JOSEPH SCHUMPETER
Schumpeter construiu um sistema
teórico para explicar os ciclos económicos e a teoria do desenvolvimento
económico. O principal processo na mudança económica é a introdução de
inovações e a inovação central é o empreendedor. A inovação é definida como
mudanças nos métodos de oferta de mercadorias, por exemplo, a introdução de
novos bens ou novos métodos de produção; a abertura de novos mercados,
conquistando novas fontes de suprimento de matéria-prima ou bens
semimanufaturados, ou a reorganização da indústria, como a criação ou quebra de
um monopólio. A inovação é muito mais do que invenção. A invenção só se torna
inovação somente quando é aplicada a processos industriais.
O empreendedor é a pessoa que
executa novas combinações e introduz inovações. Nem todos os dirigentes das
empresas, gerentes ou industriais são empreendedores, porque podem estar a
gerir um negócio sem tentar novas ideias ou novas maneiras de fazer as coisas.
Os empreendedores devem ter apenas ligações temporárias com as empresas (…),
são sempre pioneiros na introdução de novos produtos, novos processos e novas
formas de organização comercial ou na penetração de novos mercados. São pessoas
com excecionais habilidades, que aproveitam ao máximo as oportunidades que
passam despercebidas por outras ou que criam oportunidades por meio da ousadia
e da imaginação.
Sem inovação a vida económica
atingiria um equilíbrio estático e seu fluxo circular seguiria essencialmente
os mesmos canais, ano após ano. Os lucros e os juros desapareceriam e a
acumulação de riqueza cessaria. O empreendedor, em busca de lucro com a
inovação, transforma essa situação estática no processo dinâmico de
desenvolvimento económico. Esta pessoa interrompe o fluxo circular e desvia o
trabalho e a terra para o investimento. Como as economias geradas pelo fluxo
circular são inadequadas, o empreendedor confia no crédito para oferecer os
meios à sua empresa. O desenvolvimento económico resultante surge do próprio
sistema económico, em vez de ser imposto externamente.
As inovações não ocorrem de forma
contínua, mas ocorrem em grupos. As atividades da maioria dos empresários
empreendedores e arrojados criam um clima favorável em que os outros podem
segui-los. O crédito expande-se, os preços e o rendimento aumentam e a prosperidade
prevalece. Mas não para sempre. O boom económico gera condições desfavoráveis
para o seu progresso contínuo. O aumento nos preços desvia o investimento e a
concorrência entre produtos novos e antigos causa perdas económicas. Quando os
empresários pagam as suas dívidas, o processo deflacionário é intensificado e a
recessão substitui a prosperidade. As instabilidades económicas representam,
portanto, o processo de adaptação à inovação. O sistema tende ao equilíbrio, e
são as inovações que quebram essa tendência. O processo que gera
desenvolvimento económico também gera instabilidades, e cada recessão
representa uma luta a favor de um novo equilíbrio.
(…) As bases económicas e sociais
do capitalismo estão a começar a desintegrar-se, afirmou Schumpeter, devido (1)
à obsolescência das funções empreendedoras, (2) à destruição das classes
políticas protecionistas e (3) à destruição da estrutura institucional da
sociedade capitalista.
Obsolescência da função
empreendedora. A função empreendedora está a tornar-se cada vez mais
obsoleta. Dessa forma, as bases económicas e sociais do capitalismo estão-se a
degenerar. A inovação está a reduzir-se à rotina. O progresso tecnológico está
a tornar-se cada vez mais o negócio de equipas de especialistas treinados que
verificam o que é necessário e fazem com que funcione de maneiras previsíveis.
O progresso económico está a tornar-se despersonalizado e automatizado. O
trabalho de agências e comités substitui a ação individual. Os empreendedores
não têm mais oportunidades de entrar em cena; estão a tornar-se apenas
gestores, pessoas nem sempre difíceis de serem substituídas (…)
(…) Destruição das classes políticas.
A destruição das classes políticas, que ofereciam a maior defesa da sociedade
capitalista, representa o segundo motivo para a autodestruição do sistema
capitalista. Schumpeter concordava com Marx que a grande empresa destrói as
pequenas e as médias empresas. Na política democrática, esse processo
enfraquece a posição política da burguesia industrial, porque vários
proprietários de pequenas empresas são mais poderosos politicamente do que
poucos executivos assalariados e grandes acionistas, (…)
(…) Destruição da estrutura institucional.
O terceiro motivo para a desintegração das bases do capitalismo está na destruição
da estrutura institucional da sociedade capitalista. O grande mérito do
argumento da estagnação é o seu reconhecimento da verdade inegável de que,
diferentemente de outros sistemas económicos, o sistema capitalista é movido a
incessantes mudanças económicas. O capitalismo implica revoluções industriais
recorrentes, que são a principal fonte de lucro e interesse por parte dos
empresários e dos capitalistas. O núcleo válido da análise sobre a estagnação
depende da inadaptação das expetativas de lucro como base dos investimentos
insuficientes e do emprego. Esses problemas económicos foram gerados por
políticas anticapitalistas adotadas na maioria dos países europeus desde a 1ª
Guerra Mundial e, nos E.U.A., desde 1933 – políticas que aumentaram os números
do desemprego dos anos de 1930 acima do que deveriam. Essas políticas incluem
impostos mais altos e progressivos que impedem acumulação de poupança privada;
gastos públicos; legislação que trata de questões de salários, horas de
trabalho e disciplina na esfera política e regulamentação severa do
comportamento das grandes empresas sob ameaça de execução (…) A atividade
bancária e as finanças privadas não terão mais nenhum papel a desempenhar num
mundo, em termos económicos, dependente do sistema de financiamento do governo
que é totalmente independente das poupanças voluntárias privadas. Os gastos do
governo como uma política permanente das poupanças voluntárias privadas. Os
gastos do governo como uma política permanente evoluirão para um plano de
investimentos estatal. (…) Esse será o “capitalismo dirigido”, que se
transformará em “capitalismo estatal” quando algumas medidas de nacionalização
forem adotadas. Schumpeter definiu o capitalismo estatal como posse e gestão
por parte do governo de setores selecionados do mercado, controle completo no
mercado de trabalho e de capital, bem como iniciativa governamental nas
empresas nacionais e estrangeiras. (…) Esse estado sofrerá de desinteligência e
ineficiência, o que poderá ser eliminado com a volta ao capitalismo puro ou com
a volta resoluta ao socialismo pleno. Por outro lado, Schumpeter acreditava que
o capitalismo estatal poderia conservar muitos valores humanos que sucumbiriam
nos sistemas alternativos.
Schumpeter e Destruição Criativa
A visão neoclássica sobre a
concorrência é a de várias empresas a venderem produtos idênticos ou similares.
Quando as empresas de um mercado especifico obtêm grandes lucros, surgem novas
empresas. Essa entrada no mercado aumenta a oferta de produtos, o que reduz o
preço do produto e causa queda dos lucros aos seus níveis normais. A
concorrência, portanto, beneficia os consumidores, produzindo preço que são
suficientemente justos para cobrir os custos de produção marginais e médios dos
produtores, incluindo os lucros normais.
A concorrência beneficia a
sociedade, canalizando os seus recursos para usos de maior valor.
Nessa visão neoclássica da
concorrência, o monopólio é prejudicial aos consumidores e à sociedade. Os
monopolistas definem preços mais altos que os da concorrência, resultando numa
produção menor que a da concorrência e uma sublocação de recursos para o
produto monopolizado. Por esses motivos os países têm leis antitrust que
proíbem que as empresas dominantes assumam práticas como, por exemplo,
estabelecer preços para eliminar concorrentes, exigir que os clientes comprem
exclusivamente delas, comprar ou fundir-se com os concorrentes ou reprimir a
entrada de possíveis concorrentes no mercado.(…) Schumpeter tinha uma visão
mais ampla sobre a concorrência e o monopólio. Ele enfatizava que a
concorrência é um processo a longo prazo em que as empresas competem
desenvolvendo totalmente novos produtos e processos. O monopólio não se pode
manter por longos períodos porque os seus preços e lucros criam um incentivo
poderoso para que os empresários concorrentes produzam novos produtos e
descubram novos métodos de produção. Consequentemente, essa inovação
empresarial resulta em destruição
criativa: ela simultaneamente cria
novos produtos e métodos de produção e destrói a força de monopólio existente. (…)
A implicação política dessa visão a longo prazo difere da visão neoclássica. Se
a destruição criativa é uma parte inevitável do capitalismo dinâmico, a
monopolização de um mercado é de pouca preocupação. Consequentemente, novos empreendedores
desenvolverão novos produtos e métodos que tornam o antigo monopólio
inofensivo. (…) Na opinião de Schumpeter, o governo não precisa colocar um fim
ou restringir um monopólio já existente, porque o monopólio é parte do processo
competitivo dinâmico a longo prazo. Todos os monopólios são temporários, a
menos que o governo os proteja.
Schumpeter em retrospeto
Na perspectiva de hoje, fica
claro que Schumpeter, assim como Marx, era muito pessimista em relação ao
futuro próximo do capitalismo. Desde a época em que Schumpeter escreveu, o
capitalismo continua a expandir-se e a prosperar em muitas partes do mundo.
Além disso, a queda do comunismo levou diversas ex-economias socialistas a
abraçar o capitalismo como a última meta dos seus esforços reformistas. O empreendedorismo
tem prosperado no mundo, conforme se evidencia pelo grande sucesso de algumas
empresas novas e pela grande inovação relacionada à computação pessoal,
comunicações, engenharia genética e internet.
A contribuição geral de
Schumpeter para a economia consiste (…) (mais) na sua enfase da importância dos
empreendedores e das inovações para se alcançar o crescimento económico. Novas
e melhores tecnologias, muitas delas comercializadas por empreendedores,
explicam boa parte do crescimento económico dos países industrializados
desenvolvidos.
Bibliografia:
Historia do pensamento económico,
Stanley L. Brue, Capitulo 23
Sem comentários:
Enviar um comentário