7.
David Ricardo
7.1. A Doutrina Clássica da renda da terra
7.1.1 Enquadramento crítico
Ricardo
vem na sequência de Adam Smith.
A
doutrina clássica do rendimento da terra tem, como enquadramento: o combate ao
protecionismo agrícola, que ia contra a necessidade de investimento e que os
salários eram ligados à produção da terra.
A
utilização de espaços agrícolas menos férteis da Inglaterra penalizava os
lucros e tinha um efeito negativo sobre o crescimento económico.
Tinha-se
cada vez mais de produzir em terras menos férteis, o que levou ao
enriquecimento dos proprietários das terras, que continuavam a defender o uso
das terras, pois assim conseguiam rendas mais elevadas.
Mas
Ricardo dizia que isso punha em causa o crescimento, queria acabar com a Lei do
Milho.
A Lei do Milho (1815)
significava: aumentavam as rendas → aumentavam os salários → diminuíam os
lucros → diminuía o capital acumulado. Esta situação levava à estacionaridade
do crescimento económico, designado de estado estacionário e que se
caracteriza por uma população estável, stock de capital e rendimento per capita
constantes.
David
Ricardo estava contra esta Lei do Milho, pois beneficiava
fundamentalmente os proprietários da terra. Ele desenvolveu uma batalha contra
os senhores da terra.
7.1.2 O Modelo de David Ricardo
Pressuposto:
Tem de se imaginar este modelo como se a Inglaterra fosse uma quinta que produz
trigo.
·
A Economia fechada que só produz trigo;
·
A terra disponível é limitada;
·
O aumento da população leva a uma maior procura
de alimentos e de um aumento do emprego agrícola;
·
Existem três classes sociais:
Ø
Proprietários da Terra (recebem rendas)
Ø
Rendeiros ou empresários agrícolas (são os que
realizam lucros)
Ø
Trabalhadores agrícolas (não têm terra, logo
cedem a sua força de trabalho)
·
A distribuição dos produtos agrícolas baseia-se
em dois princípios:
Ø
Salários ao nível de subsistência
Ø Rendimentos
decrescentes na agricultura
A
questão dos rendimentos decrescentes na agricultura reside em saber como varia
a produtividade à medida que se vai expandindo o espaço da agricultura, pois
quanto mais população, mais terá de se expandir.
- Aumento da produção por intensificação das culturas (ou seja, aumentar a produção através de mais inputs para a mesma terra levam aos rendimentos marginais decrescentes)
- Aumento da produção por extensificação das culturas (vamos tendo níveis de fertilidade cada vez menores à medida que se vai utilizando mais terra, diminuindo, por isso, a população)
7.2. A Teoria do Valor
baseado no Trabalho
David
Ricardo afirma que para um bem tenha valor de troca é essencial que tenha
utilidade, embora esta não seja uma medida de valor. Tendo utilidade, os bens
derivam os seus valores de troca da sua escassez e da quantidade trabalho para
os obter.
Mas
existe uma exceção, alguns bens que não se podem reproduzir têm valor apenas
como resultado da sua escassez. Objetos como quadros raros, obras de arte.
Contudo,
a maioria dos bens é reproduzível e, portanto, deriva o seu valor não da
escassez mas do trabalho. Logo, a teoria do valor em Ricardo é uma teoria do
“custo real” dos fatores, onde o trabalho é o mais importante.
David
Ricardo parece identificar o capital com o trabalho.
Mesmo
esta aderência à teoria do trabalho é limitada pelo reconhecimento de que os
valores relativos dos bens não são regidos exclusivamente pelas quantidades de
trabalho nelas incorporadas, mas também dependem das proporções entre o capital
fixo e capital circulante, e do aumento da durabilidade do capital, porque
estas coisas afetam a extensão de tempo que decorre antes que os bens sigam
para o mercado.
O
capital é tratado como sendo trabalho indireto ou incorporado.
·
Deficiente análise das diferenças qualitativas
do trabalho;
7.3. A Teoria do Valor
baseado no Trabalho
Segundo
David Ricardo, este estado estacionário decorre do protecionismo. Se não houver
proteção agrícola isto não acontece. Ele preocupa-se com o curto prazo.
O
principal interesse teórico de Ricardo era a divisão do produto da nação entre
as três classes sociais, sob a forma de salários, lucros e renda da terra.
A
renda económica de Ricardo era um excedente diferencial, que aparece em terras
privilegiadas por causa da sua maior fertilidade ou melhor localização do que a
“terra sem renda”, que somente produz para pagar a mão-de-obra e o capital nela
empregados.
Neste
sentido, a renda não é um custo de produção e, por isso, não é determinante de
preço.
Na sua
conceção, a provável tendência de longo prazo, das proporções desta
distribuição, é regida pelo custo de produzir os meios de subsistência da
mão-de-obra.
Já
que, implicitamente, ele suponha um dado nível de tecnologia agrícola, bem como
uma população em crescimento constante, a tendência aos rendimentos
decrescentes forçava a recorrer a terras progressivamente inferiores e,
consequentemente, a custos crescentes dos alimentos.
Recorrendo
a terras menos férteis, o capital e o trabalho aumentavam → havia maiores
variações do preço do milho → os salários aumentavam → as rendas diminuíam → a
variação do Investimento seria nula.
Então
Ricardo constatou que existem duas saídas que poderiam retardar o estado
estacionário:
- Progresso tecnológico*
- Comércio internacional (vantagens comparativas no comércio internacional)
*Havendo
progresso tecnológico, os senhores da terra, capitalistas e
trabalhadores, desfrutariam da vantagem de adquirir bens produzidos com o
auxílio de maquinaria a um preço mais baixo. Mas havia um senão, a introdução
de maquinaria poderia ser prejudicial à classe trabalhadora (caso tivesse
associado a uma redução do fundo salarial).
7.4. O comércio internacional:
As vantagens comparativas no comércio internacional (custos comparativos)
É
através do livre comércio da agricultura que David Ricardo articula as suas
opiniões sobre as Leis do Trigo com a sua análise de valor e de distribuição.
Ricardo
insistiu para que fosse efetuada, gradualmente, uma transição para um comércio
mais livre. Somente através da importação de um suprimento de alimentos mais
baratos é que a Inglaterra podia esperar minimizar as tristes consequências dos
rendimentos decrescentes. A continuação da proteção simplesmente reforçaria a
tendência inexorável para que os salários monetários e as rendas da terra subam
e os lucros caiam.
Adam
Smith já tinha chamado a atenção para as vantagens do livre comércio (uma nação
especializava-se na produção de alimentos para os quais fosse mais adequada).
A
doutrina de David Ricardo da Vantagem Comparativa foi que os países tinham
liberdade em importar produtos alimentares. Cada país tenderá a especializar-se
na produção dos bens em que tenha maior vantagem comparativa em termos de custo
de mão-de-obra.
- Concorrência perfeita no interior de cada país
- Só os produtos circulam livremente entre os países
- As mercadorias são trocadas em proporções de quantidade do fator trabalho
- Cada país dispõe de uma só técnica, que é diferente entre países
- Existem rendimentos constantes à escala
Inglaterra
|
Portugal
|
|
1 Kg de Tecido
|
100 h
|
90 h
|
1 Lt de Vinho
|
120 h
|
80 h
|
De
acordo com o exemplo, Portugal produz vinho e tecido a um custo de mão-de-obra
mais baixo do que a Inglaterra, mas produz vinho a um custo comparativamente
mais barato do que tecido. Igualmente, a Inglaterra produz tecidos a um custo
de mão-de-obra comparativamente mais baixo do que o vinho.
Assim,
sob condições de comércio livre, a Inglaterra especializa-se em produzir
tecidos e importa vinho. Isto é, a relação entre vinho e tecido na Inglaterra é
de 6/5, ao passo que em Portugal é de 8/9. Cada país tem vantagem na troca se o
preço internacional se situar entre os dois preços internos ou seja:
8/9<P. Internacional do tecido <6/5
Por
isso, a Inglaterra pode obter mais vinho, importando-o de Portugal, em troca de
tecido. O mesmo é válido para Portugal no que toca aos tecidos. Há necessidade
de menos mão-de-obra relativa, em Portugal, para produzir vinho do que tecido.
Ricardo
não disse de que modo o vinho e os tecidos seriam trocados entre si, mas supôs
que os bens seriam trocados uns pelos outros na mesma proporção. Supôs que uma
unidade de vinho seria trocada por uma unidade de tecido.
Isto
foi meio caminho andado para as suas relações de custo comparativo, sendo os
ganhos do comércio quase igualmente divididos nesta proporção. Este ganho
manifestar-se-ia na poupança de mão-de-obra possibilitada pela importação.
Inglaterra
→ Poupa 20 h importando vinho
Portugal
→ Poupa 10 h importando tecido
Ambos
os países ganharão com a especialização e troca, porque a Inglaterra poderá
obter mais vinho por Homem/hora, importando-o do que produzindo-o. Portugal
pode obter mais tecido por Homem/hora, importando-o do que produzindo-o.
Cada
uma das partes obtém melhor aplicação dos seus recursos especializando-se na
troca.
7.5.
Elementos
Conclusivos da Análise de Ricardo
- Análise do conflito latente entre proprietários rurais e uma classe industrial em ascensão
- Defesa da liberalização da importação de cereais e da liberdade de comércio
- Contribuição para um esboço da Teoria do Valor baseado no Trabalho (dependente do capital fixo e circulante e do aumento da durabilidade do capital
- Deixou em aberto questões como o antagonismo entre as classes que intervêm no processo produtivo e a realização do excedente económico no crescimento económico
Efeito Ricardo – O
alongamento médio de produção, que resulta quando uma elevação dos salários
reais favorece a produção com a utilização intensiva de capital em oposição à
utilização intensiva de mão-de-obra.
- Blaug, Mark, Capítulo 2
- Ekelund, R.B. and Hérbert, R. F., Capítulo 5
- Mouchot, C., págs. 234-239
- Rima, I. H., Capítulo 5
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