quarta-feira, 6 de maio de 2015

A (MINHA) HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÓMICO - O EMPREEDEDORISMO DE JOSEPH SCHUMPETER



JOSEPH SCHUMPETER
Schumpeter construiu um sistema teórico para explicar os ciclos económicos e a teoria do desenvolvimento económico. O principal processo na mudança económica é a introdução de inovações e a inovação central é o empreendedor. A inovação é definida como mudanças nos métodos de oferta de mercadorias, por exemplo, a introdução de novos bens ou novos métodos de produção; a abertura de novos mercados, conquistando novas fontes de suprimento de matéria-prima ou bens semimanufaturados, ou a reorganização da indústria, como a criação ou quebra de um monopólio. A inovação é muito mais do que invenção. A invenção só se torna inovação somente quando é aplicada a processos industriais.
O empreendedor é a pessoa que executa novas combinações e introduz inovações. Nem todos os dirigentes das empresas, gerentes ou industriais são empreendedores, porque podem estar a gerir um negócio sem tentar novas ideias ou novas maneiras de fazer as coisas. Os empreendedores devem ter apenas ligações temporárias com as empresas (…), são sempre pioneiros na introdução de novos produtos, novos processos e novas formas de organização comercial ou na penetração de novos mercados. São pessoas com excecionais habilidades, que aproveitam ao máximo as oportunidades que passam despercebidas por outras ou que criam oportunidades por meio da ousadia e da imaginação.
Sem inovação a vida económica atingiria um equilíbrio estático e seu fluxo circular seguiria essencialmente os mesmos canais, ano após ano. Os lucros e os juros desapareceriam e a acumulação de riqueza cessaria. O empreendedor, em busca de lucro com a inovação, transforma essa situação estática no processo dinâmico de desenvolvimento económico. Esta pessoa interrompe o fluxo circular e desvia o trabalho e a terra para o investimento. Como as economias geradas pelo fluxo circular são inadequadas, o empreendedor confia no crédito para oferecer os meios à sua empresa. O desenvolvimento económico resultante surge do próprio sistema económico, em vez de ser imposto externamente.
As inovações não ocorrem de forma contínua, mas ocorrem em grupos. As atividades da maioria dos empresários empreendedores e arrojados criam um clima favorável em que os outros podem segui-los. O crédito expande-se, os preços e o rendimento aumentam e a prosperidade prevalece. Mas não para sempre. O boom económico gera condições desfavoráveis para o seu progresso contínuo. O aumento nos preços desvia o investimento e a concorrência entre produtos novos e antigos causa perdas económicas. Quando os empresários pagam as suas dívidas, o processo deflacionário é intensificado e a recessão substitui a prosperidade. As instabilidades económicas representam, portanto, o processo de adaptação à inovação. O sistema tende ao equilíbrio, e são as inovações que quebram essa tendência. O processo que gera desenvolvimento económico também gera instabilidades, e cada recessão representa uma luta a favor de um novo equilíbrio.
(…) As bases económicas e sociais do capitalismo estão a começar a desintegrar-se, afirmou Schumpeter, devido (1) à obsolescência das funções empreendedoras, (2) à destruição das classes políticas protecionistas e (3) à destruição da estrutura institucional da sociedade capitalista.

Obsolescência da função empreendedora. A função empreendedora está a tornar-se cada vez mais obsoleta. Dessa forma, as bases económicas e sociais do capitalismo estão-se a degenerar. A inovação está a reduzir-se à rotina. O progresso tecnológico está a tornar-se cada vez mais o negócio de equipas de especialistas treinados que verificam o que é necessário e fazem com que funcione de maneiras previsíveis. O progresso económico está a tornar-se despersonalizado e automatizado. O trabalho de agências e comités substitui a ação individual. Os empreendedores não têm mais oportunidades de entrar em cena; estão a tornar-se apenas gestores, pessoas nem sempre difíceis de serem substituídas (…)
(…) Destruição das classes políticas. A destruição das classes políticas, que ofereciam a maior defesa da sociedade capitalista, representa o segundo motivo para a autodestruição do sistema capitalista. Schumpeter concordava com Marx que a grande empresa destrói as pequenas e as médias empresas. Na política democrática, esse processo enfraquece a posição política da burguesia industrial, porque vários proprietários de pequenas empresas são mais poderosos politicamente do que poucos executivos assalariados e grandes acionistas, (…)
(…) Destruição da estrutura institucional. O terceiro motivo para a desintegração das bases do capitalismo está na destruição da estrutura institucional da sociedade capitalista. O grande mérito do argumento da estagnação é o seu reconhecimento da verdade inegável de que, diferentemente de outros sistemas económicos, o sistema capitalista é movido a incessantes mudanças económicas. O capitalismo implica revoluções industriais recorrentes, que são a principal fonte de lucro e interesse por parte dos empresários e dos capitalistas. O núcleo válido da análise sobre a estagnação depende da inadaptação das expetativas de lucro como base dos investimentos insuficientes e do emprego. Esses problemas económicos foram gerados por políticas anticapitalistas adotadas na maioria dos países europeus desde a 1ª Guerra Mundial e, nos E.U.A., desde 1933 – políticas que aumentaram os números do desemprego dos anos de 1930 acima do que deveriam. Essas políticas incluem impostos mais altos e progressivos que impedem acumulação de poupança privada; gastos públicos; legislação que trata de questões de salários, horas de trabalho e disciplina na esfera política e regulamentação severa do comportamento das grandes empresas sob ameaça de execução (…) A atividade bancária e as finanças privadas não terão mais nenhum papel a desempenhar num mundo, em termos económicos, dependente do sistema de financiamento do governo que é totalmente independente das poupanças voluntárias privadas. Os gastos do governo como uma política permanente das poupanças voluntárias privadas. Os gastos do governo como uma política permanente evoluirão para um plano de investimentos estatal. (…) Esse será o “capitalismo dirigido”, que se transformará em “capitalismo estatal” quando algumas medidas de nacionalização forem adotadas. Schumpeter definiu o capitalismo estatal como posse e gestão por parte do governo de setores selecionados do mercado, controle completo no mercado de trabalho e de capital, bem como iniciativa governamental nas empresas nacionais e estrangeiras. (…) Esse estado sofrerá de desinteligência e ineficiência, o que poderá ser eliminado com a volta ao capitalismo puro ou com a volta resoluta ao socialismo pleno. Por outro lado, Schumpeter acreditava que o capitalismo estatal poderia conservar muitos valores humanos que sucumbiriam nos sistemas alternativos.

Schumpeter e Destruição Criativa
A visão neoclássica sobre a concorrência é a de várias empresas a venderem produtos idênticos ou similares. Quando as empresas de um mercado especifico obtêm grandes lucros, surgem novas empresas. Essa entrada no mercado aumenta a oferta de produtos, o que reduz o preço do produto e causa queda dos lucros aos seus níveis normais. A concorrência, portanto, beneficia os consumidores, produzindo preço que são suficientemente justos para cobrir os custos de produção marginais e médios dos produtores, incluindo os lucros normais.
A concorrência beneficia a sociedade, canalizando os seus recursos para usos de maior valor.
Nessa visão neoclássica da concorrência, o monopólio é prejudicial aos consumidores e à sociedade. Os monopolistas definem preços mais altos que os da concorrência, resultando numa produção menor que a da concorrência e uma sublocação de recursos para o produto monopolizado. Por esses motivos os países têm leis antitrust que proíbem que as empresas dominantes assumam práticas como, por exemplo, estabelecer preços para eliminar concorrentes, exigir que os clientes comprem exclusivamente delas, comprar ou fundir-se com os concorrentes ou reprimir a entrada de possíveis concorrentes no mercado.(…) Schumpeter tinha uma visão mais ampla sobre a concorrência e o monopólio. Ele enfatizava que a concorrência é um processo a longo prazo em que as empresas competem desenvolvendo totalmente novos produtos e processos. O monopólio não se pode manter por longos períodos porque os seus preços e lucros criam um incentivo poderoso para que os empresários concorrentes produzam novos produtos e descubram novos métodos de produção. Consequentemente, essa inovação empresarial resulta em destruição criativa: ela simultaneamente cria novos produtos e métodos de produção e destrói a força de monopólio existente. (…) A implicação política dessa visão a longo prazo difere da visão neoclássica. Se a destruição criativa é uma parte inevitável do capitalismo dinâmico, a monopolização de um mercado é de pouca preocupação. Consequentemente, novos empreendedores desenvolverão novos produtos e métodos que tornam o antigo monopólio inofensivo. (…) Na opinião de Schumpeter, o governo não precisa colocar um fim ou restringir um monopólio já existente, porque o monopólio é parte do processo competitivo dinâmico a longo prazo. Todos os monopólios são temporários, a menos que o governo os proteja.

Schumpeter em retrospeto
Na perspectiva de hoje, fica claro que Schumpeter, assim como Marx, era muito pessimista em relação ao futuro próximo do capitalismo. Desde a época em que Schumpeter escreveu, o capitalismo continua a expandir-se e a prosperar em muitas partes do mundo. Além disso, a queda do comunismo levou diversas ex-economias socialistas a abraçar o capitalismo como a última meta dos seus esforços reformistas. O empreendedorismo tem prosperado no mundo, conforme se evidencia pelo grande sucesso de algumas empresas novas e pela grande inovação relacionada à computação pessoal, comunicações, engenharia genética e internet.
A contribuição geral de Schumpeter para a economia consiste (…) (mais) na sua enfase da importância dos empreendedores e das inovações para se alcançar o crescimento económico. Novas e melhores tecnologias, muitas delas comercializadas por empreendedores, explicam boa parte do crescimento económico dos países industrializados desenvolvidos.







Bibliografia:
Historia do pensamento económico, Stanley L. Brue, Capitulo 23

Sem comentários:

Enviar um comentário