1. As contribuições de Cournot e Dupuit
10.1. Introdução
·
O
Modelo Clássico: visão geral
- “Economia clássica” (1776-1870): Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill.
- Preocupação com as questões do crescimento de longo prazo e a sua sustentabilidade.
- Consequência do crescimento para a distribuição do rendimento.
- Remoção dos obstáculos ao crescimento gerados pela legislação governamental.
·
O
Modelo Clássico: ideias estruturantes
- Teoria do valor de troca baseada no custo de produção.
- Paradoxo do valor (não comparabilidade dos valores de uso).
- Teoria da formação dos preços (preço de mercado e preço natural).
- Teoria do fundo salarial (procura de trabalho).
- Teoria da população (oferta de trabalho e salário de subsistência).
- Teoria da Renda e rendimentos decrescentes na agricultura.
- Progresso económico e estado estacionário.
- Lei de Say:
- Tendência para o equilíbrio de pleno emprego
- Perturbações devidas a fatores monetários
- Teoria do comércio internacional:
- Vantagem comparativa
- Termos de troca
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O
Modelo Clássico: fragilidades e críticas
- Teoria do valor de troca (custos de produção)
- Teoria do fundo salarial (procura de trabalho)
- Novas questões:
- Economias de escala e crescimento industrial
- Ciclos de negócios
Críticas:
- Marxistas
- Românticos (economia preocupada apenas com os fins materiais)
- Etc..
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O
Modelo Neoclássico: visão geral
- Período de transição da Economia Clássica para o que posteriormente viria a designar-se por economia neoclássica (1870-1890)
- Marco fundamental: “Revolução Marginalista” (1871)
- Fases evolutivas.
- Desenvolvimento da teoria da Utilidade marginal e das teorias da produção e da distribuição
- Síntese do pensamento neoclássico (Marshall, 1890)
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O
Modelo Neoclássico: ideias estruturantes
- Foco na margem
- Comportamento económico racional
- Ênfase microeconómico
- Uso do método dedutivo
- Ênfase na livre-concorrência
- Teoria dos preços orientada para a procura
- Ênfase na utilidade subjetiva
- Estado mínimo
·
O
Modelo Neoclássico: países e autores
- França:
- Antoine Cournot (1801-1877)
- Jules Dupuit (1804-1866)
- Leon Walras (1834-1910)
- Vilfredo Pareto (1848-1923)
- Inglaterra:
- Stanley Jevons (1835-1892)
- Alfred Marshall (1845-1926)
- Áustria:
- Carl Menger (1840-1921)
- E.U.A.:
- John Bates Clark (1847-1938)
- Irving Fisher (1867-1947)
- Suécia:
- John Gustav Wicksell (1851-1926)
10.2. Precursores do Pensamento Neoclássico
10.2.1 Antoine Cournot
Nasce
numa pequena cidade francesa (Haute-Saône) onde permanece até aos 15 anos.
Dos 15
aos 19 anos trabalha num escritório de advogados
Autodidata,
interessa-se pela filosofia, Direito e mais tarde pela Matemática,
licenciando-se na mesma ciência na Universidade de Sorbonne (1823) e, mais
tarde, doutora-se em Mecânica e Astronomia (1829).
Ingressa
na Academia de Paris, apadrinhado por Poisson.
Foi
reitor da Universidade de Dijon (1854) e faleceu em 1877.
- Traité d’astronomie, (1834)
- Recherches sur les principes mathématiques de la théorie des richesses, (1838)
- Exposition de la théorie des chances et des probabilités, (1843)
- Principes de la théorie des richesses, (1863)
Foi
pioneiro na utilização da matemática no raciocínio económico e da elaboração de
vários instrumentos largamente utilizados pela microeconomia a partir do final
do século XIX. Nomeadamente na função da procura (traduzindo a relação
decrescente entre a quantidade procurada de uma mercadoria e o seu preço), na
noção de elasticidade da procura relativamente ao preço (relação entre a
percentagem de variação da quantidade procurada e a percentagem da variação do
preço) e na teoria do monopólio e duopólio.
No que
se refere ao comportamento da empresa, este foi o primeiro autor a compreender
a natureza dos incrementos adicionais (marginais) de receita e a definir e
traçar uma função procura num livro.
10.2.1.1 Modelo de Monopólio
Cournot
desenvolveu a sua análise acerca da maximização do lucro, usando como exemplo
um monopolista proprietário de uma fonte de água mineral.
Demonstrou
que o monopolista não cobrará o preço mais elevado possível pelo bem mas, pelo
contrário, ajustará os seus preços de forma a maximizar as receitas líquidas.
Cournot
demonstrou que no caso de existir um custo nulo, o monopolista maximizará as
suas receitas totais (brutas).
O
autor assume uma função procura como D = F(p) e, embora não tenha feito esforço
para relacionar a procura à utilidade, compreendeu que a curva de procura é
negativamente inclinada (∂D/∂p <0) e demonstra matematicamente que o lucro é
maximizado quando a Receita Marginal iguala os Custos Marginais (Rmg = Cmg) ou
quando o declive da função lucro é nulo (∂π/∂q = 0). No caso de existirem
custos nulos, o máximo ocorre quando a Rmg = 0
Da
análise gráfica constata-se que o lucro é maximizado quando Rmg = Cmg e que a
Receita Total é máxima quando Rmg = 0.
No
caso de monopólio puro, Cournot julgou que a empresa constitui a totalidade da
indústria, pelo que o monopolista confronta-se com a mesma curva de procura que
a indústria. Assim sendo, o monopolista pode maximizar os lucros através quer
de variações nos preços quer de variações no volume de produção. Então, dada a
curva de procura, o monopolista pode selecionar o volume de produção que deseja
vender e deixar que os consumidores determinem o preço, ou fixar o preço e
deixar que os consumidores determinem a quantidade que irão adquirir.
Como
estamos numa situação de concorrência imperfeita, onde o monopolista representa
a totalidade das empresas no mercado, este pode praticar preços mais elevados,
prejudicando o consumidor que acaba por pagar um preço mais alto pelos bens,
diminuindo o seu bem-estar.
10.2.1.2 Modelo de Duopólio
É uma
das mais famosas teorias desenvolvidas por Cournot. Nesta, surge a introdução
de um vendedor adicional de água mineral.
O
autor considerava então dois monopolistas concorrentes, A e B, que vendiam um
bem homogéneo sem custo (água mineral).
Cournot
fez a suposição de que nenhum dos vendedores tem poder para designar o preço,
mas cada um tem capacidade de ajustar a quantidade que oferece à venda,
influenciando, assim, os compradores.
Ambos
os monopolistas conhecem a curva de procura para os seus produtos homogéneos.
Por outro lado, não existe informação entre os dois monopolistas, pelo que
ambos pensam que as suas ações não influenciam as quantidades oferecidas pelo
outro. Isto é, o monopolista B pensa que vai manter a sua quantidade produzida
constante independentemente do que o monopolista a faça e vice-versa.
Cournot
demonstra graficamente este resultado por meio das curvas de reação.
Cada curva de função de
reação representa as quantidades que cada monopolista deverá oferecer para
maximizar o seu lucro, de acordo com as quantidades oferecidas pelo outro
monopolista.
Juntando
as curvas de função reação dos dois monopolistas obter-se-á a quantidade de
equilíbrio de ambos, à qual voltarão sempre mesmo que se afastem dela.
Graficamente
representam-se da seguinte forma:
Se a Empresa A produzir a0,
então a Empresa B maximizará o seu lucro, produzindo b0. Porém, se B
produzir b0, então A maximizará o seu lucro se baixar o volume de
vendas para a1.Dado a1, B será motivado a aumentar o
produto para b1 e assim sucessivamente.
Atinge-se o equilíbrio
quando os dois níveis de produto forem compatíveis entre si, em ab = ba, ou
seja, quando a maximização do lucro da Empresa A é igual à da Empresa B. Neste
ponto o equilíbrio é estável (não há desfasamentos) dentro das condições
especificadas e no sentido de que qualquer desvio desse ponto conduz a reações
que levarão as quantidades oferecidas para os níveis ab e ba.
No que diz respeito ao
bem-estar dos consumidores, num mercado de duopólio, podem surgir duas
situações:
- Os monopolistas podem concordar em cooperar entre si e estabelecer um preço de monopólio, que irá provocar uma diminuição do bem-estar dos consumidores, dado irem pagar um preço mais elevado pelos bens que irão adquirir.
- Ou, pelo contrário, os monopolistas podem empenhar-se numa guerra de preços entre si que pode ser benéfica para os consumidores, uma vez que desta guerra pode resultar uma diminuição dos preços e o respetivo aumento do bem-estar.
Por
último, verifica-se que este modelo de Cournot forneceu pistas para outras
ideias muito importantes da economia, nomeadamente para a concorrência
imperfeita (Oligopólio) e para a Teoria dos Jogos.
10.2.2 Jules Dupuit
- On the Measurement of the Utility of Public Works, (1844)
- De l’influence des peages sur l’utilité des voies de communication, (1849)
- Du monopole des chemins de ferre, (1853)
- La liberte commerciale: son principe et ses consequences, (1860)
- L’economie politique est-elle une science ou n’est-elle qu’une etude?, (1863)
A sua
principal contribuição diz respeito aos seus interesses pela engenharia.
Durante o seu trabalho profissional ficou interessado pelos problemas
económicos das obras públicas, gestão de cheias e sistemas de abastecimento de água.
10.2.2.1 O Método
·
Recurso a instrumentos analíticos obtidos
através da combinação de 3 elementos.
Ø
Assuntos económicos relevantes
Ø
Informação estatística fiável sobre os assuntos
Ø
Análise matemática – lógica dedutiva e
ilustração gráfica – para ilustrar as eventuais relações económicas sugeridas
pelos factos. Validação das teorias confrontando-as com a realidade
·
A economia politica como uma ciência a ser
estudada com base na razão e na observação
Dupuit
foi o primeiro a analisar o conceito de Utilidade Marginal e a relacioná-la com
uma Curva de Procura. Ele mostrou que a utilidade que um individuo obtém de um
stock de bens homogéneos é determinada pela utilização que é feita das últimas
unidades de stock.
Segundo
Dupuit, a utilidade de todos os bens consumidos varia de acordo com a pessoa
que os consome e de acordo com a quantidade que cada um consome. A utilidade
que um individuo (ou conjunto de indivíduos) retira de um bem diminui com a
quantidade consumida desse bem – Utilidade Marginal decrescente (daí a
Curva de Procura ter inclinação decrescente).
A
Curva de utilidade marginal de um bem para um determinado individuo corresponde
à Curva de Procura desse bem.
O
conceito de Utilidade Marginal poderá ser ilustrado através de um exemplo que
envolve uma melhoria tecnológica no âmbito do abastecimento público de água a
uma cidade, conforme é demonstrado no gráfico seguinte:
Um consumidor está em
equilíbrio quando o preço de água é P1 e a quantidade procurada é Q1.
Dupuit assume agora que o preço da água
cai para P2 devido a uma inovação tecnológica.
Com um preço menor da
água, o individuo está em desequilíbrio no ponto c, então o consumidor
irá obter uma menor satisfação do que poderia ter. A Umg da última unidade do
stock existente do consumidor é maior do que a Umg da água, representada pelo
preço mais baixo. O que o consumidor costumava a pagar por Q1 de
água era maior do que o preço que deve pagar pela mesma quantidade.
Agora
o que acontece é que compra Q1
a um preço mais baixo, mas o consumidor irá ter uma maior satisfação marginal
entre Q1 e Q2. Então o consumidor, com o
preço P2, irá consumir
água até Q2, mas não para
além de Q2, que é onde
maximiza a sua satisfação total. Logo, o consumidor consegue obter um maior
bem-estar.
Tal
como Cournot, Jules Dupuit estabeleceu a equação para a curva de procura Y =
f(x), ou em alternativa, Qd = f(p).
Graficamente:
A
curva é idêntica ao gráfico anterior, em que demonstra a conceção de Dupuit que
a curva da procura é igual à curva da Umg. A ligação entre a curva da procura
com a utilidade tem em conta o bem-estar da economia.
Dupuit
considerou que a área total abaixo da curva de procura representa a utilidade
total produzida pela comodidade. Entre [0P’’] encontra-se o preço que os
consumidores estarão dispostos a pagar pela comodidade (acima do que deveriam
pagar).
A
quantia que devem pagar é representada pela área [0P’’n’’R’’] que representa as
receitas da empresa.
Se não
existirem custos, esta área pode ser chamada de Excedente do Produtor.
A
quantia que os consumidores estarão dispostos a pagar, acima do que deveriam
pagar, é a área [P’’n’’P] chamada de Excedente do Consumidor.
O Excedente
Social é a área [0R’’n’’P], ou seja, ES = EP + EC.
Dupuit
também desenvolveu uma teoria de monopólio, com e sem descriminação de preços,
relacionando-a com o excedente do consumidor e onde aplicou a curva de procura.
Ilustrou
as suas ideias através de um exemplo relativo a uma empresa monopolista de
transportes ferroviários. Este exemplo refere-se à tarifa que a empresa pode
cobrar por cada passageiro.
Se não
existirem custos de produção, á medida que o preço da tarifa vai aumentando, o
número de passageiros diminui, chegando a um ponto em que se perde a utilidade
e os lucros começam a diminuir.
Se
existirem custos de produção, não existe nenhuma tarifa que produza lucros
positivos. Então, a única forma de os lucros serem positivos, havendo custos de
produção, é através de diferentes preços para diferentes consumidores, ou seja,
diferenciação de preços.
Existindo
diferenciação de preços, acontece o seguinte:
Um
preço mais baixo P irá aumentar a receita dos vendedores e o excedente dos
consumidores, através da redução da utilidade perdida.
Um
preço mais alto P’ irá aumentar a receita dos vendedores mas diminui o
excedente do consumidor.
A
discriminação de preços poderá levar a variações do excedente do consumidor,
mas o lucro passará a ser positivo. A descriminação pode afetar a distribuição
do bem-estar sem afetar a utilidade total produzida.
Esta
discriminação de preços permite aumentar o bem-estar da economia, reduzindo a
utilidade perdida.
- Ekelund, R. B. e R. F. Hérbert (Capítulo 11)
- Rima, I. H. (Capítulos 9 e 10)
- Saby, B. e D. Saby (Capítulo 3)
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