terça-feira, 10 de março de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo18. A abordagem Monetarista

18. A abordagem Monetarista


18.1. Introdução


A abordagem Monetarista surgiu em meados dos anos 50/60 e pretendia envolver uma tentativa de reformular a chamada Teoria Quantitativa da Moeda.

- Qual era o objetivo dos Monetaristas?

Relançar a importância da Moeda e da Política Monetária.

- Porquê?

Porque, segundo a T.Q.M., alterações no stock de moeda eram vistos como fator principal para explicar as variações do rendimento nominal (isto, segundo os Monetaristas).

A análise Keynesiana tinha uma função diferente, é que ela se centrava nos chamados distúrbios reais, ou seja, nas flutuações do Investimento e do Consumo autónomo. Estas flutuações eram as principais causas das flutuações do rendimento nominal.

Contrariamente à T.Q.M., a Teoria Geral de Keynes foi interpretada como implicando que, em condições de subemprego, a velocidade de circulação da moeda era muito instável e, portanto, adaptava-se a quaisquer alterações, independentemente da Oferta de moeda ou do rendimento nominal. Como consequência, a moeda era vista como sendo relativamente pouco importante.

A T.Q.M. foi formulada inicialmente por David Hume (séc. XVIII) e foi retomada mais tarde pelos Clássicos, que depois a inovaram e modificaram (Fisher e Marshall).



Velocidade de Circulação da Moeda (Marshall e Fisher)

V = PIB/M

Para compreendermos melhor os Monetaristas, necessitamos de introduzir o conceito de (V). Este conceito deveu-se a Marshall e Fisher e mede a velocidade a que a moeda circula através da economia ou muda de mãos, ou seja, é o rácio entre o PIB nominal e a quantidade de moeda: V = PIB/M.


À mais ou menos 30 anos atrás, a Abordagem Monetarista dividiu-se um duas:
  •          Uma seguiu a velha tradição monetarista.
  •          A outra transformou-se na chamada Nova Escola Clássica.



Hipóteses básicas do Monetarismo:
  •      Os Monetaristas defendem que a (V) é relativamente estável. O que isso significa? Significa que se V é fixa, as variações de M causam variações proporcionais do PIB nominal.
  •      Eles dizem que o mercado de trabalho está permanentemente em equilíbrio, isto porque os salários nominais são flexíveis e, portanto, garante esse equilíbrio. Esta hipótese é igual à do Modelo Clássico.
  •     Os Monetaristas abandonam a hipótese da informação perfeita (diferente dos Clássicos) o que os leva a dizer que alguns comportamentos dos agentes económicos são baseados e expetativas. Expetativas que eles chamam de Expetativas adaptativas. Isto significa que a formação dessas expetativas depende dos valores passados da variável em causa. Devido ao facto de assumir que a informação não é perfeita, podem ocorrer erros na formulação das expetativas, tendo como consequência os desvios (ainda que temporários) do nível de rendimento de pleno emprego, portanto desemprego.
  •   Os Monetaristas consideram que as negociações salariais são feitas com base nos salários nominais. Assim, os agentes económicos terão em conta as expetativas quanto à evolução dos preços. Durante esse período os agentes levam em conta a taxa de inflação esperada (πe).



18.2. A Essência do Monetarismo


Pontos Centrais do Pensamento Monetarista:
  •      O crescimento da Oferta de Moeda é o primeiro e sistemático determinante do PIB nominal.
            O Monetarismo defende que a Curva de Procura Agregada (DA) é afetada em                       primeiro lugar pelas variações da Oferta de Moeda, ou seja, as principais variáveis               macroeconómicas (Y, P, N) são afetadas pela Oferta de Moeda.→ O que pensam                 em relação à Politica Orçamental?Eles pensam que esta é irrelevante, que não tem             qualquer impacto na economia, porque se V é fixa, então a única variável que afeta             o   PIB nominal é a M.
  •       Os preços e os salários são relativamente flexíveis, enquanto em Keynes os preços     e os salários eram relativamente rígidos.
             Os Monetaristas defendiam que a Curva de Philips era bastante inclinada (mesmo                no curto prazo) e no longo prazo era vertical.
            Se a curva DA dos monetaristas é muito inclinada no curto prazo, então significa                    que quando aumenta o stock de moeda, a curva DA desloca-se





e os efeitos desse deslocamento verificam-se mais em termos de variação dos preços do que sobre o rendimento real.
  •          Os Monetaristas pensam que a economia privada é relativamente estável.

          A economia entregue a si própria não é propensa à instabilidade e que as alterações           do PIB nominal devem-se a alterações no stock de moeda.





18.3. Funcionamento do Mercado de Trabalho:


        Desemprego natural e desemprego voluntário

Segundo a hipótese do modelo Clássico, a informação é perfeita, enquanto na hipótese dos monetaristas a informação não é perfeita.

Será que o facto de a informação não ser perfeita tem consequências no Mercado de Trabalho?


Existe uma quantidade de informação disponível que é igual quer para as empresas quer para os trabalhadores. No entanto, só as empresas com essa informação conseguem determinar a quantidade de trabalhadores que querem contratar. Os trabalhadores, embora tenham acesso à mesma informação, têm uma dificuldade acrescida, pois não sabem quais os preços que vão vigorar no próximo período e, portanto, decidem a quantidade de trabalho que oferecem com base no Preço Esperado (Pe).


















Se os preços baixam, os salários reais que vigoram na economia aumentam e as empresas apercebem-se desse aumento imediatamente, logo contraem a Curva de Procura de Trabalho.


Os trabalhadores não se apercebem logo de que houve esta diminuição dos preços porque eles tomam as suas decisões com base no salário real esperado e não com base no salário real efetivo.



Perante isto, há que distinguir duas situações:
  •          A situação de curto prazo, ou seja, a passagem de 0 →1. Quando os trabalhadores não se apercebem da alteração dos preços e a Curva de Oferta de Trabalho fica fixa, o salário nominal diminui e o nível de emprego também, logo surge uma situação de desemprego. Este desemprego é voluntário porque em (1) há equilíbrio entre a Curva da Oferta e a Curva de Procura. As pessoas que estão dispostas a trabalhar àquele salário estão empregadas e aquelas que querem ganhar mais estão desempregadas.


  •         A situação de longo prazo, ou seja, a passagem de 1 → 2. Os trabalhadores começam-se a aperceber que os preços já não são P0 e, portanto, vão começar a ajustar as suas expetativas e a Curva de Oferta de Trabalho vai deslocar-se sucessivamente até atingir o ponto (2) em que o volume de emprego se mantém igual ao inicial, ou seja, se mantenha na sua taxa natural de desemprego.


Desemprego Natural

De acordo com Friedman, existe para qualquer economia um nível de equilíbrio do produto ao qual corresponde uma taxa natural de desemprego. Esta é a combinação emprego/salário real para a qual a Oferta de Trabalho iguala a Procura e onde não existem erros na formulação das expetativas (P = Pe).

Este estado natural também acontecia no modelo Clássico. Então qual a diferença?

A diferença está no facto de os Monetaristas aceitarem que no curto prazo a economia se pode afastar da situação de pleno emprego.



18.4. Comparação das abordagens Monetarista e Keynesiana





Podem-se observar nos gráficos da SA e da DA. As diferenças são de dois tipos: Umas centram-se no comportamento da DA e outras no comportamento da SA.

As duas Escolas estão em desacordo quanto aos fatores que influenciam a Curva da Oferta Agregada (SA).

1)    Os Monetaristas pensam que a DA é apenas afetada por M e também pensam que a Política Orçamental não tem efeitos.
Os Keynesianos dizem que a realidade é mais complexa. Embora eles achem que M (Moeda) afeta a DA e, consequentemente, o Produto e os Preços, eles dizem que existem outros fatores também importantes (G, -T, X) que podem deslocar a DA, ou seja, influenciar o Y e P.


2)    A segunda diferença está na forma como eles veem a curva da Oferta Agregada (SA).
Os Keynesianos dizem que há rigidez dos preços e dos salários.
Os Monetaristas dizem que há flexibilidade dos preços e dos salários.
Os Monetaristas acham que os Keynesianos são muito exagerados quanto à rigidez dos preços e dos salários. Segundo eles, a Curva SA é muito mais inclinada do que a considerada pelos Keynesianos. Obviamente que isto tem implicações em termos da análise económica.
No caso dos Monetaristas, deslocações da SA têm maiores efeitos sobre os preços e pouco efeitos sobre o rendimento, uma vez que a SA é muito vertical.
No caso dos Keynesianos, deslocamentos da SA têm maiores efeitos sobre o Y do que sobre P.



18.5. A Instabilidade da Curva de Phillips


Os Monetaristas também se preocuparam com a Curva de Philips.

Na década de 1950 surgiram uma série de debates em que o principal assunto era a Inflação. Porquê? Porque esta inflação constituía o principal problema com que se confrontavam os políticos. Este debate foi dominado pelo chamado conceito da Curva de Phillips (isto não quer dizer que antes não se tivesse falado da inflação).

A Curva de Phillips original dizia que existia um trade-off entre a taxa de inflação (π) e a taxa de desemprego (μ) e que este trade-off era uma relação estável e que, de certa forma, era uma relação estável para a economia. Se aumentava π diminuía μ e vice-versa.

A partir de meados da década de 1960, verificou-se que havia uma tendência para o crescimento da π. O problema era que o aumento da π não fazia diminuir μ.

Isto veio introduzir alguma instabilidade da Curva de Phillips. Porquê? Porque parecia que ela já não explicava tão bem a realidade económica.

Esta situação veio a agravar-se por volta dos anos de 1970 devido ao chamado Choque Petrolífero.

Aumentava a π e aumentava μ, então a Curva de Phillips original estava posta de parte. É nesta altura que se chega à conclusão que afinal não existe apenas uma Curva de Phillips mas sim um conjunto de Curvas de Phillips no curto prazo.

Este facto foi abordado teoricamente por Friedman e Phelps. Estes autores criticavam a visão Keynesiana, defendendo a importância de incorporar as expetativas de inflação no processo de negociações salariais.















                                                                             
(1)  – Curva de Phillips original
(2)  – O Efeito de um Choque Petrolífero

Este ajustamento conduzia à chamada Curva de Phillips aumentada das expetativas.

Com isto passamos a ter duas situações:
  •          Um conjunto de Curvas de Phillips negativamente inclinadas no curto prazo.
  •          No longo prazo, uma Curva de Phillips vertical ao nível da taxa natural de desemprego.



O que significa a Curva de Phillips vertical no longo prazo?

Significa que, em termos de política económica, a manutenção de um nível de desemprego abaixo da taxa natural só era possível no curto prazo, ou no longo prazo, mas apenas com uma situação de inflação crescente ou acelerada.


18.6. Política Monetária na perspetiva Monetarista


Os monetaristas não defendiam a utilização de políticas monetárias discricionárias, ou seja, uma política monetária única. O que eles diziam era que a implementação de uma política monetária expansiva com o objetivo de diminuir a taxa de inflação vai, no longo prazo, gerar apenas mais inflação.

Assim, a política monetária só terá efeitos sobre as variáveis reais da economia, ou seja, enquanto a taxa de inflação esperada for diferente da taxa de inflação observada (válido apenas no curto prazo).

Mas no longo prazo a π = πe e as variáveis reais, nomeadamente o desemprego, estão no seu nível natural de desemprego e estão determinadas nos fatores reais da economia. 

Assim, os Monetaristas aconselham as autoridades monetárias a adotarem regras na condução da política económica. É aquilo que elas chamam de Regra Monetária Fixa, ou seja, a adotarem uma taxa de crescimento de stock de moeda que seja constante ao longo do tempo, o que evita, segundo eles, as fontes de instabilidade económica. Eles justificam esta posição com base na dificuldade de prever a evolução da economia e os efeitos da política adotada.

Eles fizeram uma análise retrospetiva e concluíram que no passado as autoridades monetárias, ao adotarem políticas pontuais, acabaram por desestabilizar ainda mais a economia.


18.7. Conclusão: Monetaristas Versus Keynesianos






























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  •          Ferraz, A. (1997)“Análise Económica – Teoria e Prática” [págs. 333-348]
  •          Snowdon, B. Vane H. e Wynarczyk, P.(2001) [págs. 137-169]
  •          Snowdon, B. Vane H.,(1997) [págs. 181-261]
  •          Ekelund, R. B. and Hérbert, R.F.,(1997) [Cap. 19]












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