quinta-feira, 5 de março de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo 11. O marginalismo: Jevons e Menger

11.     O marginalismo: Jevons e Menger


11.1. Introdução


A primeira área da teoria económica a ser revolucionada, através do redescobrimento do conceito marginal, foi a teoria do valor. William Jevons, Carl Menger e Leon Walras formularam, de forma indiferente, uma teoria do valor de troca baseada no princípio da utilidade decrescente.

O objetivo fundamental da ciência económica, por parte destes autores, era o estudo a afetação de recursos. Contudo, estes tinham diferentes perspetivas sobre o método: Jevons e Menger viam a teoria do valor (preços) através da Umg (lado da procura), enquanto a teoria do valor por parte de Walras era a Umg (lado da procura) e custos de produção (lado da oferta).


11.2. William Stanley Jevons










Nasce em Liverpool, 9º filho de uma família de comerciantes de ferro.
Ingressa na University College London (UCL) em 1852 para estudar química, matemática e logica.
Abandona os estudos no 2º ano e emigra para a Austrália onde trabalhou como avaliador da Casa da Moeda (1854-1859).
Convive na Austrália com a comunidade científica local e começa a desenvolver o seu interesse pela economia.
Em 1859, regressa a Londres e termina os seus estudos em filosofia, lógica e economia política na UCL.

Leciona economia política na UCL a partir de 1880 e morre afogado em 1882.





  • Notice of the General Mathematical Theory of Political Economy, (1852)
  • On the Study of Periodic Commercial Fluctuations, (1862).
  •  Pure Logic, or the science of quality apart from quantity, (1863).
  • The Theory of Political Economy, (1871).
  •  Principles of Science: A treatise on logic and scientific method, (1874).


 11.2.1 Teoria do Valor


Jevons inicia a sua obra criticando Ricardo e Mill sobre a teoria do valor trabalho e a doutrina do fundo salarial.
Jevons diz que a teoria do valor tem por base a análise da utilidade e cria em teoria de troca e uma teoria da oferta de trabalho e capital para demonstrar que “o valor depende totalmente da utilidade”.

11.2.2 Teoria da Utilidade


Segundo ele:
  •          Os indivíduos procuram maximizar o prazer e minimizar a dor (hedonismo, baseado em Betham).
  •          O propósito da produção é o consumo e as escolhas de consumo baseiam-se na sua utilidade.
  •          A utilidade não deve ser entendida como uma qualidade intrínseca dos bens mas sim como um ato de valorização subjetiva.


11.2.3 Utilidade total e grau de Utilidade


Jevons trata formalmente a análise da utilidade, usando funções contínuas [U(x)] para definir graficamente os conceitos de Utilidade Total (UT) e de Grau de Utilidade (Umg).


Define a lei da variação da utilidade, em que “o grau de utilidade varia inversamente com a quantidade consumida de um bem”, e estabelece o princípio da igualdade marginal.







































Questão: Como é que um individuo decide afetar o seu rendimento (Y) na aquisição dos bens X, Z e N?

Solução:   UmgX/Px = Umg Z/Pz = UmgN/PN
                         R = PX X + PZ Z + PN N


11.2.4 Teoria da Produção

 É a utilização conjunta da teoria da utilidade com a lei da indiferença* para explicar a troca de bens pelos indivíduos no mercado.

*Lei da indiferença: “Em qualquer momento, num mercado livre e aberto, não pode haver mais do que um preço para o mesmo bem homogéneo”.

A troca realiza-se até ao ponto em que o rácio das utilidades marginais dos bens igualar o rácio dos preços relativos (princípio equimarginal).


  •          Objetivo de Jevons: demonstrar que o valor depende totalmente da utilidade.


  •          Porque é que o custo de produção não determina o valor?

Ø  O custo de produção determina a oferta.
Ø  A oferta determina o grau final de utilidade.
Ø  O grau final de utilidade determina o valor.
  •          A mão-de-obra não pode ser o regulador do valor porque ela própria possui valores distintos:
Eu defendo a mão-de-obra como sendo essencialmente variável, de modo que o seu valor deve ser determinado pelo valor do produto, e não o valor do produto determinado pelo valor da mão-de-obra”(in, The Theory of Political Economy).


11.2.5 Teoria da Oferta de Trabalho


  •       O trabalho é um custo psicológico subjetivo, um “esforço doloroso”. O problema da economia é “satisfazer as nossas necessidades com o mínimo de esforço (dor) ”.
  •          A oferta de esforço exige que se compare a utilidade dos ganhos (rendimento) com a desutilidade do trabalho.
  •          O esforço deve ser oferecido até ao ponto em que a utilidade marginal do rendimento seja igual à desutilidade marginal do trabalho.


























Para além da teoria dedutiva, Jevons também se interessou pelo trabalho empírico e por algumas áreas de economia aplicada:
  •          Recursos naturais esgotáveis (oferta de carvão na Grã-Bretanha).
  •          Ciclos comerciais (influências climatológicas).
  •          Metodologias para a construção de números-índices (preços).
  •          Uso de gráficos semi-logarítmicos.
  •          Seguros e jogos de azar (apostas em jogos com valor esperado nulo).



11.3. Carl Menger









Nasce na Galiza (1840), região austríaca que mais tarde daria origem à Polónia.
Estuda Direito e Ciência Política nas Universidades de Viena e Praga, doutorando-se em Jurisprudência na Universidade de Cracóvia.
Interessa-se pela economia política devido, provavelmente, á sua experiência enquanto jornalista da área económica nos jornais “Lemberger Zeitung” e “Weiner Zeitung” (1863-1871).
Foi professor de Direito e Ciência Política na Universidade de Viena no período 1872-1876 e tutor do arquiduque Rudolfo, príncipe herdeiro da Áustria entre os anos de 1876 e 1878.
Voltou a dar aulas na Universidade de Viena entre 1879 e 1903 (ano em que se aposentou), falecendo em Viena (1921).


  •          Principles of Economics, (1871).
  •          Investigations into the Method of Social Sciences: With special reference to economics, (1883).
  •          The Fallacies of Historicism in German Political Economy, (1884).
  •          Zur Theorie des Kapitals, (1888).
  •         Toward a systematic Classification of the Economic Sciences, (1889).
  •          On the Origins of Money, (1892).


  •          Capítulo 1: A Teoria Geral dos Bens
  •          Capítulo 2: Economia e Bens Económicos
  •          Capítulo 3: A Teoria do Valor
  •          Capítulo 4: A Teoria da Troca
  •          Capítulo 5: A Teoria do Preço



11.3.1 O Método

 Fundador da escola de pensamento económico que mais tarde viria a ser designada por Escola Austríaca, Menger preconizava:
  •          A abordagem subjetiva centrada no indivíduo.
  •          A rejeição dos métodos matemáticos.
  •     O uso do método dedutivo (em oposição ao indutivo preconizado pelos historicistas alemães).

Ø  As leis exatas da economia teórica prevalecem sobre as descobertas provenientes dos estudos históricos baseados em dados empíricos.


  •       Bens de primeira ordem (bens de consumo) e bens de ordem superior (fatores de produção).
  •          Bens económicos e bens não-económicos (livres).
  •           Para que uma “coisa” seja considerada um bem económico:

Ø  Existência de uma necessidade.
Ø  O objetivo deve ter a propriedade de satisfazer essa mesma necessidade.
Ø  Deve ser escasso face à necessidade a satisfazer.
  •      Os bens que não são escassos (livres) podem ser muito úteis mas não são bens económicos.




11.4. A Valorização dos bens de Consumo I

  •    Os bens económicos têm de ser economizados.
  •     A preservação dos bens económicos fundamenta a necessidade de proteger a             propriedade privada.
  •     O “Homem Economizador” – aquele que procura maximizar a sua satisfação – rege     o seu comportamento de acordo com o princípio equimarginal:
  •   Dado um meio escasso (dinheiro, por exemplo), adquirirá os bens de consumo de       forma a obter, na margem, satisfações idênticas.

Começa por satisfazer a necessidade mais importante; a seguir, inicia a satisfação das menos importantes sem que, contudo, tenha satisfeito completamente a primeira.



11.5. A Valorização dos Bens de Consumo II


  •        Menger não deduz formalmente a condição para a maximização da utilidade nem  utiliza o conceito de utilidade marginal (ao contrário de Jevons), mas em todo o seu  raciocínio parece estar presente a aceitação daquele objetivo comportamental.
  •     Com base numa tabela numérica (tabela 11.1) ilustra o conceito de satisfação  decrescente (marginal) e o modo com o indivíduo toma as suas decisões de                consumo na presença da escassez.




MERCADORIAS
UNIDADES
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
8
7
6
5
4
3
2
1
0

7
6
5
4
3
2
1
0


6
5
4
3
2
1
0



5
4
3
2
1
0




4
3
2
1
0





3
2
1
0






2
1
0







10º
1
0








11º
0











11.6. A Valorização dos Bens de Consumo III


O valor do bens deriva da importância que atribuímos à última unidade do bem quando aplicada à satisfação das nossas necessidades. Por outras palavras, o valor de um bem é definido em termos de satisfação que seria perdida se a última unidade do bem não estivesse disponível (custo de oportunidade).

Este conceito é radicalmente diferente da teoria do valor trabalho aceite pelos economistas clássicos (Smith, Ricardo, Mill).




11.7. A Valorização dos Fatores de Produção


  •          Menger não analisa o lado da oferta (custos) mas aplica também um conceito de custo de oportunidade para valorizar os bens de ordem superior (fatores de produção).
  •      O valor dos fatores de produção provém do valor dos bens de ordem inferior (por exemplo, bens de consumo).
  •       Teoria da imputação – os bens de ordem superior também geram satisfação, mas apenas indiretamente.
  •          O valor de uma unidade do fator de produção (por exemplo, o trabalho) é o valor que se atribui à perda de satisfação líquida resultante de não ter acesso aos bens de consumo final que seriam produzidos com recurso a essa unidade do fator, ou seja:


     

  •          Extensão da teoria do valor: influência das diferenças qualitativas dos bens no seu valor.
  •          Teoria da troca e os seus limites: os indivíduos trocam bens com o propósito de aumentar a satisfação das suas necessidades.
  •          Teoria dos preços: efeitos das estruturas de mercado (concorrência e monopólio) nos preços.
  •          À semelhança de Jevons, mas ao contrário de Dupuit, não relaciona a utilidade (satisfação) com a curva de procura, ignorando, por isso, o conceito de excedente do consumidor.






  •          Ekelund, R. B. e R. F. Hérbert, [Capítulos 12 e 13]
  •          Rima, I. H., [Capítulo 12]








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