terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo 5 - Os Contributos de Adam Smith

5. Os Contributos de Adam Smith












Economista, professor e filósofo escocês, contatou com as grandes personalidades da cultura inglesa e francesa da sua época, entre os quais Quesnay, Turgot, Rosseau e Voltaire. Considerado por Marshall o fundador da economia moderna, autor do maior passo que a economia alguma vez deu.
A sua principal obra, “A Riqueza das Nações”, editada em 1776, foi considerada um clássico no campo do pensamento económico. A sua obra “Teoria dos Sentimentos Morais” foi importante.



5.1. Teoria dos Sentimentos Morais


Adam Smith preocupava-se com a filosofia moral, ou seja, a felicidade humana e o bem-estar.
O interesse próprio é a motivação que naturalmente conduz as pessoas. O seu impedimento tem geralmente um efeito adverso.
O indivíduo e a sociedade deslocam-se em direção ao mesmo fim, e a humanidade prosperará proporcionalmente quando o individuo tiver liberdade para escolher  a sua própria maneira de ser. A consciência e simpatia impedirão sempre condutas indesejáveis, quer na esfera económica quer em qualquer outra área da sociedade.
Cada Homem, se fôr deixado à sua iniciativa, procurará maximizar a sua riqueza. Por consequência, todos os Homens, se não forem estorvados, maximizarão a riqueza agregada → mão invisível (o interesse de cada um levará ao interesse geral).
O interesse e simpatia que temos pelos outros podem conduzir ao bem comum, à justiça social e ao crescimento económico.
A liberdade é condição de progressso, apesar da injustiça.


Adam Smith criticava:

·         Os mercantilistas
  • Estes pressupunham que a riqueza de uma nação só poderia provirdo comércio externo favorável (a vantagem de uma nação adivinha a desvantagem das demais)
  • Para os mercantilistas a economia deveria limitar-se ao stock de metais preciosos  e ao enriquecimento da nação, enquanto que Adam Smith defendia que a riqueza era um fluxo anual de serviços;
  • Adam Smith não defendia a intervenção do governo na “Ordem Natural” da economia, ao contrário dos mercantilistas.


·         Os fisiocratas

  • Atribuem só ao trabalho do agricultor a capacidade de produzir riqueza, enquanto que ele atribuia a todas  as outras áreas de trabalho do Homem;
  • Para os fisiocratas a Ordem Natural devia ser descoberta através do inteleto, enquanto que para Adam Smith a existência da Ordem Natural é um facto.



  •  Definem os bens como proporcionadores de maior riqueza, em vez de metais preciosos;
  •  Os Fisiocratas diziam que não é a natureza que torna os bens disponíveis para as pessoas, não é apenas a terra. Enquanto que adam Smith dizia que tinha de haver uma cooperação entre a terra, o trabalho e o capital.





5.2. A Riqueza das Nações


Na década da Revolução Industrial, mais propriamente em 1776, Adam Smith publicou a sua grande obra “An inquiry into the Nature and causes of Wealth of Nations”, mais conhecido por “A Riqueza das Nações”, cujo tema principal é a explicação da sua Teoria de desenvolvimento económico.


5.2.1 Quais as forças económicas que no longo prazo governam o aumento da Riqueza das Nações?

 Adam Smith afirma que a única fonte de riqueza de uma sociedade é o Trabalho em geral, o Trabalho de uma nação dividido entre os individuos que a compõem e que se distribuem pelos diferentes ramos da produção.
Adam Smith acreditava que a produtividade do trabalho teria como principal fundamento a divisão do trabalho.
A maior preocupaçãom de Smith era a de elevar o nível de vida de todo o povo. Através da divisão do trabalho obtinhamos uma sociedade bem dirigida, onde a riqueza universal se estendia a camadas mais baixas do povo.
Logo a riqueza de uma nação era medida pelo conjunto de bens materiais disponíveis para o consumo e não pela quantidade de metais preciosos que detinham as nações.


5.2.2 Divisão do trabalho

Tem como fundamento o aumento da riqueza. É a concentração do esforço do trabalho em tarefas específicas, tendo como objetivo aumentar o conhecimento técnico, poupar tempo e promover-se o melhor uso do capital.

Adam Smith pode apresentar a sociedade como uma manufatura, onde o trabalho se divide entre várias unidades separadas, mas complementares, de tal modo que a interconexão entre os produtores se coloca em primeiro plano.

Smith defendeu também que o funcionamento da economia deve prescindir da benevolência, para alcançar o máximo de bem-estar para a sociedade (Humanidade).
A possibilidade de trocar os produtos  do seu trabalho permite a que cada Homem se dedique a uma única atividade e cultive os seus talentos e inclinação para aquele tipo de negócio → especialização do trabalho.

Assim todos beneficiam pois podem “comprar qualquer parcela da produção dos talentos dos outros, de acordo com as suas necessidades” ao invés de terem de contar apenas com habilidades pessoais.
Mesmo aqueles que pertencem à classe social mais baixa de uma sociedade comercial, podem dispôr da cooperação e  do trabalho de muitas outras pessoas para prover as suas necessidades, beneficiando dos gastos de produtividade que a divisão do trabalho confere a cada produtor.

Assim, podemos dizer que a propensão à troca assegura, através da divisão do trabalho, a máxima riqueza para a sociedade, permitindo que sejam evitadas as situações moralmente degradantes associadas à pobreza.

Como a divisão do trabalho é limitada pelo tamanho do mercado, quanto mais se generalizarem as trocas, maior será a riqueza proporcionada pelo trabalho.



No entanto, não só os individuos deveriam especializarem-se, como também os Estados, em obediência às suas aptidões próprias, o deveriam fazer em determinadas atividades:
  •  Diminuir conflitos de interesses que conduzissem a resultados socialmente indesejáveis;
  •  Manutenção de certos serviços públicos não lucrativos, mas indispensáveis para a sociedade;
  •  Medidas de proteção para as indústrias nascentes.
 


Todos os Estados, pela divisão do trabalho, pela especialização e pela livre troca de produtos entre eles, alcançariam os mais elevados níveis de progresso.
Esa descrição da esfera económica revela que o que parece ser uma troca de produtos por dinheiro, consiste numa troca de produtos do trabalho humano e que a troca de produtos do trabalho de diferentes produtores reduz-se, assim, a uma troca de trabalhos.
Fica, assim, evidente que o bem-estar material não tem relação direta com o poder que o indivíduo dispõe.
Esta preposição é descrita, na sua obra, por uma manufatura de alfinetes, com a sua extensa divisão de tarefas entre 10 trabalhadores. O resultado é um enorme crescimentos das forças produtivas do trabalho.
Ainda que cada produtor esteja apenas a perseguir o seu interesse pessoal, ele acaba atendendo ao interesse dos demais. Prevalece a perceção de uma ordem harmoniosa entre os Homens, que deixa para segundo plano as consequências negativas. Daí podem advir os interesses individuais (o desemprego, as falências), levando, por sua vez, ao aumento da riqueza das nações.



Depois desta análise, verifica-se que Adam Smith enumera três circunstâncias associadas à divisão do trabalho que permitem alcançar um salto na produtividade:

  • ·         O trabalhador desempenha a tarefa o melhor possível;
  • ·         Eliminação das perdas de tempo na passagem de uma tarefa para outra;
  • ·     Invenção de instrumentos destinados a poupar trabalho, que se torna mais fácil em função da divisão do processo produtivo em operações simples.

Conclusões:

  •          São os bens e não o ouro que constituem a riqueza de uma nação;
  •          Os bens são disponibilizados pelo esforço humano;
  •          A divisão do trabalho permite elevados padrões de vida;
  •          A divisão do trabalho é consequência de uma propensão para a troca;
  •          A troca é a expressão do comportamento humano do interesse próprio.

A Teoria do crescimento económico de Smith consiste na elevação da produtividade do trabalho (através da divisão do trabalho) e no aumento produtivo do trabalho por via do capital acumulado.

A divisão do trabalho (especialização das tarefas) é o verdadeiro fundamento do aumento da riqueza. Porquê?

Aumento do nº trabalhadores → Aumento da riqueza → aumenta a poupança → Aumenta o Capital
 






5.2.3 Análise do Valor


A troca dos bens faz surgir a distinção entre o valor de uso e o valor de troca destes bens. Um bem não tem a possibilidade de ser trocado por outros a menos que tenha valor de uso, somente a capacidade de proporcionar satisfação a um usuário é que tornaria um bem digno de ser adquirido por meio de troca com outros bens ou por dinheiro.
A falha de Adam Smith em reconhecer este relacionamento um tanto óbvio foi de maior significado para o futuro desenvolvimento da Teoria do Valor pois levou à tentativa de explicar o valor de troca sem referência à Utilidade.

  •  Valor de troca – É o preço expresso em moeda.
  •  Valor de uso – Capacidade que um bem tem para transmitir satisfação.
Estes dois conceitos foram ilustrados através do paradoxo da água e do diamante. A água tem grande valor de uso, mas fraco valor de troca, enquanto o diamante tem grande valor de troca, mas fraco valor de uso. Um erro de Adam Smith foi não reconhecer o significado de escassez relativa marginal de um bem, dado que é este facto que determina o valor de um bem.

Como Smith não utilizou o conceito de Utilidade, voltou a sua atenção ao papel do trabalho como determinante do valor (valor de troca).

Teoria do valor do trabalho → De acordo com a qual um bem tem valor equivalente ao trabalho que pode exigir em troca de si próprio, direta ou indiretamente, sob a forma de outro bem. Quando empregado neste sentido, o trabalho serve como uma medida de valor. É a hipótese de que a taxa à qual um bem pode ser trocado por outro é igual ao valor do esforço de trabalho nele contido.

A questão da escassez relativa leva-nos à questão dos preços.

5.2.4 Os Preços


Adam Smith fez uma distinção de preços em “preço de mercado” e “preço natural”.

Preço de mercado → Preço de Curto Prazo, é determinado pela Oferta e pela Procura.

Preço natural → Preço de Longo Prazo. É determinado em função dos Custos de produção (w + π + r).

Em que W ≡ Salários; π ≡ Lucros; r ≡ Juros.

Adam Smith estava mais interessado em explicar como é que os preços são determinados no Longo Prazo.
Smith considera sempre implicitamente que o “preço natural” de uma mercadoria não varia com o seu nível de produção. Por outras palavras, prossupõe que as indústrias produzem em condições de custos constantes.




  • Quando os custos são constantes, a procura não tem influência:


Em que a Procura efetiva é igual à quantidade Q1.
Quando a quantidade de qualquer bem (Oferta) que é colocada no mercado é inferior à procura efetiva, a Curva S1 (Oferta CP) desloca-se para a esquerda, para S2. Isto significa que não é possível fornecer a todos os que estão dispostos a pagar aquela quantidade.
Alguns estão dispostos a pagar mais, então entrarão em concorrência uns com os outros, pois o preço de mercado é superior ao preço natural. Quando a quantidade posta no mercado excede a procura efetiva, S2 desloca-se para S3. O preço de mercado descerá mais que o preço natural.
A concorrência entre os comerciantes vai levar a aceitar estes preços todos, mas não os obriga a aceitarem um inferior.


  • Se os custos são crescentes, haverá influência na procura:


Os preços relativos são determinados pelos custos relativos em trabalho. Com custos constantes, os preços relativos não são influenciados pela procura.



5.2.5 Os Salários

 Adam Smith defende o adiantamento de capital (Stock de Capital) aos trabalhadores para estes se poderem sustentar durante o período de produção.
A partir daí, estabelece-se uma relação entre a procura daqueles que vivem do salário e os fundos destinados ao pagamento dos salários → Teoria do mínimo de subsistência.
Esta relação é explorada, mas é nela que se fundamenta a convicção de que o aumento do capital gera uma procura de trabalhadores constantemente crescente. Esta teoria da oferta e da procura de curto prazo, sendo a oferta dada pelo montante de trabalho (função quantidade em horas de trabalho) e a procura dada pela dimensão do fundo salarial, é combinada uma teoria de longo prazo do mínimo de subsistência.
O “preço natural” do trabalho é a taxa salarial de subsistência, a remuneração mínima que os trabalhadores necessitam de auferir antes de terem filhos.

O próprio trabalho é produzido a custos constantes.




Em que W é a taxa de salário real.

Preço de mercado do trabalho - W1 com L1.


Quando D1 desloca-se para D2, aumenta o stock de capital, a procura de trabalho aumenta, os salários sobem, isso induz o número de pessoas trabalhadoras a crescer até atingir o ponto L3.
A curva da oferta deslocar-se-á para direita até os salários voltarem ao nível mais baixo, W1, o nível de subsistência. Mas se a procura aumentar continuamente, o crescimento da população não poderá acompanhá-la, e as curvas da oferta não conseguem acompanhar o deslocamento das curvas de procura.
Este modelo poderá servir como espelho das camadas mais pobres da população e não poderá, de um modo geral, servir para toda a população pois trata-se de uma população que é atingida pelos meios de subsistência.
Adam Smith acreditava que a tendência salarial de longo prazo seria ascendente e considerava que isso não era apenas sintoma de uma economia que se desenvolvia mas também uma causa de progresso.

5.2.6 Os Lucros

Segundo Adam Smith, os lucros de capital não devem ser concebidos como pagamento por uma qualidade especial de trabalho porque não têm relacionamento com a desutilidade do trabalho. Os proprietários de capital não teriam interesse em empregar o capital se as suas receitas não fossem além e acima do custo dos materiais e salários para compensar os riscos que assume. Ou seja, Smith fala dos lucros como consistindo em juros mais prémio de risco. A taxa de lucro tende a baixar devido à concorrência mútua que fazem os capitais de muitos mercadores ricos, quando investidos na mesma atividade.





Tendo em conta o trabalho produtivo (por exemplo, o trabalho de agricultores e artesãos) e não produtivo (por exemplo, o trabalho de professores, médicos e advogados), o papel do governo deveria ser mínimo, mas era importante que interviesse para diminuir os interesses entre grupos.
Deveria intervir porque:

  •  Existem defeitos no “Sistema simples da liberdade natural”:
    •   Conflitos de interesses, casos em que a procura do ganho individual conduz a resultados socialmente indesejáveis
·         O “Laissez-faire” cria apenas uma presunção de bem-estar social máximo e não um programa completo para a sua realização.


 Medidas para intervir:
·         Medidas de proteção para indústrias;
·         Manutenção de certos serviços públicos por não serem lucrativos, mas que fazem falta à sociedade.



5.2.7 Aspetos conclusivos


·         “The Wealth of Nations”: Guia de política económica e de coordenação do sistema comercial inglês;
·         Defesa da concorrência perfeita nos mercados, não havendo conflito entre interesses privados e sociais;
·         Defesa de uma ordem perfeita no universo social, baseada nas leis naturais;
·         O sistema económico é conduzido pelo interesse próprio (mão invisível) dos indivíduos em contexto concorrencial;
·         A taxa de retorno (benefício) de um recurso tenderá a ser igual nas suas várias utilizações;
·         Manutenção de um sistema de liberdade natural, como forma de garantir a acumulação de capital (condição necessária para a divisão do trabalho, produtividade, riqueza das nações) e o melhor direcionamento do capital para garantir a maximização do bem-estar;
·         O Estado pode contribuir em domínios específicos para realização do bem-estar social.




·         Blaug, Mark, Capitulo 2
·         Ekelund, R.B. and Hérbert, R.F., Capítulo 5
·         Mouchot, C., págs. 234-239
·         Rima, I. H., Capítulo 5


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