terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - Capítulo 6. As contribuições de THOMAS MALTHUS E JEAN-BAPTISTE SAY



6. As contribuições de Thomas Malthus e Jean-Baptiste Say

O economista inglês nasceu em 1766, foi filho de um fidalgo, amigo de Jean-Jacques Rosseau e de David Hume e um profundo admirador de Condorcet e de Godwin.
Foi ordenado pastor anglicano em 1788, sendo mais tarde nomeado professor de História e Economia Política (1805) no East India College, onde permaneceu durante o resto da sua vida.



6.1. Contexto histórico do trabalho de Malthus

 Esta altura foi caracterizada por uma grande depressão económica, elevado desemprego, elevados preços dos bens alimentares e tudo isto contribuiu para o aumento da pobreza.
A vida de Malthus coincidiu com os anos da Revolução Industrial, uma época marcada por um rápido crescimento da população e por uma legislação protetora dos pobres (Poor Laws). A Lei dos Pobres garantia assistência por parte do Estado às famílias mais numerosas.
Malthus, preocupado com o significativo número de pobres na sociedade inglesa em finais do século XVIII, admite que a causa essencial desta situação reside no facto da produção.
Nesse sentido, Malthus decidiu escrever a sua própria visão sobre o futuro da humanidade e o crescimento populacional.

Em 1798, escreveu e publicou o seu célebre livro “Ensaio sobre o princípio da população”. O crescimento da população, os meios de subsistência e as causas da pobreza em plena Revolução Industrial são os problemas centrais analisados por este economista clássico.

Esta obra surgiu como ameaça ao progresso humano e foi contra as perspetivas de enriquecimento que Adam Smith considerava ser possível atingir.

 


6.2. A Teoria da População e os salários de subsistência




A faísca que deu lume à preparação do “Ensaio sobre o princípio da população”, nasceu de uma de uma discussão entre o autor e o pai acerca da obra de Godwin, onde o autor sustentava que a repartição igualitária da riqueza provê meios para a satisfação das necessidades simples e deixam mais tempo para uma melhoria intelectual e moral que estabeleceria a perfeição e felicidade da Terra, uma vez que as instituições da sociedade atual militavam contra a realização da perfeição e da felicidade.

Foi este sonho utópico, de uma Era Dourada de igualdade e felicidade, que a obra de Malthus iria destruir, pois este previu o espectro do excesso de população como um obstáculo permanente à melhoria da sociedade.
Thomas Malthus precisava apenas de dois postulados* (* Teoria da População) para provar a impossibilidade da consecução do período de felicidade que Godwin previa:

  •  O alimento é necessário à existência humana,

  •  A paixão entre os sexos é necessária e irá permanecer ao longo dos tempos;

O seu objetivo era demonstrar que o crescimento da população é limitado pela alimentação. O crescimento da população é limitado pelos meios de subsistência, a população aumenta quando os meios de subsistência aumentam. Ou seja, a população efetiva mantém-se ao nível dos meios de subsistência.
Supondo os seus postulados como garantidos, Malthus diz que a capacidade de crescimento da população é indefinidamente maior que a capacidade da Terra para produzir meios de subsistência para o Homem.
Segundo Malthus, se a população não for contida (se não houver obstáculos ao seu crescimento), irá duplicar de 25 em 25 anos, ou seja, crescerá em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32,…). Enquanto, dadas as condições atuais da Terra, os meios de subsistência só poderão aumentar, no máximo, em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10,…). O resultado era a miséria e pobreza que se assistia na Inglaterra devido ao desequilíbrio entre os recursos naturais e a população.
  



6.3. Fatores de controlo demográfico



Esta tendência natural do crescimento rápido da população pode ser contrariada por alguns obstáculos:

  •       Obstáculos positivos, no sentido de aumentar a taxa de mortalidade tais como:      fome, desnutrição, doenças, pragas, guerras e vício;

  • ·    Obstáculos preventivos, no sentido de reduzir a taxa de natalidade nos quais se incluem as restrições morais: adiamento do casamento (o homem não deve casar antes de ter condições económicas para sustentar a sua família) e a abstinência sexual (fora do casamento);

A essência da Teoria da População era substituir os obstáculos positivos pela restrição moral, pois a abstinência voluntária não leva nem à miséria nem ao vício.

Para Malthus, a única contenção moralmente aceitável era a prudência. Ele insistiu para que se educasse o individuo para que este adiasse o casamento e evitasse a satisfação regular devido à escassez dos meios de subsistência, pois a oferta de terras era limitada e os melhoramentos técnicos na agricultura não têm os seus efeitos com a rapidez necessária (Lei dos Rendimentos Decrescentes).
Outro obstáculo é a escassez dos meios de subsistência, ou seja, a escassez de bens alimentares (nem todos têm pão para comer).



6.4. Teoria dos Rendimentos Decrescentes

A produção agrícola cresce menos que o crescimento da população. Malthus dizia que a oferta de alimentos só crescia enquanto houvesse terras para cultivar, mas como a terra é fixa, os alimentos tendem a crescer em progressão aritmética. Neste sentido, a Lei dos Rendimentos Decrescentes está implicitamente assumida nas suas progressões matemáticas, porque o crescimento da população obriga a recorrer a terras menos férteis.

Quando a Lei dos Rendimentos Decrescentes se aplica a uma oferta fixa de terra, a produção de alimentos tende a não acompanhar a taxa de crescimento geométrico da população e esta situação acarreta fome e miséria e constituirá ainda um travão ao progresso, criando um mundo cheio de famintos, ou seja, criando sobrepopulação (uma população demasiado numerosa para ser mantida apenas com os recursos naturais internos).

Malthus vem, assim, lembrar de forma dramática, que os benefícios Smithianos estão limitados pela escassez de recursos e que o realismo (que Smith, aliás, possuía) tem que temperar o entusiasmo com as potencialidades do sistema económico.



6.5. Críticas aos contributos de Malthus



  • ·    A Tese de Malthus era demasiado simplista (o seu trabalho tem pouco conteúdo científico e as vezes que foi testado acabou por ser invalidado ela realidade);
  • ·         Não antecipou o milagre tecnológico da Revolução Industrial.
Ø  Ignorou a possibilidade do comércio externo;
Ø  Ignorou a possibilidade do progresso tecnológico (o autor não previu os grandes avanços verificados nos transportes e no comércio que fizeram com que a população se alimentasse de produtos de outros países. Também não previu que o aumento do padrão de vida faria baixar a taxa de natalidade);

  • ·    Malthus não observou, com rigor suficiente, as realidades e assentou toda a sua construção no conhecimento de casos puramente marginais;
  • ·         Para ele, a alimentação era constituída exclusivamente por seres vivos.

6.6.  A dinâmica clássica de Adam Smith e Thomas Malthus


Ao contrário dos economistas atuais, Adam Smith e Thomas Malthus deram muita importância ao papel da terra no crescimento económico.
Na Riqueza das Nações começou a idade do ouro, tempo em que a terra estava disponível antes de se considerar a acumulação de capital.
O produto nacional duplicava quando a população duplicava, o produto cresce em correspondência com a população, pelo que o salário real é constante ao longo do tempo.
Mas esta idade de ouro não pôde continuar para sempre pois, com o crescimento da população, a terra acabaria por ser ocupada e novos trabalhadores começaram-se a acumular nos terrenos já cultivados. Com trabalhadores numa quantidade de terra fixa, existe cada vez menos quantidade de terra para trabalhar e a Lei dos Rendimentos Decrescentes entra em ação.
Malthus pensou que a pressão da população conduziria a economia a um ponto em que os trabalhadores ficariam no nível mínimo de subsistência. Este argumentou que sempre que os salários estivessem acima do nível de subsistência a população aumentaria, se estivessem abaixo haveria uma grande mortalidade e a população reduzir-se-ia. Só com os níveis de subsistência mínima é que poderia haver um equilíbrio estável na população.



O  Processo de crescimento económico, segundo Adam Smith 

 









  








Se a população duplicasse a F.P.P. (Fronteira de Possibilidades de Produção) desloca-se para fora. Segundo Adam Smith, não havia restrições pela terra ou pelos recursos naturais, se a população duplica, entãoa produção de vestuário e alimentos também duplica.



A "Ciência Triste" de Malthus



















Para Malthus era diferente, pois se a população duplica, a produção de vestuário e de alimentos não duplicam.
Isto reflete a diminuição do produto per capita quando cada vez mais pessoas ocupam a terra, que é limitada, e os rendimentos decrescentes pode baixar o produto per capita.



6.7.   Limites ao crescimento: Malthus Versus Situação Atual

Nas últimas quatro décadas, as ideias malthusianas vieram à superfície quando muitos defensores da paragem do crescimento e ambientalistas têm argumentado que o crescimento económico é limitado pelo caracter finito dos nossos recursos naturais e pelas restrições ambientais.
O crescimento económico envolve um aumento rápido do uso da terra, dos recursos naturais e das emissões poluentes do ar e da água.
Tem-se verificado, ao longo dos anos, uma tendência crescente para o aumento do consumo de energia a partir de combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, as emissões de dióxido de enxofre também têm aumentado.
Verifica-se algum receio de que o crescimento económico rápido possa levar à exaustão dos recursos e à degradação do ambiente.

- As preocupações acerca da viabilidade do crescimento surgiram no início dos anos de 1970. Os críticos do crescimento encontram uma audiência recetiva devido ao alarme crescente sobre o crescimento rápido da população nos países em vias de desenvolvimento e, após 1973, devido ao aumento em espiral dos preços do petróleo, ao declínio acentuado do crescimento da produtividade e dos níveis de vida nos principais países industriais.
Esta primeira vaga de ansiedade acalmou com a diminuição dos preços dos recursos naturais depois de 1980 e com o abrandamento do crescimento da população nos países em vias de desenvolvimento.
- Uma segunda vaga de pessimismo, relativamente ao crescimento, emergiu na década de 1990.
Não envolve a exaustão dos recursos naturais, como o petróleo e o gás, mas a presença de restrições ambientais no crescimento económico a longo prazo.
Sabemos que a atividade industrial está a alterar significativamente o clima terrestre e os ecossistemas (aquecimento global, o buraco do ozono e a desflorestação das florestas tropicais) que podem romper com o equilíbrio ecológico global.
Estas restrições ambientais estão estreitamente relacionadas com as antigas restrições malthusianas, onde Malthus sustentava que a produção seria limitada pela natureza finita da terra. Os pessimistas atuais do crescimento argumentam que o crescimento será limitado pela capacidade finita de absorção do nosso ambiente.
Contudo, eles não levam em conta que estas restrições ambientais podem ser ultrapassadas com novas tecnologias amigas do ambiente.

 



Analisemos este dilema no gráfico seguinte:




















Uma economia começa no Período 1 com uma F.P.P. representada entre a qualidade ambiental e o PIB (AA).

O crescimento económico sem progresso tecnológico desloca a F.P.P. para BB, em que a sociedade pode usufruir de mais produto á custa da degradação ambiental.


Uma situação mais feliz ocorre quando aparece progresso tecnológico (introdução de equipamento amigo do ambiente) que empurra a F.P.P. para CC de modo a que a sociedade possa usufruir de mais produto e também de um ambiente mais saudável.

Contudo, Malthus continua a ser importante para compreender o comportamento da população da Índia, da Etiópia, da Nigéria e de outras partes do mundo onde a população cresce mais rapidamente que os meios de subsistência.




  •     A economia começou a tomar consciência de que o crescimento da população é limitado pelos meios de subsistência. Então, existe uma necessidade de controlar o número de nascimentos, da maneira a combater a miséria e a pobreza;
  •          A sua obra exerceu um impacto pelo Parlamento Inglês pela publicação de uma nova Lei dos Pobres em 1834 que, em comparação com a legislação anterior, limitou muito o auxílio aos pobres, particularmente no que toca ao nascimento ilegítimo;
  •         O princípio da população foi significante porque ocasionou o primeiro Censo, em 1801.
 


6.5  Conclusões:


  •  A Teoria de Malthus exerceu grande influência no pensamento económico, ao pôr ênfase na rígida dependência em que se encontra o crescimento da população da oferta de bens alimentares, o que permitiu explicar a pobreza;
  •  A melhor forma de melhorar o padrão de vida das classes trabalhadoras era controlar o seu número;
  • As previsões pessimistas de Malthus (e Ricardo) não se verificaram.






  •  Aparecimento e desenvolvimento de muitas máquinas e novos métodos de produção que se verificaram nessa altura (Revolução Industrial). Consideração da hipótese do comércio externo;
  • Malthus opôs-se sempre a todos aqueles que acreditavam na melhoria das condições sociais;
  •  Com Malthus, a economia toma consciência da irredutível realidade dos limites naturais (escassez dos meios de subsistência);
  •   A herança que a economia recebeu de Malthus foi simplesmente a adição à “mão invisível” de Adam Smith do conceito de escassez que passou a fazer parte do núcleo central da ciência.




6.8 Jean-Baptiste Say










Jean-Baptiste Say foi um economista francês, filho de uma família de mercadores de tecidos, fortemente influenciada pelas ideias iluministas.

É contemporâneo de Thomas Malthus, economista clássico e sucessor de Adam Smith.



6.8.1 Lei dos Mercados de J. B. Say

 Os clássicos conheciam os ciclos económicos mas considerava-os aberrações temporáveis que se autocorrigiam. A análise destes autores andava à volta da Lei dos Mercados de Say.

Esta lei afirma que a sobreprodução é impossível sobre a sua própria natureza → Ausência de sobreprodução o que significa que a oferta cria a sua própria procura.

Outros autores como David Ricardo, Stuart Mill e Marshall concordavam com esta lei.
  













Teríamos um excesso de oferta de bens e serviços, mas segundo o modelo clássico os preços são flexíveis, então esta situação tende a auto corrigir-se, o preço tende a descer até que se elimine o excesso criado e a oferta seja igual à procura.



Assenta numa perspetiva de que não existe diferença essencial entre uma economia monetária e uma economia de troca direta, ou seja, o que as fábricas podem produzir os trabalhadores têm capacidade para comprar.
Os economistas clássicos achavam que não podia haver períodos persistentes de excessos de produção. Se a procura agregada ou oferta agregada se deslocarem os preços, como são flexíveis, ajustam-se para assegurar que o produto de pleno emprego seja vendido.






  •  Blaug, Mark, Capítulo 2
  •  Ekelund, R. B. and Hérbert, R.F., Capítulo 5
  • Mouchot, C., págs. 234-239
  •  Rima, I. H., Capítulo 5










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