quinta-feira, 28 de maio de 2015

PROCURA GLOBAL, OFERTA GLOBAL E CICLOS REAIS DE NEGÓCIOS em Portugal



PROCURA GLOBAL, OFERTA GLOBAL E CICLOS REAIS DE NEGÓCIOS
No nosso dia-a-dia temos assistido (lido e visto) a expressões como ”medidas em contraciclo”, “estímulo a procura interna como estratégia para diminuir desemprego”, “a problemática da sustentabilidade da Segurança Social e a queixa por parte de gestores e seus representantes de Custos Unitários do Trabalho (CUT) elevados” para não falar da questão de termos uma dívida pública que ronda os 130% do PIB (embora o défice primário tenha vindo a descer).
Neste texto irei abordar algumas destas questões.


Começando pela Procura Global:
Esta é a soma da Procura Interna com a Procura Externa, onde a Procura Interna mede o consumo de bens e serviços produzidos internamente e a procura externa mede o valor das nossas exportações.

Em termos de fórmula:
Procura Interna = Consumo (C) + Investimento (I) + Gastos (G)
Procura Externa = Exportações (X)
Procura Global = C + I + G + X


Passemos agora à Oferta Global:
Esta é a soma da Oferta Interna com a Oferta Externa, onde a Oferta Interna é o PIB a preços de mercado (PIBpm) e a Oferta Externa são as Importações (F). Em termos de fórmula:
Oferta Interna = PIBpm
Oferta Externa = Importações (F)
Oferta Global = PIBpm + F

Em equilíbrio:
            Oferta Global = Procura Global
            PIBpm + F = C + I + G + X ó PIBpm = C + I + G + X – F




Relativamente aos Ciclos Reais de Negócios:
Uma das bibliografias que explica bem este tema é o livro “ECONOMIA” de Paul Samuelson e William Nordhaus. Os autores expõem a evolução do PIB norte-americano ao longo do século XX em termos gráficos, mostrando, dessa forma que a economia funciona de forma cíclica, com períodos de expansão e recessão e cada ciclo dura entre 8 a 10 anos.
Em cada ciclo económico existe um pico em que o PIB é máximo e outro em que o PIB é mínimo. O ciclo económico seguinte será caracterizado de uma forma semelhante mas o ano em que o PIB é máximo no ciclo seguinte é sempre superior ao PIB máximo do ciclo económico anterior. Como bem sabemos, o 1º ciclo económico completo do século XXI foi o primeiro em que o PIB máximo foi inferior (uma exceção à regra em que o crash e as medidas que se implementaram, especialmente na Europa, no período pós-crash não são isentas de culpa).
Até 2006/2007, associava-se as crises cíclicas a factos igualmente cíclicos com as crises petrolíferas, guerras e até os de Wall Street conseguiam associá-las às “bolhas”. A história universal mostra-nos que esse comportamento cíclico da economia é um facto real - não é preciso fazer muito esforço para chegar à conclusão que a Primavera Árabe (começada no final do ano 2010 e que ainda continua) seria associada a nova crise cíclica se a Europa não tivesse, nesse período, a “ressacar” do crash, por ter optado por políticas de Poupança num período do ciclo económico em que se deveria fazer investimento público e/ou injeção de moeda por parte do Banco Central Europeu.

Considerando o ciclo económico completo ser em média 9 anos (4,5 + 4,5) e os anos 2011 e 2012 os mais críticos antes do aparecimento do ISIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), se somarmos 4,5 anos o resultado é o início do 2º semestre de 2016 como o novo período de vacas magras. Ou seja, atualmente estamos a atravessar o período cíclico de vacas gordas (período em que se deve poupar) e a partir de Julho de 2016 as medidas de investimento público e/ou equivalentes a investimento público são as que deverão prevalecer.

Agora antes de falar sobre Segurança Social e Custos Unitários do Trabalho (CUT) vou relembrar quais são as restrições/exigências que o pacto de estabilidade e Crescimento impõe a cada país da União Europeia;

  •  Ter uma dívida pública em percentagem do PIB não superior a 60%;

  •   Um défice público não superior a 3%;

  •  A inflação de cada estado-membro não ser nem inferior nem superior a 1,5% da taxa de inflação média da União Europeia;


Após relembrar isto, vamos ter em atenção o facto de a economia funcionar de forma cíclica, que existe um período de expansão e outro de recessão por cada ciclo, que as medidas de política económica devem ser adequadas à fase do ciclo económico para que não se adotem novamente medidas em contraciclo.

Tendo em conta as exigências do P.E.C., isto significa que no caso do peso da dívida pública, no período do ciclo económico de expansão este não só deve ser inferior a 60% do PIB, como também que essa diferença seja o valor máximo de poupança que o Estado pode usar para investimento público no período recessivo - para que não seja ultrapassada a barreira dos 60% do PIB neste período (atualmente ronda os 130%, mais que o dobro).

Agora sim, já se pode relembrar algumas medidas do passado.


Exemplo1: A engorda do Estado em custos com pessoal no período da 2ª governação de António Guterres.

Uma das primeiras coisas a avaliar é em que período do ciclo económico a medida foi adotada? Uma outra questão que se levanta é: em termo de política monetária, o que estava a suceder na União Europeia? Uma última questão seria: estaria a Portugal a cumprir o P.E.C.?

Relativamente ao ciclo económico, esta medida foi tomada em contraciclo (dado ter sido aplicada nos últimos anos de vacas gordas do século XX e nos dois primeiros do século XXI).
O raciocínio até se compreende, pois nesse período a dívida pública não estava acima dos 60% do PIB e o objetivo desta medida era o de combater o desemprego, que baixou até aos 4% naquela época, e com a diminuição do desemprego também diminuir o valor que o Estado estava a gastar em subsídios de desemprego e aumentar o rendimento disponível dos particulares obtendo, desta forma, mais receitas por via do aumento do consumo. Contudo, o possível aumento das receitas em impostos não foi suficiente para compensar o aumento da despesa e o resultado foi ultrapassar a barreira dos 3% em termos de défice (o site www.pordata.pt está bastante acessível para a consulta destes e outros dados macroeconómicos). Se este tipo de medida tivesse sido feito no período recessivo, o impacto não seria tão negativo pois estava em concordância com o ciclo económico (embora aumentar o nº de funcionários do Estado não seja exemplo de investimento público).

E relativamente à política monetária, como estávamos?
Foi um período de taxas de juro baixíssimas, que se partia do pressuposto que o objetivo seria o de oferecer às empresas mais uma ferramenta para melhor se prepararem para a entrada na Zona Euro e para o efeito negativo da Globalização, contudo não foi nada disso que aconteceu. No caso português, o que vimos foi a oferta de taxas de juro bonificadas para empréstimos à habitação, permitindo que qualquer português que começasse a trabalhar (ou estivesse empregado) tivesse a possibilidade de comprar um apartamento, pagando um valor mensal ao Banco pelo empréstimo inferior ao valor que teria de pagar a um senhorio pelo aluguer duma casa. Isso veio demonstrar que já nessa altura as reformas no mercado de arrendamento e no mercado de trabalho já pecavam por tardias. Reformas essas que, em Portugal, só com governos de maioria absoluta se podem realizar.
Esse período continuava também a ser caracterizado por a maioria das empresas fazer aumentos de salário indexados à inflação esperada em vez de indexá-los à produtividade.
Como foi um período em que as medidas de desvalorização da moeda disfarçavam a má gestão e fraca produtividade das empresas exportadoras.
Conclusão: Os males que tanto eram falados/criticados à governação desse período também deveriam ter sido repartidos pelas ações que empresas e famílias andaram a fazer em termos de endividamento e que a crise de 2003 (associada por uns ao petróleo e por outros à “bolha da internet”).


Exemplo 2: Aumento da Taxa Social Única defendida por Vítor Gaspar em 2012

Em primeiro lugar temos de contextualizar Portugal em 2012.
Por força do crash de 2007, a crise cíclica foi antecipada em quase 5 anos. Portugal já estava nessa altura a adotar medidas por défice excessivo e incumprimento do P.E.C., contudo sem ainda fazer as reformas no mercado de arrendamento e mercado de trabalho necessárias. O governo da época investiu nas energias alternativas e no Simplex como dois exemplos de vias para diminuir a despesa pública sem causar estragos sociais. Como consequência do Crash, teve-se de tomar medidas, que nem sempre foram as melhores, por forma a salvaguardar o setor bancário. Entre 2007 e 2009, a taxa de desemprego já rondava os 9% e as medidas a tomar teriam de ser por via de aumento de investimento público e injeção de dinheiro na Zona euro por parte do BCE (a Reserva Federal Norte-americana não pensou duas vezes em adotar a medida de desvalorização da moeda, ao contrário do BCE).
Acontece que Portugal, por via de estar numa situação de incumprimento, ficou debaixo de fogo por parte dos credores internacionais quando começou, a partir de 2009 (ano de eleições), a aumentar a dívida para combater as elevadas taxas de desemprego. Estágios remunerados para recém-licenciados foi um dos exemplos dessas medidas.
A dívida chegou a um ponto que no final de 2010 os juros no mercado de dívida pública já ultrapassavam os 7%. Era necessária a intervenção da troika (e o facto do governo de 2009 já não ser de maioria absoluta ajudou a que houvesse pressão politica para a sua vinda).
Lá Portugal e os restantes países da Europa do Sul foram pressionados a adotar medidas contracionistas num período do ciclo económico em que se pedia medidas expansionistas.
Medidas que diminuíssem a procura interna, como aumento de impostos, de forma a diminuir o Consumo (por via da diminuição do rendimento disponível) e diminuir a necessidade de bens importados (a oferta externa) eram uma das exigências por parte da troika - que defendia medidas que atuassem 2/3 nas despesas e 1/3 nas receitas.
A má previsão por parte de Vítor Gaspar da taxa de desemprego para 2012 (que ficou mais alta do que estava prevista) teve como consequência não só uma maior diminuição das receitas para a Segurança Social como também um aumento da despesa em prestações sociais de desemprego.
A medida de aumento das TSU (18% + 18%) parecia ser uma decisão que agrada à troika e corrigia o erro de previsão em simultâneo, sem que os CUT aumentassem (dado que para as empresas havia a diminuição de 23,75% para 18%). A força das manifestações prevaleceu relativamente a esta medida e, como tal, tomou-se uma decisão com grau de equivalência parecido que foi o aumento do IRS.


Agora sim, vamos aos Custos Unitários do Trabalho:

A fórmula é: CUT = (Custo por trabalhador) / Produtividade

Já desde os anos 90 que deveríamos ver as empresas a gerirem no sentido de maximizar a produtividade de cada um dos seus trabalhadores, com os salários indexados à produtividade. Nos dias que correm as empresas portuguesas, ou estrangeiras que laboram em Portugal, que fazem este tipo de gestão são as que conseguem ser mais competitivas, apresentando CUT baixos por via de um denominador mais elevado que o numerador, sem que para isso tenham de adotar salários baixos. Um exemplo desse tipo de empresa é a Microsoft Portugal.

São estes os exemplos que devem ser seguidos por todas as empresas, com os gestores a serem bons líderes e não apenas bons gestores.
Se os factos indicam isso, significa que medidas fiscais com vista à diminuição do numerador nunca seriam suficientes, tendo em conta o fraco rendimento disponível existente.
E sobre estes assuntos é tudo por agora.

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