. Eles justificam esta posição com base na dificuldade
de prever a evolução da economia e os efeitos da política adotada.
Eles fizeram uma análise retrospetiva
e concluíram que no passado as autoridades monetárias, ao adotarem políticas
pontuais, acabaram por desestabilizar ainda mais a economia.
18.7. Conclusão:
Monetaristas Versus Keynesianos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Ferraz, A. (1997)“Análise Económica – Teoria e Prática” [págs. 333-348]
- Snowdon, B. Vane H. e Wynarczyk, P.(2001) [págs. 137-169]
- Snowdon, B. Vane H.,(1997) [págs. 181-261]
- Ekelund, R. B. and Hérbert, R.F.,(1997) [Cap. 19]
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