quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo 8. As Contribuições de Stuart Mill

8.     As contribuições de Stuart Mill


8.1. Notas Biográficas




  •          A System of Logic, (1843).
  •      The Principles of Political Economy: With some Applications to Social Philosophy, (1848) → a sua obra mais relevante.
  •          On liberty, (1859).
  •          Utilitarianism, (1863).
  •          Auguste Comte and Positivism, (1865).
  •          The Subjection of Women, (1869).


8.2. Influências Intelectuais


John Stuart Mill foi influenciado por autores como Auguste Comte, Jeremy Bentham e David Ricardo.

Auguste Comte (1798-1857) Positivismo

Filósofo francês apontado como fundador da Sociologia – Ciência geral que abarcava todas as ciências sociais, incluindo a economia política.

A Sociologia deveria recusar o “espirito metafisico” e especializar-se na descrição e análise dos fenómenos observáveis com o objetivo de descobrir leis naturais.

O dedutivismo que caracterizava a economia política deveria dar lugar a um novo método – O positivismo (empirismo ou indutivismo).


Jeremy Bentham (1748-1832) → Filosofia Utilitarista

Stuart Mill tratou também os princípios utilitaristas de Bentham para reformar o capitalismo do século XIX.
Bentham mostrou, com o utilitarismo, que o Homem funciona baseado na dor e no prazer, a felicidade é a soma líquida de ambos. O propósito do governo deve ser o de garantir aos indivíduos a maximização do bem-estar ou felicidade social.
A distribuição da riqueza é função de fatores institucionais. A Lei dos rendimentos decrescentes à escala é o mais importante princípio da economia política.
A principal obra de Mill foi “Principles of Political Economy”, que durante duas décadas foi leitura obrigatória em Oxford. Surge daqui uma dicotomia entre as leis económicas da produção (as leis naturais) e as leis sociais da distribuição (vontade dos homens, gostos, valores, instituições).



A perspetiva Ricardiana de Mill reflete-se em alguns fatores como:
·   Teoria do valor trabalho – as variações dos preços relativos são explicadas por variações nos custos do trabalho.
·       Princípio dos rendimentos decrescentes na agricultura – o custo marginal aumenta com o output.
·    Tese malthusiana da população – a população aumenta mais rapidamente que a oferta de alimentos.
·        Doutrina do fundo salarial – a taxa de salário é determinada pelo quociente entre o fundo salarial e a dimensão da força de trabalho.


8.3. Método da ciência económica


Foi um dos primeiros economistas a expor, de forma clara, o que viria a tornar-se o método dominante da economia.
·         Rejeição das metodologias extremas: indutivismo e dedutivismo.
·    Preconização de um método determinista composto por elementos indutivos (do particular para o geral) e dedutivos (do geral para o particular)

8.4. Os Princípios de Economia Política


Principal obra: “Principles of Political Economy”
Mill estabelece uma relação entre as leis económicas da produção (leis naturais) e as leis sociais da distribuição (valores, instituições).

A obra principal de Mill abarca cinco áreas:
  •          Produção
  •          Distribuição
  •          Troca
  •      Influência do progresso da sociedade na produção e distribuição (Progresso económico)
  •          A influência do Governo



8.4.1 Produção

 As leis que regem a produção de riqueza são verdades físicas (leis naturais).

Mill identifica a mão-de-obra e os agentes naturais como os dois requisitos da produção. Ele faz a distinção entre mão-de-obra produtiva e improdutiva.

Define mão-de-obra produtiva como sendo aquela que resulta em geração de riqueza. A improdutiva é concebida como o stock de produtos do trabalho passado.

Igualmente, o consumo é produtivo ou improdutivo, se contribuir direta ou indiretamente para a manutenção do trabalho produtivo.

A mão-de-obra é mantida com o fundo salarial, cuja dimensão depende da decisão dos capitalistas em despenderem os seus ganhos em adiantamentos à mão-de-obra produtiva e não ao consumo improdutivo.

Assim, tal como Ricardo, Mill sustentava que a procura de mão-de-obra (Trabalho) é função da abstinência dos capitalistas, porque os salários representam adiantamentos que os capitalistas fazem aos trabalhadores.

A indústria é limitada pelo capital, o que implica que o emprego somente pode ser aumentado por novo capital. Isto leva Mill à segunda preposição fundamental no que diz respeito ao capital, ou seja, que o capital é o resultado da poupança.

É neste ponto que se invoca o princípio Smith-Say, de que “Poupança é dispêndio”. De acordo com este princípio, que passou a ser conhecido com a identidade de Say, não se destrói nem se perde o poder aquisitivo, a renda não usada em investimento → negar o entesouramento da moeda.

Considerando o fundo salarial como parte do capital circulante, é examinada a questão Ricardiana do efeito sobre o emprego do aumento da proporção de capital fixo em relação ao circulante, embora, diferentemente de Ricardo, Mill focalize o capital fixo dedicado à terra.

A sua conclusão também é diferente da de David Ricardo, por concluir que globalmente as melhorias na produção raramente são prejudiciais à classe trabalhadora, ainda que temporariamente.

Stuart Mill também é um verdadeiro ricardiano ao pronunciar a Lei dos rendimentos decrescentes para a mão-de-obra na agricultura.

Os rendimentos decrescentes impõem-se porque a quantidade de terra é fixa, a de terras é limitada e a deficiência de capital apresentam grandes impedimentos ao aumento da produção.

Esta lei dos rendimentos decrescentes só poderá ser compensada se existir um progresso económico, ou seja, um aperfeiçoamento técnico agrícola a fim de compensar esta tendência.

8.4.2 Distribuição

 Existe uma dicotomia entre as leis económicas da produção (leis naturais) e as leis sociais da distribuição (valores, instituições).

As leis da distribuição são determinadas por dois fatores:
  •          Concorrência (isto é, funcionamento dos mercados)
  •          Fatores institucionais (instituições, leis, hábitos, etc.)
 
      Que podem ser alterados através de reformas sociais.



8.4.3 Troca

 Mill rejeita a teoria do valor (preços relativos) de Ricardo (teoria do valor trabalho) em favor do valor baseado nos custos de produção (terra, trabalho e capital).

Mill atribui o valor da troca (ou o preço) de um qualquer bem à sua utilidade e escassez.

Ele analisa a formação dos preços através das Curvas de Oferta e Procura, utilizando apenas a linguagem verbal.

Discute, informalmente, o conceito de elasticidade e a forma como este afeta o valor de troca.



Exemplo: Num país com uma produção agrícola, um bovino “produz” carne e pele, que é uma oferta conjunta, com uma única produção de custo. Mas qual o lucro que se retira da carne e da pele?

→ Dada uma única função de custo, como calcular o lucro gerados pela produção de dois bens?

R: Sob a hipótese de proporções fixas dos fatores, o preço de cada bem deve ser tal que equilibre o mercado respetivo, sujeito à condição de que a soma dos preços dos dois bens iguale o seu custo médio conjunto.






























Teoria do Comércio Internacional
A exposição feita por Mill sobre o princípio da vantagem comparativa prosseguiu em termos de eficácia comparativa da mão-de-obra e não do seu custo comparativo.
Como foi visto, Ricardo tomou como pacífico o volume de produção em dois países e fez a suposição de diferentes tipos de mão-de-obra. Mill, porém, supôs um dado insumo de mão-de-obra em cada um dos dois países, de modo a que a sua eficiência comparativa na produção se reflita em diferentes volumes de produção. Um produto em que um país tem a maior a maior vantagem comparativa ou menor desvantagem comparativa pode, assim, ser determinado em termos de eficiência comparativa da mão-de-obra na consecução dos volumes de produção em apreço. A taxa à qual o produto de um país será trocado pelo de outro país de pende do estado da procura recíproca, e este explica como os ganhos da troca serão divididos.

Para Ricardo, os ganhos da troca seriam igualmente divididos.

→ Surge problemas:
  •          Como determinar o preço internacional (termos de troca)?
  •          Como se processa a divisão dos ganhos do comércio entre países?








→ Soluções:
  •  Os termos de troca dependem da eficiência comparativa dos fatores produtivos (lado da oferta) e da elasticidade da procura recíproca (lado da procura).
  •    O preço de equilíbrio conduz à igualdade entre o valor das exportações e importações de ambos os países.
  •  A divisão dos ganhos do comércio depende do preço de equilíbrio.
































  •          No ponto F, ao preço OP, o valor das exportações é igual ao valor das importações em ambos os países.
  •          As linhas OP, OP’ e OP’’, representam os preços internacionais (termos de troca).
  •          A linha OG constitui a curva da procura-recíproca.





8.4.4 Progresso Económico


O progresso económico depende da acumulação de capital, do crescimento populacional e das alterações tecnológicas.
Os rendimentos decrescentes na agricultura limitam o progresso económico.
A economia tende para um estado estacionário. Mill, porém, não considerava este estado estacionário como necessariamente uma coisa má. Ele dizia que existe vantagens de ordem moral, como uma distribuição mais justa da riqueza (reforma social).



8.5. Papel do Estado


O objetivo essencial de Stuart Mill é a reforma económica. Embora ele acreditasse que qualquer dos interesses individuais e sociais são compatíveis entre si, dentro do ambiente duma economia competitiva existem numerosos limites para o princípio do laissez-faire que ele recomendou.

Funções necessárias: Tributação das rendas, proteção das pessoas e da propriedade, sistema de justiça.

Funções opcionais: Bens públicos, educação do trabalhador, regulação de monopólios naturais, assistência social.

Limites ao princípio do laissez-faire: O Estado deve intervir sempre que se demonstre a existência de um benefício social (baseado na utilidade).

 

8.6. Aspetos Conclusivos

  •          Método da ciência económica baseada em elementos dedutivos e indutivos.
  •          Rejeição da teoria Ricardiana do valor – Trabalho.
  •          Análise da formação dos preços de mercado com base nas curvas de oferta e procura.
  •          Desenvolvimento da teoria dos bens de oferta conjunta.
  •          Extensão da teoria Ricardiana do comércio internacional.


  •          Intervenção do Estado para suprir as deficiências do laissez-faire.




  •          Ekelund, R. B. e R. F. Hérbert (Capítulos 6 e 8)
  •          Rima, I. H. (Capítulo 8)













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