quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A (minha) Economia do Desenvolvimento - 1ª Parte




Comecemos por fazer a distinção entre Crescimento Económico e Desenvolvimento Económico:
Crescimento económico é o aumento sustentado do PIBpc
Desenvolvimento económico significa o aumento sustentado do nível de bem-estar da população (não havendo aumento da pobreza). Este é um conceito mais exigente visto que o bem-estar da população não depende só do rendimento, mas também do acesso à saúde, à educação, à cultura, etc..
Assim, estudar o crescimento económico é olhar apenas para um dos determinantes do bem-estar da população – o rendimento – e é olhar apenas para a média dos rendimentos.
No entanto, os dados mostram que o nível de PIBpc está positivamente associado, e de forma muito significativa, com a maioria dos outros indicadores de desenvolvimento tais como:
A esperança média de vida, a mortalidade infantil, o nível de alfabetização, acesso a água potável, acesso a energia elétrica.
Assim o PIBpc é, apesar das suas limitações, um indicador razoável do nível de desenvolvimento.

Mesmo assim, e principalmente no caso de países com uma distribuição de rendimentos muito desigual, é importante olhar para o comportamento dos outros indicadores (índice de desenvolvimento humano e índice de Gíni, por exemplo).


Índice de Desenvolvimento Humano

É um índice composto que mede a pobreza com base em 3 indicadores do desenvolvimento:Longevidade (esperança média de vida), Conhecimento (medido como uma média ponderada do nível de alfabetização e o nível médio de anos de escolaridade),   Rendimento (medido pelo rendimento real per capita)
  
Ver a fórmula do índice de desenvolvimento (IDH):

Atual

No Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010 o PNUD começou a usar um novo método de cálculo do IDH. Os três índices seguintes são utilizados:

1. Expetativa de vida ao nascer (EV):

                                                       
2. Índice de Educação (IE):
  • 2.1 Índice de Anos Médios de Estudo (IAME):
                          
  • 2.2 Índice de Anos Esperados de Escolaridade (IAEE):


                                                       
3. Índice de Renda (IR):
                                    
Finalmente, o IDH é a média geométrica dos três índices anteriores normalizados:
                              
                                     

Legenda:
  • EV = Expetativa de Vida ao Nascer
  • AME = Anos Médios de Estudo
  • AEE = Anos Esperados de Estudo
  • PIBpc = Produto Interno Bruto (paridade poder de compra) per capita



Antiga

Até 2009, para calcular o IDH de uma localidade, fazia-se a seguinte média aritmética:

          onde L= Longevidade, E= Educação e R= Rendimento


          

         

           Nota: Pode-se usar também PNBpc



Legenda:
  • EV = Expetativa de Vida ao Nascer
  • TA = Taxa de Alfabetização
  • log10PIBpc = Logaritmo decimal do PIB per capita




PNBpc como índice de desenvolvimento:
·         Vantagens:
Ø  É apenas um número, sintetiza muita informação;
Ø  Mede o rendimento que é necessário;

·         Problemas:
Ø  Só mede rendimento, não mede qualidade de vida;
Ø  Mesmo como medida de rendimento verificam-se os seguintes problemas:
§  É uma média (do rendimento desse país). Não tem em conta a sua distribuição e, portanto, podemos ter um rendimento per capita alto mas com grandes assimetrias;
§  Só mede transações de mercado, não inclui o trabalho doméstico, por exemplo,
§  Más estatísticas, principalmente nos países mais pobres;
§  A conversão às taxas de câmbio oficiais não mede o poder de compra, os bens não transacionáveis são muito mais baratos nos países menos desenvolvidos;
§  É um índice, agrega vários bens.
É uma medida mais geral do desenvolvimento.


Ajustamento ao IDH
Tal como é útil fazer ajustamentos ao PNBpc de forma a obter-se uma medida mais credível do nível de desenvolvimento, torna-se igualmente modificações ao IDH de forma a tornar a informação mais refinada.
As Nações Unidas calculam o IDH ajustado ao género, de forma a refletir as desigualdades entre os sexos no desenvolvimento humano. Quando esta correção é efetivada, o valor do IDH de todos os países diminui, o que significa que em nenhum país as mulheres tem uma classificação mais alta do que os homens nas componentes do IDH. Isto significa que o IDH, ao ser uma média geral, pode camuflar diferentes níveis de realização em termos do desenvolvimento e, tal como o PNBpc, pode esconder grandes desigualdades entre sexos, regiões, grupos étnicos e sociais.
O IDH torna-se, assim, numa medida pouco rigorosa do bem-estar de um país. Por outro lado, ele não inclui nenhuma medida que possa captar o impacto das políticas do país sobre o ambiente (emissões de carbono para a atmosfera, por exemplo).

Comparação entre o rendimento per capita e o IDH
Nos estudos estatísticos que comparam o PNBpc e o IDH como vias de ordenar os países em termos do nível de desenvolvimento, concluiu-se que existe uma elevada correlação entre ordenação pelo PNBpc e a ordenação pelo IDH. Isto tende a apoiar a ideia de que o rendimento per capita é uma proxy razoável para ordenar os países no que respeita ao seu nível absoluto e relativo de desenvolvimento. Contudo, quando a amostra foi analisada com maior detalhe, esta conclusão tinha pouco suporte.
O estudo determinou que o uso do PNBpc é mais credível para o grupo de países com rendimento mais elevado e para o grupo de países com o rendimento mais baixo. Para os países de rendimento médio-alto e médio-baixo, o nível do PNBpc revelou-se um pobre indicador do nível de desenvolvimento.
Como a ligação entre crescimento económico e desenvolvimento económico não é nem direta nem constante, a utilização dos dois indicadores fornece mais informação do que a que seria obtida com a utilização de apenas um deles.
Contudo se formos forçados a escolher apenas um deles, o IDH parece fornecer a informação mais completa.
O IDH fornece assim uma alternativa ao rendimento per capita para se medir o progresso num país em termos dos objetivos de desenvolvimento definidos. O IDH relembra que embora o aumento do rendimento seja importante, o desenvolvimento não se esgota nele. O IDH capta, em parte, em que medida os efeitos do aumento do rendimento são filtrados através da educação, saúde, segurança social.
Uma falha do IDH é que ele não indica, de uma forma óbvia, o que está a acontecer com os membros mais pobres da sociedade.

Índice de Gini
O coeficiente de Gini (ou índice de Gini) é um cálculo usado para medir a desigualdade social, desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912. Apresenta dados entre o número 0 e o número 1, onde zero corresponde a uma completa igualdade no rendimento (onde todos detêm o mesmo rendimento per capita) e um que corresponde a uma completa desigualdade entre os rendimentos (onde um indivíduo, ou uma pequena parcela de uma população, detêm toda o rendimento e os demais nada têm).
Gini mede o coeficiente através de pontos percentuais (que é igual ao coeficiente multiplicado por 100).


O gráfico acima representa a fórmula utilizada para se obter o coeficiente de Gini, cuja linha horizontal representa a percentagem total de pessoas e a linha vertical, a percentagem total do rendimento da região a ser calculada.


A linha diagonal representa uma igualdade perfeita entre pessoas e rendimento, vem representada pela linha curva. Logo, segundo o gráfico a fórmula de Gini é: a / (a + b).
Ou seja, em uma linguagem mais simples, no resultado final, quanto mais um país se aproxima do número 1, mais desigual é a distribuição de renda e riqueza, e quanto mais próximo do número 0, mais igualitário será aquele país.
O coeficiente de Gini pode ser calculado com a fórmula de Brown, que é mais prática:




Onde:
  • G = coeficiente de Gini
  • X = proporção acumulada da variável "população"
  • Y = proporção acumulada da variável "rendimento"

Pode-se dizer-se, desta forma, que os indicadores IDH e índice de Gini poder-se-ão complementar em termos informação mais aproximada do verdadeiro desenvolvimento dos países, dado que também ficamos a saber o nível de desigualdade dos países.
Para além destes indicadores já apresentados, vamos falar ainda de mais um indicador: Linha de pobreza e gap de pobreza.

Linha de pobreza
A linha de pobreza estabelece um valor de rendimento, consumo ou despesa, tal que as pessoas que tem menos que esse valor são consideradas pobres, ou seja, estão em situação de privação.
Assim a linha de pobreza deve corresponder ao valor que permite atingir um nível mínimo de bem-estar.


 Gap de pobreza

O Gap de pobreza é uma medida que indica não só o número de pobres mas também a profundidade da sua pobreza (“quão pobres são os pobres”).


        Em que:
            n ≡ população total
            q ≡ nº de pobres
            z ≡ linha de pobreza
            yi ≡ rendimento de cada pessoa pobre
P0 mede a proporção de pessoas pobres, ou seja, a proporção de pessoas que têm renda per capita domiciliar inferior à linha de pobreza.
P1 ≡ mede a intensidade de pobreza para o conjunto da população pobre através do cálculo do desvio médio entre a renda dos pobres e o valor da linha de pobreza e pode ser interpretado como um indicador do déficit de pobreza, ou seja, os recursos necessários para elevar a renda de todos os pobres ao nível da linha de pobreza.
P2 ≡ é geralmente descrito como um indicador de severidade da pobreza. Na construção deste índice utiliza-se um peso maior para as pessoas mais pobres (o "gap de pobreza" é ponderado por si mesmo) e leva-se em conta a desigualdade de renda entre os pobres.





















Sem comentários:

Enviar um comentário