PROCURA
GLOBAL, OFERTA GLOBAL E CICLOS REAIS DE NEGÓCIOS
No nosso dia-a-dia temos
assistido (lido e visto) a expressões como ”medidas em contraciclo”, “estímulo
a procura interna como estratégia para diminuir desemprego”, “a problemática da
sustentabilidade da Segurança Social e a queixa por parte de gestores e seus
representantes de Custos Unitários do Trabalho (CUT) elevados” para não falar
da questão de termos uma dívida pública que ronda os 130% do PIB (embora o
défice primário tenha vindo a descer).
Neste texto irei abordar
algumas destas questões.
Começando pela Procura
Global:
Esta é a soma da Procura Interna
com a Procura Externa, onde a Procura Interna mede o consumo de bens e serviços
produzidos internamente e a procura externa mede o valor das nossas
exportações.
Em termos de fórmula:
Procura Interna = Consumo (C)
+ Investimento (I) + Gastos (G)
Procura Externa = Exportações
(X)
Procura Global = C + I + G +
X
Passemos agora à Oferta
Global:
Esta é a soma da Oferta
Interna com a Oferta Externa, onde a Oferta Interna é o PIB a preços de mercado
(PIBpm) e a Oferta Externa são as Importações (F). Em termos de fórmula:
Oferta Interna = PIBpm
Oferta Externa = Importações
(F)
Oferta Global = PIBpm + F
Em equilíbrio:
Oferta Global = Procura Global
PIBpm + F = C + I + G + X ó PIBpm = C + I + G + X – F
Relativamente aos Ciclos
Reais de Negócios:
Uma das bibliografias que explica bem este
tema é o livro “ECONOMIA” de Paul Samuelson e William Nordhaus. Os autores
expõem a evolução do PIB norte-americano ao longo do século XX em termos
gráficos, mostrando, dessa forma que a economia funciona de forma cíclica, com
períodos de expansão e recessão e cada ciclo dura entre 8 a 10 anos.
Em cada ciclo económico
existe um pico em que o PIB é máximo e outro em que o PIB é mínimo. O ciclo
económico seguinte será caracterizado de uma forma semelhante mas o ano em que
o PIB é máximo no ciclo seguinte é sempre superior ao PIB máximo do ciclo económico
anterior. Como bem sabemos, o 1º ciclo económico completo do século XXI foi o
primeiro em que o PIB máximo foi inferior (uma exceção à regra em que o crash e
as medidas que se implementaram, especialmente na Europa, no período pós-crash
não são isentas de culpa).
Até 2006/2007, associava-se
as crises cíclicas a factos igualmente cíclicos com as crises petrolíferas,
guerras e até os de Wall Street conseguiam associá-las às “bolhas”. A história
universal mostra-nos que esse comportamento cíclico da economia é um facto real
- não é preciso fazer muito esforço para chegar à conclusão que a Primavera
Árabe (começada no final do ano 2010 e que ainda continua) seria associada a
nova crise cíclica se a Europa não tivesse, nesse período, a “ressacar” do
crash, por ter optado por políticas de Poupança num período do ciclo económico
em que se deveria fazer investimento público e/ou injeção de moeda por parte do
Banco Central Europeu.
Considerando o ciclo
económico completo ser em média 9 anos (4,5 + 4,5) e os anos 2011 e 2012 os
mais críticos antes do aparecimento do ISIL (Estado Islâmico do Iraque e do
Levante), se somarmos 4,5 anos o resultado é o início do 2º semestre de 2016
como o novo período de vacas magras. Ou seja, atualmente estamos a atravessar o
período cíclico de vacas gordas (período em que se deve poupar) e a partir de
Julho de 2016 as medidas de investimento público e/ou equivalentes a
investimento público são as que deverão prevalecer.
Agora antes de falar sobre
Segurança Social e Custos Unitários do Trabalho (CUT) vou relembrar quais são
as restrições/exigências que o pacto de estabilidade e Crescimento impõe a cada
país da União Europeia;
- Ter uma dívida pública em percentagem do PIB não superior a 60%;
- Um défice público não superior a 3%;
- A inflação de cada estado-membro não ser nem inferior nem superior a 1,5% da taxa de inflação média da União Europeia;
Após relembrar isto, vamos
ter em atenção o facto de a economia funcionar de forma cíclica, que existe um
período de expansão e outro de recessão por cada ciclo, que as medidas de
política económica devem ser adequadas à fase do ciclo económico para que não
se adotem novamente medidas em contraciclo.
Tendo em conta as exigências
do P.E.C., isto significa que no caso do peso da dívida pública, no período do
ciclo económico de expansão este não só deve ser inferior a 60% do PIB, como
também que essa diferença seja o valor máximo de poupança que o Estado pode
usar para investimento público no período recessivo - para que não seja
ultrapassada a barreira dos 60% do PIB neste período (atualmente ronda os 130%,
mais que o dobro).
Agora sim, já se pode
relembrar algumas medidas do passado.
Exemplo1:
A engorda do Estado em custos com pessoal no período da 2ª governação de
António Guterres.
Uma das primeiras coisas a
avaliar é em que período do ciclo económico a medida foi adotada? Uma outra
questão que se levanta é: em termo de política monetária, o que estava a
suceder na União Europeia? Uma última questão seria: estaria a Portugal a
cumprir o P.E.C.?
Relativamente ao ciclo
económico, esta medida foi tomada em contraciclo (dado ter sido aplicada nos
últimos anos de vacas gordas do século XX e nos dois primeiros do século XXI).
O raciocínio até se
compreende, pois nesse período a dívida pública não estava acima dos 60% do PIB
e o objetivo desta medida era o de combater o desemprego, que baixou até aos 4%
naquela época, e com a diminuição do desemprego também diminuir o valor que o
Estado estava a gastar em subsídios de desemprego e aumentar o rendimento disponível
dos particulares obtendo, desta forma, mais receitas por via do aumento do
consumo. Contudo, o possível aumento das receitas em impostos não foi
suficiente para compensar o aumento da despesa e o resultado foi ultrapassar a
barreira dos 3% em termos de défice (o site www.pordata.pt
está bastante acessível para a consulta destes e outros dados macroeconómicos).
Se este tipo de medida tivesse sido feito no período recessivo, o impacto não
seria tão negativo pois estava em concordância com o ciclo económico (embora
aumentar o nº de funcionários do Estado não seja exemplo de investimento
público).
E relativamente à política
monetária, como estávamos?
Foi um período de taxas de
juro baixíssimas, que se partia do pressuposto que o objetivo seria o de
oferecer às empresas mais uma ferramenta para melhor se prepararem para a
entrada na Zona Euro e para o efeito negativo da Globalização, contudo não foi
nada disso que aconteceu. No caso português, o que vimos foi a oferta de taxas
de juro bonificadas para empréstimos à habitação, permitindo que qualquer
português que começasse a trabalhar (ou estivesse empregado) tivesse a
possibilidade de comprar um apartamento, pagando um valor mensal ao Banco pelo
empréstimo inferior ao valor que teria de pagar a um senhorio pelo aluguer duma
casa. Isso veio demonstrar que já nessa altura as reformas no mercado de
arrendamento e no mercado de trabalho já pecavam por tardias. Reformas essas
que, em Portugal, só com governos de maioria absoluta se podem realizar.
Esse período continuava
também a ser caracterizado por a maioria das empresas fazer aumentos de salário
indexados à inflação esperada em vez de indexá-los à produtividade.
Como foi um período em que
as medidas de desvalorização da moeda disfarçavam a má gestão e fraca
produtividade das empresas exportadoras.
Conclusão: Os males que
tanto eram falados/criticados à governação desse período também deveriam ter
sido repartidos pelas ações que empresas e famílias andaram a fazer em termos
de endividamento e que a crise de 2003 (associada por uns ao petróleo e por
outros à “bolha da internet”).
Exemplo
2: Aumento da Taxa Social Única defendida
por Vítor Gaspar em 2012
Em primeiro lugar temos de
contextualizar Portugal em 2012.
Por força do crash de 2007,
a crise cíclica foi antecipada em quase 5 anos. Portugal já estava nessa altura
a adotar medidas por défice excessivo e incumprimento do P.E.C., contudo sem
ainda fazer as reformas no mercado de arrendamento e mercado de trabalho
necessárias. O governo da época investiu nas energias alternativas e no Simplex
como dois exemplos de vias para diminuir a despesa pública sem causar estragos
sociais. Como consequência do Crash, teve-se de tomar medidas, que nem sempre
foram as melhores, por forma a salvaguardar o setor bancário. Entre 2007 e
2009, a taxa de desemprego já rondava os 9% e as medidas a tomar teriam de ser
por via de aumento de investimento público e injeção de dinheiro na Zona euro
por parte do BCE (a Reserva Federal Norte-americana não pensou duas vezes em
adotar a medida de desvalorização da moeda, ao contrário do BCE).
Acontece que Portugal, por
via de estar numa situação de incumprimento, ficou debaixo de fogo por parte
dos credores internacionais quando começou, a partir de 2009 (ano de eleições),
a aumentar a dívida para combater as elevadas taxas de desemprego. Estágios
remunerados para recém-licenciados foi um dos exemplos dessas medidas.
A dívida chegou a um ponto
que no final de 2010 os juros no mercado de dívida pública já ultrapassavam os
7%. Era necessária a intervenção da troika (e o facto do governo de 2009 já não
ser de maioria absoluta ajudou a que houvesse pressão politica para a sua
vinda).
Lá Portugal e os restantes
países da Europa do Sul foram pressionados a adotar medidas contracionistas num
período do ciclo económico em que se pedia medidas expansionistas.
Medidas que diminuíssem a
procura interna, como aumento de impostos, de forma a diminuir o Consumo (por
via da diminuição do rendimento disponível) e diminuir a necessidade de bens
importados (a oferta externa) eram uma das exigências por parte da troika - que
defendia medidas que atuassem 2/3 nas despesas e 1/3 nas receitas.
A má previsão por parte de
Vítor Gaspar da taxa de desemprego para 2012 (que ficou mais alta do que estava
prevista) teve como consequência não só uma maior diminuição das receitas para
a Segurança Social como também um aumento da despesa em prestações sociais de
desemprego.
A medida de aumento das TSU
(18% + 18%) parecia ser uma decisão que agrada à troika e corrigia o erro de
previsão em simultâneo, sem que os CUT aumentassem (dado que para as empresas
havia a diminuição de 23,75% para 18%). A força das manifestações prevaleceu
relativamente a esta medida e, como tal, tomou-se uma decisão com grau de
equivalência parecido que foi o aumento do IRS.
Agora sim, vamos aos Custos
Unitários do Trabalho:
A fórmula é: CUT = (Custo
por trabalhador) / Produtividade
Já desde os anos 90 que deveríamos
ver as empresas a gerirem no sentido de maximizar a produtividade de cada um
dos seus trabalhadores, com os salários indexados à produtividade. Nos dias que
correm as empresas portuguesas, ou estrangeiras que laboram em Portugal, que
fazem este tipo de gestão são as que conseguem ser mais competitivas, apresentando
CUT baixos por via de um denominador mais elevado que o numerador, sem que para
isso tenham de adotar salários baixos. Um exemplo desse tipo de empresa é a
Microsoft Portugal.
São estes os exemplos que
devem ser seguidos por todas as empresas, com os gestores a serem bons líderes
e não apenas bons gestores.
Se os factos indicam isso,
significa que medidas fiscais com vista à diminuição do numerador nunca seriam
suficientes, tendo em conta o fraco rendimento disponível existente.
E sobre estes assuntos é
tudo por agora.
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